Pedro Passos Coelho almoça hoje com Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém. O líder da oposição aceitou o convite do Presidente da República para um encontro a sós.
O chefe de Estado está preocupado com o as tensões internas verificadas no PSD e não ignora alguma preocupação de dirigentes locais com as sondagens do partido.
As estruturas temem um mau resultado nas eleições autárquicas e, embora não haja uma maioria que pretenda contestar a direção antes da ida às urnas, a distância em relação à liderança vai aumentando. O que se passa na concelhia do PSD/Lisboa – com o vice-presidente Rodrigo Gonçalves a desafiar Passos Coelho a candidatar-se à câmara da capital e com Mauro Xavier cada vez mais longe da direção – é prova disso; mas a recolha de assinaturas para um congresso extraordinário em marcha há mais de um mês, noticiada pelo Semanário SOL, também vem atiçando o lume social-democrata.
Marcelo Rebelo de Sousa não vê o cenário com bons olhos.
Em primeiro lugar, o presidente tem uma maior proximidade a Luís Montenegro, presidente da bancada parlamentar do PSD, do que a Rui Rio, o eterno eventual candidato a líder do PSD.
Nesse sentido, tendo em conta que Montenegro, ao que o i apurou, não avançaria contra Passos em congresso, muito menos antes das autárquicas, a instabilidade contemporânea gira em torno de um nome: Rio. E não é esse o nome predileto por Rebelo de Sousa.
Em segundo lugar, o presidente fez da “estabilidade” a palavra-chave do seu mandato e – segundo um marcelista de longa-data – “isso também inclui estabilidade na oposição”.
As razões para essa estabilidade é que divergem entre as hostes sociais-democratas. Enquanto a boa relação com o governo é vista por uns como uma aposta em conseguir o apoio do PS nas próximas presidenciais e conseguir uma maioria absoluta de valor histórico, outros também lembram que Marcelo não deve “afastar-se demasiado” daquele que, afinal, é o seu partido.
“Ele apadrinhou o governo porque quer uma maioria absoluta de quase unanimidade, mas tem que ter cuidado com as farpas ao PPD. Os passistas nunca gostaram dele, mas há marcelistas que começam a desiludir-se”, nota um senador social-democrata, ao i.
“Não creio que este almoço seja de ‘apoio’ a Passos por uma razão muito simples; Passos não precisa de apoio nenhum. Tem o partido na mão até às autárquica”, defende também a fonte. “Se quisermos dar simbologia à refeição, que seja um pedido de desculpas. O que se passou no 1º de Dezembro não foi bonito”, recorda, concluindo.
Nas comemorações do feriado da Restauração da Independência, a que Pedro Passos Coelho não compareceu, o Presidente da República afirmou que o feriado “nunca deveria ter sido suspenso”, o que soou como uma crítica bem direta ao anterior governo, que fora liderado precisamente por Passos Coelho.
Dias depois, Passos reagira, soltando numa conferência que “ainda bem que [Marcelo] não é presidente do PSD”.
A ver se o almoço enterra o machado de guerra. O ambiente, hoje, será frio. Quase tão frio quanto uma vichyssoise.