Tem saudades de Braga?
Voltar a fazer política do ponto de vista regional está fora de questão, mas amo a minha cidade. Gosto muito do Parlamento e de ser deputado, não tendo deixado de exercer advocacia. Claro que isto é tudo um contexto muito volátil, muda tão rápido, hoje estamos aqui e amanhã não sabemos onde estamos.
Quando diz que amanhã não sabemos onde estamos, refere-se a uma mudança de ciclo?
Não antevejo nada disso. Há interdependência entre os partidos da solução de Governo porque o custo político de romper é caro para qualquer um.
E a oposição também tem essa estabilidade?
Tem mais, desse ponto de vista. A líder do CDS foi eleita recentemente. O líder do PSD também. O Governo é que prefere fazer um negócio permanente em vez de governar. É um Governo que não governa.
Quando falou de ser advogado, fiquei curioso. Como é que vê as ligações entre Justiça e política que se têm visto? Os vistos gold, o caso do eng. Sócrates…
Não pode haver a tentação do discurso político politizar a justiça ou da justiça judicializar a política. São dois casos com grande mediatismo, mas onde os agentes se comportaram à altura, conseguindo uma separação nada fácil.
A cooperação com o PS está impossibilitada. Um Bloco Central seria impossível?
Enquanto o PSD continua a posicionar-se ao centro, o PS está claramente para a esquerda. Não vejo um Bloco Central a acontecer.
E sem pacto de regime, vê uma maioria absoluta para o PSD?
Com este Governo, o PSD só pode almejar a uma maioria absoluta.
Mas não há apoio social, não há sondagens…
Não há apoio social porquê?
Este Governo não tem metade da contestação que o anterior e não tem só a ver com sindicatos…
Tem. Há duas semanas que os técnicos de diagnóstico terapêutico estão na rua em greve e em protestos. Viu alguma coisa na comunicação social? Tem metade do foco que teria há três anos. E repare que não são só os sindicatos. O Governo tem o Bloco e o PC na mão e eles são os amplificadores do ruído social. Às vezes até os criadores. É por isso que o Governo aparenta paz social.
Talvez o país esteja a gostar da solução à esquerda.
Não acho. O país é moderado e isso viu-se bem nas eleições. Se na campanha eleitoral se tivesse levantado a hipótese desta solução de Governo não tinham tido sequer o resultado que tiveram, que já foi poucochinho.
A coligação PàF teria conseguido uma maioria absoluta contra uma ‘geringonça’?
Não tenho dúvida.
Outra coisa. Se hoje há muito maior escrutínio das contas públicas do que em 2011 e se a Zona Euro tem mecanismos de defesa que antes não tinha, a probabilidade de cairmos tão fundo outra vez é reduzida. Portanto, se o país não vai ao chão, como é se que consegue a tal maioria absoluta?
Esse é o ponto fundamental de tudo isto. Há a ideia de que o PSD só ganharia eleições se isto corresse mal, mas vamos ser muito claros: isto está a correr mal. E correr mal não tem a ver com outro resgate – mau era que o PS nos levasse a outra bancarrota – porque eu hoje não estou a ver os parlamentos nacionais a aprovarem um programa de ajuda financeira a Portugal.
Acha que não nos ajudariam?
Acho difícil. Mas a questão é outra: isto está a correr muito pior até do que nós tínhamos visto. Pedro Passos Coelho foi muito melhor a criar riqueza, postos de trabalho e futuro de que António Costa. Os números demonstram-no: emprego, consumo, investimento…
Mas não se pode ignorar o crescimento económico dos últimos indicadores.
Acho isso uma coisa extraordinária. O PS apeou o Governo que venceu as eleições, dizendo: ‘Vou derrotar quem ganhou eleições porque é um Governo de austeridade e o país não cresce’. Hoje sabe-se que o país não vai crescer mais que 1.2, no máximo, e atiram foguetes, quando cresce menos do que crescia em 2015… Cada vez que não há uma catástrofe, o Governo toma isso como uma vitória. É politicamente ridículo e mostra que António Costa, ao contrário de Passos Coelho, não é um estadista. É um sobrevivente político.
Mas esse pedigree político de Passos passou para a oposição?
Passou porque não muda as suas posições por causa de nenhum voto. Ele é assim e é bom que se habituem.
