O ano de 2016 deixa-nos, fundamentalmente, dois momentos que se vão estudar nos livros da história.
O primeiro é a vitória do Brexit em Inglaterra num referendo para saída da União Europeia, onde os medos e a mentira foram utilizados sem remorso ou vergonha como suporte de campanhas negras eleitorais.
Quatro meses depois, o segundo. A eleição de Trump para presidente dos EUA contra tudo e contra todos.
O “Take back control” da campanha do Brexit, tinha muitas similitudes com o “Make America great again” das camisolas dos comícios de Donald Trump. E não deixa de ser merecedor de reflexão, que os dois países que têm sido os maiores promotores da ordem liberal, sejam os que agora na afirmação destes resultados políticos, apareçam a recusá-la.
Populismo ou fracasso total do establishment político? Quem pensaria que depois de oito anos de um Governo de Obama que deveria trazer a paz e a justiça social, os votantes dos EUA no teriam nenhum motivo de gratidão para com ele? Quem pensava que o Partido Democrata iria perder não só a Presidência, mas também as duas câmaras do Congresso?
As análises da eleição mostram claramente, que não podemos falar de populismo, mas sim de uma notável incapacidade do Governo de Obama em fazer algo substancial para los votantes trabalhadores com baixos salários, tanto brancos como negros, que eram os apoiantes e votantes tradicionais dos democratas.
Foi 2016 o ano do populismo? Como chegámos à tempestade perfeita? E que responsabilidade temos todos no que vai acontecendo? Guardamos nós no nosso cansaço, receios, e leveza critica, também um populista?
A palavra populismo é muito inexata para este caso. Ele é uma arma ideológica, uma forma de desprezo para desqualificar qualquer expressão política e cultural que desagrade ao poder e suas elites.
Existem, no entanto, quatro razões que em conjunto levaram os votantes a apoiar candidatos inesperados, populistas.
O económico: o aumento da desigualdade e o impacto negativo da perca de trabalho.
O identitário: existe cada vez mais gente incomodada com o multiculturalismo e a exposição a novas tradições sejam culturais ou religiosas.
A alteração tecnológica: isto tem que ver com a perda de empregos, mas também com a sensação de perda de controlo de para onde vai a sociedade.
A crise da democracia representativa: a sensação cada vez maior de desarticulação e afastamento entre as elites político-económicas e os cidadãos em geral.
A situação que estamos vivendo não tem precedentes históricos. Vota-se para não fazer politica, para castigar o sistema, sem qualquer avaliação das consequências, sem plano alternativo. Não é um voto de protesto, é um voto de desprezo antipolítico.
O voto conduzido pelo populismo, vive do abstencionista letárgico.
É a vitória da não inteligência, com a projeção dos demagogos histriónicos e telegénicos. A inversão de conceitos. É o palco do infotainment.
É a vitória das posturas e lemas políticos que apelam diretamente ao medo e ao preconceito popular, ainda que saibam que a estão a mentir deliberadamente, mas tudo vale para satisfazer os sonhos dos eleitores, e privilegiar os seus instintos biológicos que são muito mais fortes que os culturais.
A comunicação social, tem um papel decisivo na batalha da informação, contra o vazio e a manipulação populista. É uma batalha entre a Informação sustentada objetiva, feita por profissionais versus a posverdade da propaganda de seita, quase sempre anónima.
O populismo alimenta-se da posverdade das “tribos mediáticas” da internet que nas redes sociais são porta vozes de qualquer um ou de qualquer coisa, com apoios- likes- e twiters garantidos em poucos segundos.
Está demonstrado que quando só lês informação que não questiona a tua ideologia tendes a reforça-la. A novidade nestes tempos é que as expressões vendidas como ideias são aceites sem criticas porque se desenvolvem em cenários virtuais onde só pululam os adeptos.
Na posverdade, os factos objetivos influem menos na formação da opinião publica que os apelos ás emoções e as crenças pessoais. No fim são afirmações sem sustentação em método cientifico, em que tudo vale, uma coisa e o seu contrário.
Para entender 2016 vamos ter que esperar para ver como se realiza o que vai ocorrer em 2017. Tudo o que vai acontecer, não esqueçamos, vai acontecer sob o império de Donald J. Trump. A história não está escrita.