Donald Trump. O passeio dos lobos de Wall Street pelos jardins da Casa Branca

Donald Trump. O passeio dos lobos de Wall Street pelos jardins da Casa Branca


Todos conhecem as consequências de ter havido uma desregulação financeira: uma grave crise que ainda hoje está por resolver. Agora, Donald Trump traz a promessa de novos incentivos ligados a esse passado


A chamada main street, a mesma América que desdenha de Wall Street, elegeu Donald Trump e agora verá o seu presidente defender os grandes financeiros e capitalistas, com baixas de impostos e incentivos à desregulação financeira.

A mesma desregulação que permitiu a grande crise financeira de 2008 e anos depois ainda está por resolver.

Para além disso, a futura administração será composta por vários milionários, os mesmos que prosperam com a crise e a desregulação.

Os chamados Lobos de Wall Street, em 2017, vão estar nos jardins da Casa Branca. A verdade é que Donald Trump começou por acusar Hillary Clinton de ser muito próxima de Wall Street, mas depois de ter sido eleito o que Trump fez foi rodear-se de vários pesos pesados. Para o ajudarem na Casa Branca, foram escolhidos banqueiros e multimilionários. Isto muito embora tenha manifestado várias vezes ser contra o poderia de Wall Street e de ter chegado a argumentar que, por exemplo, ao contrário de Hillary Clinton, foi ele que financiou a sua própria campanha.

No entanto, agora, anunciados os nomes que farão parte da sua administração, dá para perceber que muitas das escolhas vão contra a promessa de campanha que visava dar um abanão ao status quo do poder nos EUA.

Um dos nomes que mais polémica gerou desde o início foi a escolha da multimilionária Betsy DeVos para a pasta da Educação. A escolha foi justificada por Donald Trump com o facto de DeVos ser uma “uma defensora brilhante e apaixonada da educação”. Mas nem todos pensam o mesmo. Várias vozes se têm levantado por considerarem que DeVos vai ter apenas um objetivo principal: desmantelar a escola pública. Ao “Guardian”, Lily Eskelsen García, presidente da Associação Nacional da Educação, explicou que “os esforços dela ao longo dos anos têm feito mais para sabotar a educação pública do que apoiar os estudantes”.

Mas DeVos está longe de ser a única multimilionária nas escolhas de Donald Trump. “Não sabemos como gastar o dinheiro que ganhamos”, diziam os protagonistas do filme de Martin Scorsese. E também nesta administração de Trump dinheiro não parece ser problema. Assim como desregulamentar tem tudo para ser uma palavra chave.

Para a pasta do Trabalho, Trump escolheu Andy Puzder, CEO de um empresa que tem vários restaurantes de fast-food, conhecidos por pagarem muito poucos aos empregados. E é do lado dos patrões que Trump está quando a questão é o mercado de trabalho. Tanto para Trump como para Puzder, a melhor forma de aumentar o número de postos de trabalho é desregulamentar o mercado e, sobretudo, dar benefícios fiscais às empresas.

O que quer Trump para a economia? O que Donald Trump tem defendido até agora preocupa muitos. Por exemplo, de acordo com a Moody’s, o que Trump defendeu durante a campanha aponta para uma recessão prolongada.

Uma das promessas de Donald Trump foi recuperar a Lei de Glass-Steagall, de 1933. A lei foi criada na era da Grande Depressão e obrigou à separação da banca de retalho da banca comercial. Mas uma outra, criada depois, acabou por permitir aos bancos criar os supermercados financeiros, como vulgarmente são chamados.

Um outro ponto que Donald Trump defendeu foi a proteção da Segurança Social, sem que para isso tenha um plano específico. A ideia que Trump foi apresentou baseia-se na certeza de que uma economia mais forte faria com que a Segurança Social se tornasse autosustentável. Como? Através do corte nos impostos de quem tem mais dinheiro e reduzindo toda a regulamentação que existe para as empresas. Nas suas palavras, “enquanto republicanos, opomo-nos a aumentos de impostos e acreditamos no poder dos mercados para criar riqueza e ajudar a assegurar o futuro do nosso sistema de Segurança Social”.

À margem disto, Trump defendeu ainda durante a campanha que muitos deveriam poder deixar de pagar impostos. Para o agora presidente, liberalizar a economia e cortar nos impostos fortalece as dinâmicas de mercado e enriquece toda a população norte-americana. 2017 dirá quem tem razão.