É melhor estar calado e parecer tonto de que falar e desfazer as dúvidas definitivamente.
Com alguns textos acontece o mesmo. Mobilizamos toda a nossa tolerância cristã, na expectativa de sermos, pelo menos uma vez, surpreendidos com mais de que uma coerência silábica, e zás, o trafulha do rabiscador pespega-nos nas ventas com íntima propaganda psiquiátrica, que é o que tinha mais junto ao pé com que desenha.
“Um padre estava a lembrar aos membros da sua congregação o carácter repentino da morte.
– Antes que o dia termine – exclamou, – alguém nesta paróquia irá morrer.
Uma velhota pequenina que estava sentada no banco da frente soltou uma sonora gargalhada.
Irritado, o padre perguntou:
– Qual é a piada?
– Ainda bem que não pertenço a esta paróquia – respondeu a velhota.”
Se o riso e o sorriso são sinais de inteligência, para mim, existem humanos só assim classificados por tédio e animais que só não são cronistas de imprensa por puro preconceito.
Vem isto a propósito da entrevista a Ricardo Araújo Pereira publicada neste jornal, onde este diz que: “hoje não seria possível fazer sketch sobre marrecos, coxos e mariconços”.
A afirmação terá levantado indignação á esquerda que utilizou as redes sociais para manifestar o seu desagrado. Foi o suficiente para que uns patuscos de direita exultassem como em matinée do La Féria.
Existem coitados, que têm para com a esquerda a mesma reação, que a dos mastins presos a ladrar raivosos á sombra que passa, e que soltos, despedaçam com a mesma alegre bestialidade tanto o imprudente, como a uma bola. Para a besta tudo é movimento.
Ora vamos lá recordar. Em 1979, o humorista Augusto Cid, vê dois livros apreendidos, “O Superman” e “Eanito, o estático” a pedido do então Presidente da Republica Ramalho Eanes.
Entre 1985 e 1987, o alinhamento do telejornal da RTP era enviado por fax para o gabinete do Ministro da tutela, ali retificado e reenviado para o canal, com visto bom de sua excelência de sua graça Marques Mendes.
Herman José em 1988, em plena primeira maioria de Cavaco, terminou abruptamente a transmissão dos episódios da série “Humor de Perdição”.
O Conselho de Gerência da RTP justificou o acto devido às famosas “entrevistas históricas”, escritas por Miguel Esteves Cardoso, sobre personagens da História de Portugal, serem apresentadas de forma pouco digna – com referências à suposta homossexualidade de D. Sebastião, ou á santidade da rainha Isabel.
Em1992, o subsecretário da Cultura, António Sousa Lara, vetou a candidatura do romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de José Saramago, ao Prémio Literário Europeu, justificando tal decisão dizendo que a obra não representava Portugal, mas antes, desunia o povo português.
Em 2004, houve o “caso Marcelo Rebelo de Sousa”, comentador político que, estando a trabalhar na estação televisiva TVI, recebeu pressões por parte do presidente da estação, Miguel Paes do Amaral, e do ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, para que deixasse de criticar de forma tão virulenta o governo.
Qual é o traço comum a todos estes momentos deprimentes? Se respondeu que os mandantes de serviço eram todos de direita, bingo!
Os textos são tão patetas e confusos, são tão esfomeados de protagonismo, que revelam uma categoria de direita marginal e bafienta, entre a nostalgia salazarenta, a retórica da guerra fria, e o beato com missão. Direitolas.
Ou se aproveitam, para se indignar contra o “duvidoso humor gay em relação á igreja…” com “desfiles de freiras transsexuais e padres de cabeção e em tronco nu” claro, que as crianças violadas por padres e bispos pedófilos no local onde deveriam sentir-se mais protegidas e seguras, não merecem a mesma repulsa do autor.
Outro, parte em cruzada, interrogando-se “por é que que o puritanismo – que é como quem diz: – a imunidade – está do lado da esquerda”?? A coisa aqui começa a ficar preocupante.
De seguida, lembra-nos que: “em politica, é comum lermos que um governo de esquerda tudo pode” Ler onde? Para concluir, que afinal a culpa é da direita que não assume que o é, recuperando assim o puritanismo, ou será a imunidade? Aqui paramos, pois, a confusão é tão grande que arrisca a parecer ignorância.
Quando o ressabiamento toma conta da reflexão e o preconceito é o estilo, o que fica é só farsa e tragédia.
Convivo confortável com toda a diversidade humana e as suas diferentes opções para encontrar o equilíbrio, o pleno das suas capacidades, e a felicidade. Com uma única exceção.
Anão, marreco, ou mariconço, se têm o infortúnio de ser direitolas e ainda por cima burros, não aguento e mudo para outra paróquia.
Consultor de comunicação
Escreve à quinta-feira