PSD, um presépio vivo


Os reis magos também não ajudam. Marcelo, cioso das suas prerrogativas na Lapa e fazendo de Melchior, ofereceu incenso ao menino, não resistiu a tirar uma selfie encarnando Baltasar


Esta é a época do ano em que se multiplicam os grandes feitos de cor, luz e som em matéria de presépios. Mas nenhum bate o presépio da rua de Santana à Lapa, o mais português dos presépios de Natal. E ainda por cima vivo.

Passos ficou no centro do presépio mais um ano, guardado por um casal moderno, que politicamente o concebeu com grande soma de pecados: Marco António, sem precisar de barba postiça e Relvas, de peruca a fazer de Maria. São um casal unido pelo desejo de conceber um outro menino já para o ano vindouro e não necessariamente com material político-genético em comum. Tudo está preparado para uma rápida rotação do berço e o surgir de um outro, num movimento cenográfico súbito e eficaz.

Montenegro e Aguiar Branco estão garantidos este ano como companhia de Jesus, ninguém os invejando nem na pose nem na função. São supostos representar o povo do Norte e o Norte gosta de ver os bichos no presépio.

Por cima do estábulo aparece Marques Mendes a fazer de estrela de Belém televisiva, intermitente e semanal, indicando o caminho e o futuro. Manuela Ferreira Leite encarna o anjo da glória mas não se entendem nos anúncios: horários diferentes, canais concorrentes…

Os reis magos também não ajudam. Marcelo, cioso das suas prerrogativas na Lapa e fazendo de Melchior, ofereceu incenso ao menino, porque devemos sempre endeusar os que vão partir e claro, não resistiu a tirar uma selfie. Costa, encarnando Baltasar e mais coerente do que Melchior, apostou na mirra, matéria indispensável ao embalsamar dos corpos. Santana, o único Deus menino cantado em hino partidário, faz de Gaspar e, apelando à fortuna do jogo, permitiu-se oferecer ouro.

Pastorinhos muitos, que o PSD quando está na oposição sempre se multiplicou em candidatos a empunhar o bordão. Ovelhinhas menos, que de tanto pastor mostraram receio. Assunção Cristas faz uma aparição como pastorinha convidada, roliça e com umas rosetas pintadas para não destoar.

Ao fundo, pela direita baixa, esconde-se Rui Rio, a tentar despir a pele de pastor e a procurar disfarçar-se de menino Jesus. Acaba por ficar a meio caminho entre as duas figuras e vai subindo o carreiro em direcção ao estábulo, arrastando aquilo que parece ser um berço.

Barroso, convicto de que não existem juízes em Berlim (nem noutros locais mais aprazíveis)  faz de moleiro, próspero e feliz, sorrindo com bonomia para as restantes figuras.

Paulo Rangel espreita por detrás de um arbusto, hesita na escolha da figurinha a encarnar. Fazendo o inventário do presépio, descobre que já só faltam os elementos do bestiário e os membros da banda de música. Dialecta e conhecedor das recolhas etnográficas germânicas, sonha com um animal cantor.

Cavaco, fugido à travessa do Possolo e aos presépios da sua Maria, aproveitou para fazer, ao que parece involuntariamente, uma homenagem à Catalunha como El Caganer.

Maria Luís Albuquerque ainda tentou apostar na lei da paridade a ver se conseguia ir a menino Jesus. Ficou como lavadeira em atenção à relevante experiência profissional em matéria de banca e de serviços financeiros.

Caro leitor não desespere. Este presépio será desmontado dentro de pouco tempo, no dia seguinte ao Dia de Reis. Muitos dos que agora encarnam as figurinhas voltarão às suas actividades habituais de barristas e bonecreiros. E, caro leitor, mantenha o optimismo. Não o quero a pensar que o presépio de 2017 será, na rua de Santana  à Lapa, mais assustador do que o actual. E este presépio tem um ambiente gore. Já imaginou o que acontecerá se as luzes se apagarem?


