É assustador a soma da dívida privada e pública andar nos 430% do PIB


Controlado o défice, o problema da dívida tem de ser encarado de vez e sem extremismos do tipo “não pagamos”. 


1) Os dados são oficiais e até podem ser mais preocupantes, visto que remontam a meio do ano passado, quando foram divulgados pelo Banco de Portugal (BdP), não incluindo o endividamento da banca ao exterior. E é preciso dizer que o ligeiro recuo que o BdP noticiou ontem quanto à dívida pública nada muda de substancial.

O panorama é crítico e quase dá razão a José Sócrates quando explicava que a dívida não é coisa que se pague, o que, não sendo mentira, não se pode proclamar e simplificar nesses termos.

Anunciar que não se paga ou exigir uma diminuição do capital emprestado deve evitar-se por decência cívica e para não se sofrer represálias dos mercados e dos credores. No entanto, uma dívida astronómica como esta discute-se com eles e, por isso, têm toda a razão os economistas que têm recomendado essa renegociação através da descida dos juros e do alargamento dos prazos de pagamento, assim que houver condições para tal. Basta lembrar que Portugal gasta anualmente com esses juros cerca de 8 mil milhões de euros, o que é mais que o orçamento da educação nacional.

Obviamente que os especialistas defensores da renegociação falam fundamentalmente da dívida pública, que anda por uns assustadores 130% do PIB, e da do setor empresarial do Estado, porquanto os privados (que devem mais do dobro do público) fazem essa negociação diariamente para tentar minorar o seu aumento constante, fragilizando os nossos bancos.

A retoma que se está a verificar transporta, entretanto, o consumo e o recurso ao crédito para patamares próximos de 2008-2010, com um endividamento das famílias para adquirirem bens de consumo e habitações (mesmo para explorar). Essa tendência é boa para aquecer a economia, mas é péssima para o equilíbrio das contas com o exterior que, basicamente, dependem de duas ou três grandes empresas exportadoras e do turismo.

Nos primeiros meses da bem-sucedida geringonça não se detetou o excesso de consumo que se registou a partir do verão de 2016. Admite-se que tal se deveu à circunstância de as famílias terem, primeiro, aproveitado certas reposições de rendimento para fazer face a obrigações em atraso.

No campo público houve um conjunto de operações financeiras e de medidas económicas que foram transportadas para a dívida, maquilhando a realidade.

É verdade que o total da dívida mundial pública e privada vale três vezes o total da economia do planeta (sem bancos), o que a torna irrecuperável. À direita e à esquerda, ninguém sabe como resolver o problema em cada Estado e muito menos ao nível planetário, mas não deixa de ser verdade que cada país deve fazer um esforço de equilíbrio, tanto ao nível do Estado como dos particulares.

No caso de Portugal, a circunstância de estarmos na União Europeia tem permitido aguentar uma situação muito complicada, sendo de reconhecer que a melhoria sentida ao nível da economia em alguns estratos da população (os empregados e, em geral, os do Estado) resulta da ação conjugada e complementar das políticas dos governos de Passos Coelho e de António Costa.

Todavia, é importante alertar, hoje, que os excessos de rigor de ontem não podem justificar liberalidades irresponsáveis como o agravamento permanente das contas públicas através de mecanismos dilatórios por parte do Estado ou uma política de empréstimos ao consumo desmedida por parte de uma banca que mostrou nos últimos anos não ter gente à altura, nem mesmo na regulação.

2) Os alertas e caminhos apontados pelo Presidente da República na mensagem de ano novo fizeram sentido e devem ser seguidos para evitar o regresso ao filme de terror vivido quando a troika desembarcou em Lisboa, depois de Sócrates e Teixeira dos Santos terem esfrangalhado o país.

Na mensagem percebeu-se novamente que Marcelo tem mais simpatia pelas práticas de Costa que pelas de Passos, o que está em linha com o que disse em campanha e como comentador. Mas não deixa de ser um facto que o panorama interno e aquilo que se espera do reajustamento da política de compra de dívida do BCE (o banco da Europa) deverão aconselhar o Presidente a usar menos rédea solta e mais rédea curta para que não voltemos à casa de partida depois de tudo o que passámos com notável estoicismo. E, por isso, é bom recordar-lhe que o chefe do Estado é sempre corresponsável pelas políticas dos governos, a menos que delas se demarque – como o fizeram, aliás, os seus antecessores em ocasiões fundamentais. 

3) Incompetência notória do ministro Centeno e uma absoluta falta de patriotismo da parte de António Domingues definem o mais recente episódio do folhetim Caixa, que marcou o início do ano. Simplesmente vergonhoso.

4) O PSD já tem um candidato à Câmara do Porto. É estimável, tem um ótimo curriculum, mas ninguém o conhece nem na rua onde mora. Para auxiliar de memória fica o nome: Álvaro Santos Almeida.

