Trumpices


Goste-se ou não, Trump vai ganhando espaço e elencando os pontos da sua agenda. Dúvidas houvesse quanto à ingenuidade e casualidade das suas intervenções públicas, dissipam-se.


Num estilo moderno da versão teatral que tornou notória a expressão “The pen is mightier than the sword”, foi tweetando (para quem quisesse entender) as diretrizes que iriam reger as suas políticas – interna e externa.

Agora que se vão tornando claras, não são animadoras, devo confessar. Durante a campanha atirou a matar, indiscriminadamente, qual sniper furtivo.
À cabeça, claro, Hillary e Obama, mas não só. Apresentadores, jornalistas, entrevistadores, atores, bloggers e um interminável rol de figuras (mais ou menos notáveis) valeram-lhe o que procurava: notoriedade! Não é inaptidão nem tão pouco brejeirice – é uma estratégia e valeu-lhe a vitória. Também não é novidade, pois é um decalque da estratégia de Obama, que também elegeu as redes sociais como principal veículo de comunicação – conteúdos à parte, naturalmente.

O povo que lhe deu a vitória, de uma América profunda, desgastada pela crise e distante da elite progressista (também já aqui me referi a ela), apreciou e glorificou Trump por expressar publicamente o que muita dessa gente (marginalizada e esquecida) pensa, mas não se consegue fazer ouvir.

Trump elege o Twitter como a sua pena, mas esquece-se que não está numa peça de teatro.

Um exercício interessante e que merece a atenção dos politólogos é a análise de todos os tweets de Trump nestes últimos anos (trumptwitterarchive.com).

Há lá de tudo. De superlativos pessoais a ofensas dirigidas, o Twitter de Trump é um hino à estratégia política. Estou plenamente convicto.

Convicções e consciências à parte, pouco me incomodou o que tweetava, até porque não tenho voto em matéria de eleições americanas. Contudo, a juntar aos tweets sobre a China, dos quais destaco “The concept of global warming was created by and for the Chinese in order to make U.S. manufacturing non-competitive” e “Did China ask us if it was OK to devalue their currency (making it hard for our companies to compete), to heavily tax our products going into their country (the U.S. doesn’t tax them) or to build a massive military complex in the middle of the South China Sea? I don’t think so!”, veio a primeira pedrada no charco da vida real.

Ao falar com Tsai Ing-wen, Donald Trump, ao contrário do que Mike Pence e o próprio “China Daily” (em editorial) tentaram desmistificar, não mostrou inexperiência em matéria de relações externas. Trump sabe o que fez e porque o fez. Identificou claramente (e há muito) o alvo da sua política externa: a China, a grande responsável pela desgraça americana, pela queda da indústria, pela miséria provocada pela destruição de milhares de postos de trabalho e pelo encerramento de fábricas. Música para os ouvidos dos que o elegeram. Só ainda não percebi se, no meio de tudo isto, Putin esfrega as mãos de contente ou se alinha em conluio.

Acumulam-se as trumpices, mas tornam-se preocupantes quando saem do mundo virtual para o real. E a caneta é, sem dúvida, poderosa, mas chega a uma altura em que a tinta não chega para tudo. Aí entra a espada… e essa já me incomoda!

Escreve à quinta-feira


Trumpices


Goste-se ou não, Trump vai ganhando espaço e elencando os pontos da sua agenda. Dúvidas houvesse quanto à ingenuidade e casualidade das suas intervenções públicas, dissipam-se.


Num estilo moderno da versão teatral que tornou notória a expressão “The pen is mightier than the sword”, foi tweetando (para quem quisesse entender) as diretrizes que iriam reger as suas políticas – interna e externa.

Agora que se vão tornando claras, não são animadoras, devo confessar. Durante a campanha atirou a matar, indiscriminadamente, qual sniper furtivo.
À cabeça, claro, Hillary e Obama, mas não só. Apresentadores, jornalistas, entrevistadores, atores, bloggers e um interminável rol de figuras (mais ou menos notáveis) valeram-lhe o que procurava: notoriedade! Não é inaptidão nem tão pouco brejeirice – é uma estratégia e valeu-lhe a vitória. Também não é novidade, pois é um decalque da estratégia de Obama, que também elegeu as redes sociais como principal veículo de comunicação – conteúdos à parte, naturalmente.

O povo que lhe deu a vitória, de uma América profunda, desgastada pela crise e distante da elite progressista (também já aqui me referi a ela), apreciou e glorificou Trump por expressar publicamente o que muita dessa gente (marginalizada e esquecida) pensa, mas não se consegue fazer ouvir.

Trump elege o Twitter como a sua pena, mas esquece-se que não está numa peça de teatro.

Um exercício interessante e que merece a atenção dos politólogos é a análise de todos os tweets de Trump nestes últimos anos (trumptwitterarchive.com).

Há lá de tudo. De superlativos pessoais a ofensas dirigidas, o Twitter de Trump é um hino à estratégia política. Estou plenamente convicto.

Convicções e consciências à parte, pouco me incomodou o que tweetava, até porque não tenho voto em matéria de eleições americanas. Contudo, a juntar aos tweets sobre a China, dos quais destaco “The concept of global warming was created by and for the Chinese in order to make U.S. manufacturing non-competitive” e “Did China ask us if it was OK to devalue their currency (making it hard for our companies to compete), to heavily tax our products going into their country (the U.S. doesn’t tax them) or to build a massive military complex in the middle of the South China Sea? I don’t think so!”, veio a primeira pedrada no charco da vida real.

Ao falar com Tsai Ing-wen, Donald Trump, ao contrário do que Mike Pence e o próprio “China Daily” (em editorial) tentaram desmistificar, não mostrou inexperiência em matéria de relações externas. Trump sabe o que fez e porque o fez. Identificou claramente (e há muito) o alvo da sua política externa: a China, a grande responsável pela desgraça americana, pela queda da indústria, pela miséria provocada pela destruição de milhares de postos de trabalho e pelo encerramento de fábricas. Música para os ouvidos dos que o elegeram. Só ainda não percebi se, no meio de tudo isto, Putin esfrega as mãos de contente ou se alinha em conluio.

Acumulam-se as trumpices, mas tornam-se preocupantes quando saem do mundo virtual para o real. E a caneta é, sem dúvida, poderosa, mas chega a uma altura em que a tinta não chega para tudo. Aí entra a espada… e essa já me incomoda!

Escreve à quinta-feira