Entendendo a coerência e a preocupação em não ser eleitoralista, mas não querer saber das eleições a um ponto de deixar os outros ganhar não parece grande estratégia.
Não acho que ele tenha feito isso. Mas percebo que ‘não adianta muito estar a pensar nas futuras gerações se depois não se ganham eleições e vem alguém que destrói tudo’. Mas nós ganhamos as eleições.
Se houvesse um congresso hoje, ele ganhava esse congresso?
Não tenha a mínima dúvida. É a pessoa melhor preparada para ser primeiro-ministro.
No PSD há quem discorde. Rui Rio já se assumiu como potencial candidato.
Já vi Rui Rio ser potencial candidato muitas vezes.
Também se fala muito no nome de Luís Montenegro, as boas relações com Belém, a lealdade à direção. Isso não faz dele o sucessor natural no dia em que Passos quiser outros voos?
Como a saída de Passos Coelho nem se coloca, não olho para ninguém como potencial sucessor. A liderança está legitimada a 4 de outubro pelos portugueses e em Espinho pelos militantes.
E há congresso depois das autárquicas?
Há, na data em que ele está previsto. Não acredito que seja um congresso antecipado.
Então os resultados do próximo ano não teriam influencia numa antecipação do congresso?
Não tenho dúvidas que o PSD vai ter um melhor resultado do que em 2013 e na altura não houve crise de liderança.
E Assunção Cristas em Lisboa?
É a melhor solução que o CDS podia ter.
E não é a melhor solução que a direita podia ter?
A direita, sim. O centro-direita, não. O PSD tem que ter um candidato em Lisboa que será sempre melhor que Assunção Cristas. E digo-lhe mais: o PSD tem obrigação de ganhar a Câmara de Lisboa. É uma vergonha que vemos em Lisboa hoje. O dr. Medina não é um bom presidente de câmara e a cidade merece mais.
As propostas do PSD de alteração ao Orçamento apontam para reformas estruturais. São temas que o PS assumiu desde o início que não se falava. O PSD está a fazer propostas que sabe que o PS vai chumbar?
Não vejo isso assim. Demonstra o sectarismo do governo e o PSD não pode por em causa a sua coerência com propostas só para o Governo aprovar. Quisemos dizer ao país qual o nosso caminho com propostas reformistas como na descentralização e pela transparência e sustentabilidade como na segurança social.
São acusados de não fazer oposição.
Por alguém que anda distraído, de certeza. É preciso olhar para uma coisa: É a primeira vez que acontece no Parlamento um Governo só ser escrutinado por dois partidos. Hoje, o PSD fala e tem a resposta do Governo, do PS, do Bloco, do PCP e dos Verdes. Claro que isso pode dar a entender algum desequilíbrio. Veja bem. Num debate com o primeiro-ministro, a esquerda fala para Pedro Passos Coelho. Catarina Martins e Jerónimo Sousa falam virados para a bancada do PSD. Ainda acham que Passos Coelho é o primeiro-ministro.
E acha que Portugal ainda olha para ele assim?
Para mal do dr. Costa, acho que sim. Não podemos esquecer as reformas – como a fusão das freguesias, a extinção dos governos civis, o novo regime das fundações, a legislação laboral, a CRESAP – e também a redução de impostos. A primeira coisa que se fez depois de cumprir o memorando foi baixar impostos. Isso fez de Pedro Passos Coelho o primeiro-ministro do crescimento económico.
E é preciso recentrar o partido ou não?
Não, porque o partido nunca se descentrou. O PSD governou com grande sensibilidade social, como é seu timbre. Não fez tudo bem porque ninguém faz tudo bem, mas é o único partido que ocupa o centro político em Portugal.
E é assim que se recuperam os 700 mil votos que perderam de 2011 para 2015?
Governamos em período de extrema dificuldade e é normal que eleitores não votassem no PSD na altura, mas a verdade é que também não votaram nos outros. Não imagina a dificuldade que foi para nós aprovar aqueles Orçamentos; eu cortei o salário da minha mãe e a pensão do meu pai, consciente que estava a fazer o melhor para o meu país. Encarei sempre as pessoas de cabeça erguida porque sabia que era consequência do estado a que o país tinha chegado. Mexe comigo ouvir socialistas dizer que queremos que a troika volte. Nós queríamos a troika longe de Portugal. E conseguimos.