A semana passada tive a oportunidade de conviver com um empreendedor americano (daqueles que vemos no shark tank da versão americana, não na patética versão portuguesa) e compreender um pouco melhor a controversa eleição de Trump. A situação é vista (por aqueles a quem realmente esta eleição diz respeito) de uma forma bastante prática: a eleição é natural e é o resultado da realidade americana, da incapacidade dos democratas para apresentarem um candidato à altura do legado de Obama.
Para o americano mais moderado e progressista (arrisco europeizado), Trump é um desastre e não tem a mínima noção do que o espera. E seguiu com exemplos. À cabeça (foi uma novidade para mim), a possibilidade de o cidadão americano poder candidatar-se para trabalhar na administração Trump. Vale a pena a visita a https://www.greatagain.gov/serve-america.html e ao formulário https://apply.ptt.gov/. Um exercício de transparência e de promoção da meritocracia – pensei eu. Não, de forma alguma – explicava-me William Hurley (o tal empreendedor). Este é um exercício de desespero.
A verdade é que Trump tem cerca de 4 mil lugares para preencher na administração e candidatos com disponibilidade e vontade (e, claro, com real valor para o fazer) escasseiam. Muitas foram já as negas por parte de figuras republicanas de destaque (também a este propósito e para quem se interessa, vale a pena a visita a http://edition.cnn.com/interactive/2016/11/politics/new-cabinet/). Os rumores suplantam as confirmações por larga margem (ver a referida página). Começa bem. E a par deste exercício de candidaturas online (no mínimo rebuscado) surgem as tomadas de posição mais recentes.
Sob o desígnio de “restaurar as leis e recuperar os postos de trabalho”, Trump atira a matar. Ao bom estilo do western americano, e logo no primeiro dia em que assumir a presidência, anuncia que se vai retirar do TPP (Trans-Pacific Partnership), deixando caminho aberto à China na região. Recua no “muro” com o México (ou, pelo menos, não o referiu), mas avança com uma promessa de investigação a “todos os abusos nos programas de atribuição de vistos”.
Um espírito inquisidor que vai, certamente, deixar marcas e provocar perseguições, para gáudio das alas mais conservadoras e extremistas nos EUA, assim como porventura irá fazer renascer o espírito da caça às bruxas dos anos 50, desta feita orientado para os imigrantes. Rematou de forma ténue, mas não menos preocupante, com o fim das restrições à produção de energia (leia-se inverter a direção das energias alternativas iniciada por Obama) e a criação de um plano de segurança para as infraestruturas públicas “vitais”, para evitar “ataques” (o primeiro tique belicista).
Preocupante, apenas isso! Preocupante porque este é o homem que afirmou no Twitter que “The concept of global warming was created by and for the Chinese in order to make U.S. manufacturing non-competitive”. Este é o homem que diz ainda que Obama enfraqueceu o exército e que anunciou estar disposto a gastar entre 500 mil milhões e 1000 milhões de dólares para relançar o exército americano. Desculpem… não é preocupante! É assustador!
Escreve às quintas-feiras