 

Jornalista


É assustador a soma da dívida privada e pública andar nos 430% do PIB


Controlado o défice, o problema da dívida tem de ser encarado de vez e sem extremismos do tipo "não pagamos". 


1) Os dados são oficiais e até podem ser mais preocupantes, visto que remontam a meio do ano passado, quando foram divulgados pelo Banco de Portugal (BdP), não incluindo o endividamento da banca ao exterior. E é preciso dizer que o ligeiro recuo que o BdP noticiou ontem quanto à dívida pública nada muda de substancial.

O panorama é crítico e quase dá razão a José Sócrates quando explicava que a dívida não é coisa que se pague, o que, não sendo mentira, não se pode proclamar e simplificar nesses termos.

Anunciar que não se paga ou exigir uma diminuição do capital emprestado deve evitar-se por decência cívica e para não se sofrer represálias dos mercados e dos credores. No entanto, uma dívida astronómica como esta discute-se com eles e, por isso, têm toda a razão os economistas que têm recomendado essa renegociação através da descida dos juros e do alargamento dos prazos de pagamento, assim que houver condições para tal. Basta lembrar que Portugal gasta anualmente com esses juros cerca de 8 mil milhões de euros, o que é mais que o orçamento da educação nacional.

Obviamente que os especialistas defensores da renegociação falam fundamentalmente da dívida pública, que anda por uns assustadores 130% do PIB, e da do setor empresarial do Estado, porquanto os privados (que devem mais do dobro do público) fazem essa negociação diariamente para tentar minorar o seu aumento constante, fragilizando os nossos bancos.

A retoma que se está a verificar transporta, entretanto, o consumo e o recurso ao crédito para patamares próximos de 2008-2010, com um endividamento das famílias para adquirirem bens de consumo e habitações (mesmo para explorar). Essa tendência é boa para aquecer a economia, mas é péssima para o equilíbrio das contas com o exterior que, basicamente, dependem de duas ou três grandes empresas exportadoras e do turismo.

Nos primeiros meses da bem-sucedida geringonça não se detetou o excesso de consumo que se registou a partir do verão de 2016. Admite-se que tal se deveu à circunstância de as famílias terem, primeiro, aproveitado certas reposições de rendimento para fazer face a obrigações em atraso.

No campo público houve um conjunto de operações financeiras e de medidas económicas que foram transportadas para a dívida, maquilhando a realidade.

É verdade que o total da dívida mundial pública e privada vale três vezes o total da economia do planeta (sem bancos), o que a torna irrecuperável. À direita e à esquerda, ninguém sabe como resolver o problema em cada Estado e muito menos ao nível planetário, mas não deixa de ser verdade que cada país deve fazer um esforço de equilíbrio, tanto ao nível do Estado como dos particulares.

No caso de Portugal, a circunstância de estarmos na União Europeia tem permitido aguentar uma situação muito complicada, sendo de reconhecer que a melhoria sentida ao nível da economia em alguns estratos da população (os empregados e, em geral, os do Estado) resulta da ação conjugada e complementar das políticas dos governos de Passos Coelho e de António Costa.

Todavia, é importante alertar, hoje, que os excessos de rigor de ontem não podem justificar liberalidades irresponsáveis como o agravamento permanente das contas públicas através de mecanismos dilatórios por parte do Estado ou uma política de empréstimos ao consumo desmedida por parte de uma banca que mostrou nos últimos anos não ter gente à altura, nem mesmo na regulação.

2) Os alertas e caminhos apontados pelo Presidente da República na mensagem de ano novo fizeram sentido e devem ser seguidos para evitar o regresso ao filme de terror vivido quando a troika desembarcou em Lisboa, depois de Sócrates e Teixeira dos Santos terem esfrangalhado o país.

Na mensagem percebeu-se novamente que Marcelo tem mais simpatia pelas práticas de Costa que pelas de Passos, o que está em linha com o que disse em campanha e como comentador. Mas não deixa de ser um facto que o panorama interno e aquilo que se espera do reajustamento da política de compra de dívida do BCE (o banco da Europa) deverão aconselhar o Presidente a usar menos rédea solta e mais rédea curta para que não voltemos à casa de partida depois de tudo o que passámos com notável estoicismo. E, por isso, é bom recordar-lhe que o chefe do Estado é sempre corresponsável pelas políticas dos governos, a menos que delas se demarque – como o fizeram, aliás, os seus antecessores em ocasiões fundamentais. 

3) Incompetência notória do ministro Centeno e uma absoluta falta de patriotismo da parte de António Domingues definem o mais recente episódio do folhetim Caixa, que marcou o início do ano. Simplesmente vergonhoso.

4) O PSD já tem um candidato à Câmara do Porto. É estimável, tem um ótimo curriculum, mas ninguém o conhece nem na rua onde mora. Para auxiliar de memória fica o nome: Álvaro Santos Almeida.

 

Jornalista