Hoje, sabemo-lo, construiram-se auto-estradas que não precisávamos, enriquecendo uns poucos que participavam nas operações de construção. Este foi o terreno fértil das mais ruinosas PPP’s e o bordel de interesses entre governantes que assinaram contratos lesivos para o Estado e administradores de empresas que o parasitavam.
É cada vez mais notório que as “auto-estradas” de ontem são a “reabilitação urbana” de hoje. Basta notar que quem critica os processos de reabilitação urbana a decorrer nas nossas cidades é imediatamente apedrejado como se defendesse a ruína do edificado.
A maioria das grandes operações urbanas privadas a desenvolver nas áreas mais valiosas das nossas cidades históricas são processos de reconversão do edificado, mais do que reabilitação. Tantas vezes, apenas permanece uma imagem de fachada, numa grosseira interpretação de património que ainda faz lei. A quem especula com a cidade não interessa reabilitar mas atribuir ao edificado um conteúdo ou uma forma que permita extrair a máxima receita no menor período de tempo. Como a criatividade não abunda, actualmente, todos querem dançar ao som do turismo. É-lhes indiferente que, a prazo, possam vir a ter de abandonar o edifício, se se tiver pago o investimento e acumulado lucros. Com uma falência bem programada, a ruína é um problema para o Estado e cidadãos. Não para o especulador.
Ora a monofuncionalização dos centros das cidades históricas e a colocação do respectivo edificado ao serviço exclusivo do turismo não é reabilitação urbana, e até pode vir a configurar-se em urbicídio.
Importa pois, contestar visões dogmáticas sobre a reabilitação urbana que, como se tem demonstrado, pode ser utilizada para o melhor e para o pior. É decisivo perceber à priori de que lado fica o grosso das mais valias: se para o especulador, se para quem produz a cidade – o cidadão.