A Europa das nulidades políticas


A mediocridade e precipitação de políticos como Cameron, Renzi e Hollande (este, uma espécie de Louis de Funès) uma verdadeira calamidade


1) Vão longe os tempos em que a Europa do pós-guerra foi pensada e construída por uma geração de políticos de grande dimensão cultural e humana a que foi sucedendo um naipe de gente de qualidade, mesmo que já sem a categoria e visão dos seus antecessores imediatos.

Mas há que reconhecer que, especialmente nesta primeira década do século, emergiu um pouco por todo o lado na Europa uma geração de políticos muito pouco recomendável e normalmente incapaz de estar à altura das suas responsabilidades.

Embora tenhamos exemplos lamentáveis na dimensão paroquial do nosso país, é óbvio que há outros que pontificam em países bem mais importantes pela sua dimensão e peso no contexto internacional. Tratemos, pois, de alguns desses. Trump e Putin são dois casos paradigmáticos que ocorrem logo pela sua dimensão planetária. Mas há outros. Veja-se a França de Hollande. O homenzinho meio ridículo nas suas peripécias privadas e políticas faz irremediavelmente lembrar Louis de Funès nos seus filmes cómicos. Hollande é certamente o pior presidente que a França teve nos últimos 75 anos. Em resultado do seu mandato político errático e da sua imagem, um país absolutamente matricial para a Europa está agora na iminência de ter de escolher entre o neoliberalismo de Fillon, a extrema-direita de Marine Le Pen e as fracas e desacreditadas candidaturas da área socialista, a melhor das quais talvez seja a de Manuel Valls que, apesar de fraquinho, parece um político minimamente equilibrado dentro do caos em que a França se tornou com Hollande.

Logo por azar, Hollande foi contemporâneo das luminárias Cameron e Renzi, dois imaturos que decidiram jogar na democracia referendária como quem aposta no tudo ou nada num casino. Cada um dentro das suas circunstâncias fez o pior possível, ou seja, colocar os eleitores perante questões de sim ou não em que as emoções superficiais e praticamente instintivas se sobrepõem à sensatez e à racionalidade. Nos tempos de hoje, marcados pelo que já chamamos pós-verdade e em que as redes sociais formam e manipulam a opinião, sublimar mecanismos de democracia direta e referendária é um verdadeiro suicídio político, como se viu no Reino Unido e na Itália, com Cameron e Renzi – e este ainda parece ter margem de sobrevivência política, o que já não se passa com o inglês.

Os movimentos radicais e irracionais estão a ganhar espaço em todo o lado, assinalando-se e louvando-se que Portugal se esteja a preservar desse tipo de ondas radicais, o que talvez tenha a ver com a antiguidade de um país feito de um povo sensato. Veja-se, por contraponto, a Áustria. A Europa ficou aliviada por a extrema-direita ter perdido. Mas, afinal, esse bloco nacionalista e xenófobo tem 47% dos votos, o que é uma brutalidade que lhe pode permitir saltar para o poder em legislativas ou futuras presidenciais. O vencedor destas terá, portanto, de atuar e intervir na complexa sociedade austríaca (a pátria de Hitler) com sabedoria e, sobretudo, enorme sensatez, até porque ali ao lado tem a Hungria (para alguns o país-irmão), onde a extrema-direita tem o controlo de tudo e onde se está a instalar uma ditadura sob uma forma moderna, com a benevolência da União Europeia.

A lista dos perigos de direita e de esquerda na Europa poderia ser alargada a muitos outros países. Importa reconhecer que há causas na origem do fenómeno que têm razão de ser e que passam pelo acentuar de desigualdades, pelo desemprego, pela incerteza financeira, pela globalização, que destruiu o bem-estar ocidental, pela falência dos sistemas assistencialistas e pela dificuldade de assimilar as culturas dos migrantes, gerando movimentos racistas e xenófobos que até atingem emigrantes portugueses.

Problemas tão graves como esses parecem absolutamente insuperáveis à luz da mediocridade geral dos políticos, dos burocratas europeus e mundiais, dos banqueiros e dos empresários que apenas mexem e multiplicam dinheiro virtual, sem criar postos de trabalho. A tudo isto se junta, evidentemente, um jornalismo de baixa qualidade que se deixou engolir por redes imediatistas que construíram uma tirania do instantâneo. E é essa tirania que pode liquidar os políticos que tendencialmente agirem por impulsos repentistas como o fizeram Cameron e agora Renzi, substituindo-os por demagogos e populistas de direita e de esquerda, gerando uma verdadeira calamidade política.

2) Como era óbvio, Santana Lopes não avança para a Câmara de Lisboa. E também não se vê quem no PSD esteja disponível para o fazer tendo possibilidades de ganhar, uma vez que os chamados barões estão todos nas encolhas. Sobram três hipóteses: um militante disponível para dar o corpo às balas “pour le panache”, como o fez Fernando Seara há quatro anos; uma humilhante adesão à candidatura de Cristas; ou encontrar um independente muito conhecido e reconhecido que tenha qualidades e carisma para avançar e criar, no mínimo, um problema a Fernando Medina. Dir-se-á que ainda há muito tempo até às eleições, mas quando se trata de Lisboa e do Porto não é de todo assim. Passos Coelho e os órgãos locais têm muito que pedalar para chegar à partida, quanto mais à chegada.