Chegava a ter pena daqueles que visava nos seus cartoons?
Fazia como se fosse eu que estava no lugar deles. Se eu fosse uma pessoa com responsabilidades e houvesse um cartoonista que me desse pancada, tenho a impressão de que achava graça. Isso também desarma o adversário. Quem fazia isso melhor que ninguém era o Mário Soares. Se saía um cartoon em que ele era muito mal tratado, dizia-me: ‘Tem de me dar esse cartoon’.
E chegou a dar?
Ofereci-lhe vários. Ele era um fã dos meus cartoons. Tinha a mania de me dizer sempre: ‘Cid, seja muito cruel, porque se não for cruel não tem graça nenhuma’. E eu dizia: ‘E esta? É cruel o suficiente?’. ‘Essa não é nada má’. Uma vez a Vera Lagoa ia a acompanhá-lo numa viagem de Estado e ele foi queixar-se de mim: ‘Dê ao Cid um recado meu. Ele que me faça as bochechas mais pequeninas’. Claro que a partir daí as bochechas do Soares sofreram uma dilatação enorme.