Lembra-nos que, na tradição dos espetáculos circenses, o elefante, animal de grande porte e muita força, permanece preso, antes da sua entrada em cena, amarrado por uma corrente e por uma estaca no solo. Uma vez que uma estaca não passa de um pequeno pedaço de madeira, e que a força da corrente não se compara à força do animal, percebemos que não será essa a verdadeira razão que mantém o elefante amarrado a uma vida de obediência e subserviência. Porque não foge, então, o elefante?
O condicionamento do elefante tem raízes profundas. O narrador conta-nos que descobriu que o elefante não foge porque desde pequeno que está amarrado à estaca. E imagina, então, o pequeno elefante tentando soltar-se de uma estaca e de uma corrente que, nessa altura, seriam demasiado fortes para si.
Assim, chega um dia em que o pequeno elefante fica verdadeiramente amarrado – pelo corpo e, sobretudo, pelo pensamento. É o dia em que desiste, o dia em que acredita que não é capaz, o dia em que aceita que o seu destino é permanecer preso. E sem sonhar que as circunstâncias mudam, pois ainda não tem experiência que o ensine, jamais volta a colocar à prova a sua capacidade e a sua força. Deixa-se estar.
O elefante não foge porque não sabe que é capaz de o fazer. E isto funciona como uma perfeita metáfora para aquilo que tantas vezes acontece nas nossas vidas: as incapacidades assumidas, as incompetências declaradas, as dificuldades percebidas, os desmerecimentos repetidos.
Muitos deles são resquícios de dificuldades precoces que hoje seriam perfeitamente ultrapassáveis. Ou porque, em pequenos, tentámos fazer valer os nossos desejos sem sucesso; ou porque alguém nos fez interiorizar, repetidamente, que não seríamos capazes ou que não merecíamos melhor; ou porque ouvimos nãos que acorrentaram todas as possibilidades. Todos esses impedimentos atrofiam-nos e são interiorizados como limitações que nem sempre correspondem à realidade. As verdadeiras correntes são as do pensamento: tudo o que nos disseram que não podíamos ser, que não podíamos ter ou que não podíamos sequer sonhar.
Há muita coisa que não está acessível ou que pode não ser alcançável. A ideia de que não há limites para o que podemos fazer é irrealista e omnipotente. Há limites, mas talvez não sejam tantos nem tão redutores quanto nos fizeram crer. Talvez o elefante não possa chegar à lua, mas não precisa de ficar amarrado àquela pequena corrente ou estaca: pode ir conhecer o mundo e descobrir um outro lugar onde lhe seja permitido ser livre e, necessariamente, mais feliz.
Psicóloga clínica e psicoterapeuta







