1) A hipótese de se realizar um congresso antecipado do PSD é abstrusa. Desde logo porque só fazia sentido um congresso se fosse para disputar a liderança, coisa que não está em causa. Além disso, no PSD o presidente não é eleito em congresso, mas através de directas prévias. Ora ninguém neste momento tem condições para disputar a liderança a um Passos Coelho que não pretende desistir, que tem muitos apoios, que ainda controla a máquina e o aparelho e que continua a alegar que ganhou as legislativas.
Obviamente que é sempre possível reunir-se um congresso não electivo para discutir estatutos, estratégias e confrontar ideias. É verdade. Mas isso é coisa que ninguém quer nesta altura em que os putativos rivais preferem resguardar-se. Portanto, um congresso não serviria para nada a não ser para ser explorado até à exaustão pelos media, tornando-se numa benesse sem igual para António Costa, o PS e os partidos que apoiam um governo que até tem aparentemente conseguido bons resultados e uma notável estabilidade política, com ganhos de popularidade.
Juntar a isso a turbulência mediática de um pré-congresso do PPD/PSD seria uma espécie de “El Gordo” que tocaria ao já muito sortudo (porque jogador) primeiro-ministro, que até poderia simular uma crise para forçar Marcelo a convocar eleições, mesmo que a contragosto. Seria um cenário parecido ao que levou Cavaco Silva à sua primeira maioria absoluta, depois do PRD ter derrubado o seu primeiro e único governo minoritário.
Na melhor das hipóteses, o “timing” de preparação e convocação de um congresso no PSD anda sensivelmente por dois meses durante os quais o partido surgiria esfrangalhado, agravando uma situação já de si muito complicada como comprovam as sondagens mais recentes e os estudos de popularidade envolvendo Passos Coelho.
Internamente, o PSD está, de facto, numa fase crítica. Para recuperar imagem e credibilidade (sempre no pressuposto de que a liderança não está em causa) tem de moderar uma atitude sistematicamente negativa, crispada e baseada em antevisões catastrofistas, optando por uma oposição mais construtiva e dialogante. Tem ainda e sobretudo de arranjar um naipe de candidatos autárquicos potencialmente ganhadores em todo o país e nomeadamente em Lisboa, no Porto e noutras grandes cidades do país para retomar uma dinâmica positiva e mobilizadora dos seus desorientados militantes e do chamado aparelho.
Em síntese, um congresso dos sociais-democratas só faria sentido se Passos desistisse, o que não está na sua natureza. Mas mesmo que tal improbabilidade acontecesse, um novo líder não teria vantagem rigorosamente nenhuma em enfrentar autárquicas que estão tão mal encaminhadas, podendo até apanhar de permeio uma crise política artificialmente criada pelos partidos que sustentam o governo. Como sabiamente diz o nosso povo, há alturas em que para pior já basta assim.
No meio disto a notícia de que o Presidente Marcelo vai almoçar amanhã a sós com Passos Coelho suscita várias interpretações. Desde logo pode dar ideia que Marcelo funciona como aqueles escuteiros que ajudam as velhinhas a atravessar a rua (mesmo as que não querem), o que é mau para Passos. Esse tipo de apoio é dispensável para um líder da oposição que não morre de amores pelo presidente. Fica-se também com a sensação que Marcelo visa sobretudo manter o status político, pelo menos até às autárquicas. Já do lado de Passos não é de esperar que este encontro atenue as suas dúvidas e críticas à governação. O mais provável é ele aproveitar para dizer ao Presidente que o responsabiliza igualmente por uma eventual crise económica e financeira, dado o apoio permanente que tem dado ao governo, embora com a inovadora explicação que se trata de uma prática constitucional que terá com qualquer executivo. O mais certo, porém, é ser vendida a história de que se passou em revista as principais questões políticas do país durante a refeição que, dada a época, não deverá comportar vichyssoise.
2) António Costa escolheu o conhecimento como tema da sua intervenção natalícia, emitida a partir de uma escola. Foi uma opção habilidosa e recorrente nos governos. Ninguém em rigor pode estar contra esta intenção piedosa. Pode-se quando muito discordar de um ou outro pormenor da política concreta, mas não da intenção genérica. António Costa fez lembrar as misses mundo e universo que inevitavelmente desejam a paz para o mundo.
3) Qualquer jornal, rádio ou televisão refere que houve bom tempo no Natal e vai continuar até ao Ano Novo. Bom tempo? Temperaturas primaveris e sem chuva no inverno? Deveria explicar-se que este é verdadeiramente o mau tempo que augura outros piores, se não se combater de facto as alterações climáticas. Uma verdadeira política a favor do conhecimento talvez contribuísse para evitar que os comunicadores dissessem menos barbaridades sistematicamente e não só na meteorologia.