Fui crítico em relação a António Costa e à forma como liderou o processo para chegar a primeiro-ministro. E cético em relação a Marcelo Rebelo de Sousa e a sua magistratura em virtude dos longos anos em que o vi desdizer-se no jornal da noite da TVI.
As razões eram diferentes, naturalmente, mas assumi-o aqui, para quem quisesse ver. Deixei de estar na política ativa há alguns anos por opção, orgulho-me do parco contributo que dei enquanto socialista, mas nunca abdiquei de dar o meu contributo das mais diversas formas.
Pois bem, António Costa já ultrapassou um ano de governo, algo que previ difícil (e não deve ter sido nada fácil), e Marcelo caminha a passos largos para um ano de magistratura e tenho que reconhecer: o ar pesado e bafiento que pairava sobre a nossa sociedade desapareceu com a lufada de ar fresco (entenda-se otimismo) que a dupla Costa-Marcelo lançou no país.
Sempre critiquei a falta de otimismo e o constante fado em que os portugueses se embriagam para justificar o que de mal corre na vida. Costa e Marcelo parecem estar nas antípodas do nosso povo.
Claro que pela boca morre o peixe e o que hoje em política é uma certeza, amanhã pode já não ser. Mas porque depois é fácil criticar não queria deixar de, antes do final do ano, dar a mão à palmatória.
Não sou economista e sempre desconfiei das previsões matemáticas de orçamentos e défices, mas ao que parece havia mesmo outro caminho. Isso sempre acreditei e a forma subserviente como o anterior governo baixava a cabeça aos diktats alemães e à maioria liberal que domina a Europa sempre me incomodou. Mas lá está, era um sinal do conformismo e do bafio que dominou a anterior legislatura.
Costa não só parece estar a desbravar de forma cirúrgica e sem grandes sobressaltos o tal outro caminho, como confirmou a sua incomensurável capacidade de negociação. A prova de fogo será a renegociação da dívida. Restam-me poucas dúvidas que o vai conseguir.
Sobre Marcelo a dúvida era a sua incapacidade de controlar a hiperatividade que o caracteriza e que o levava a contradizer-se nas suas explanações. Até começou mal com a questão de admitir repensar o acordo ortográfico, para depois logo vir dizer que era uma “não questão”. Mas depois parece que encarrilhou e nunca mais ninguém o agarrou.
Distribui simpatia e otimismo por onde passa. Não recusa um dedo de conversa, uma foto ou um beijinho – numa palavra: existe!
Já esqueci a deprimente magistratura do sr. Silva. Marcelo quis e vai ficar para a história como um dos melhores Presidentes da República, à semelhança de Soares a quem desejo rápidas melhoras.
Acresce a coabitação de Costa e Marcelo. Não tenho memória de uma relação tão construtiva entre duas figuras de lados ideológicos opostos. É de salutar, espero que seja duradoura e um exemplo para o futuro, pois não durará para sempre.
E assim dou a mão à palmatória nas vésperas de um Natal que julgo será menos madrasto que os anteriores para todos nós! Feliz Natal!