PSD, um presépio vivo


Os reis magos também não ajudam. Marcelo, cioso das suas prerrogativas na Lapa e fazendo de Melchior, ofereceu incenso ao menino, não resistiu a tirar uma selfie encarnando Baltasar


Esta é a época do ano em que se multiplicam os grandes feitos de cor, luz e som em matéria de presépios. Mas nenhum bate o presépio da rua de Santana à Lapa, o mais português dos presépios de Natal. E ainda por cima vivo.

Passos ficou no centro do presépio mais um ano, guardado por um casal moderno, que politicamente o concebeu com grande soma de pecados: Marco António, sem precisar de barba postiça e Relvas, de peruca a fazer de Maria. São um casal unido pelo desejo de conceber um outro menino já para o ano vindouro e não necessariamente com material político-genético em comum. Tudo está preparado para uma rápida rotação do berço e o surgir de um outro, num movimento cenográfico súbito e eficaz.

Montenegro e Aguiar Branco estão garantidos este ano como companhia de Jesus, ninguém os invejando nem na pose nem na função. São supostos representar o povo do Norte e o Norte gosta de ver os bichos no presépio.

Por cima do estábulo aparece Marques Mendes a fazer de estrela de Belém televisiva, intermitente e semanal, indicando o caminho e o futuro. Manuela Ferreira Leite encarna o anjo da glória mas não se entendem nos anúncios: horários diferentes, canais concorrentes…

Os reis magos também não ajudam. Marcelo, cioso das suas prerrogativas na Lapa e fazendo de Melchior, ofereceu incenso ao menino, porque devemos sempre endeusar os que vão partir e claro, não resistiu a tirar uma selfie. Costa, encarnando Baltasar e mais coerente do que Melchior, apostou na mirra, matéria indispensável ao embalsamar dos corpos. Santana, o único Deus menino cantado em hino partidário, faz de Gaspar e, apelando à fortuna do jogo, permitiu-se oferecer ouro.

Pastorinhos muitos, que o PSD quando está na oposição sempre se multiplicou em candidatos a empunhar o bordão. Ovelhinhas menos, que de tanto pastor mostraram receio. Assunção Cristas faz uma aparição como pastorinha convidada, roliça e com umas rosetas pintadas para não destoar.

Ao fundo, pela direita baixa, esconde-se Rui Rio, a tentar despir a pele de pastor e a procurar disfarçar-se de menino Jesus. Acaba por ficar a meio caminho entre as duas figuras e vai subindo o carreiro em direcção ao estábulo, arrastando aquilo que parece ser um berço.

Barroso, convicto de que não existem juízes em Berlim (nem noutros locais mais aprazíveis)  faz de moleiro, próspero e feliz, sorrindo com bonomia para as restantes figuras.

Paulo Rangel espreita por detrás de um arbusto, hesita na escolha da figurinha a encarnar. Fazendo o inventário do presépio, descobre que já só faltam os elementos do bestiário e os membros da banda de música. Dialecta e conhecedor das recolhas etnográficas germânicas, sonha com um animal cantor.

Cavaco, fugido à travessa do Possolo e aos presépios da sua Maria, aproveitou para fazer, ao que parece involuntariamente, uma homenagem à Catalunha como El Caganer.

Maria Luís Albuquerque ainda tentou apostar na lei da paridade a ver se conseguia ir a menino Jesus. Ficou como lavadeira em atenção à relevante experiência profissional em matéria de banca e de serviços financeiros.

Caro leitor não desespere. Este presépio será desmontado dentro de pouco tempo, no dia seguinte ao Dia de Reis. Muitos dos que agora encarnam as figurinhas voltarão às suas actividades habituais de barristas e bonecreiros. E, caro leitor, mantenha o optimismo. Não o quero a pensar que o presépio de 2017 será, na rua de Santana  à Lapa, mais assustador do que o actual. E este presépio tem um ambiente gore. Já imaginou o que acontecerá se as luzes se apagarem?