Banca. Bombeiros, pirómanos e ignorantes que são quase iletrados

Banca. Bombeiros, pirómanos e ignorantes que são quase iletrados


Governador do Banco de Portugal ataca críticas ao mandato e aponta responsabilidades à gestão do setor durante a primeira década do século


O governador do Banco de Portugal (BdP) reagiu com veemência às críticas de que foi alvo a instituição que gere durante o programa da troika e atacou quem as proferiu.

“A banca foi muito mais resiliente do que normalmente se diz e os que dizem que o ajustamento foi um fracasso do ponto de vista do sistema bancário não sabem seguramente do que falam”, afirmou Carlos Costa na abertura do Fórum Banca 2016, ontem em Lisboa.

No início da semana um relatório da Comissão Europeia apontava responsabilidades ao BdP pelos desenvolvimentos desde 2011. A “autoridade de supervisão não exigiu uma recapitalização/reestruturação dos bancos mais robusta”, revela o relatório da Comissão, acrescentando que as “ações de supervisão da banca também deveriam ter sido mais exigentes no que diz respeito” às imparidades.

Contra-argumento “Os bancos portugueses estão mais robustos, como podem verificar confrontando os 8,7% de 2011 e os 12,1% de 2016. Significa 50% mais de capital. É um facto que não pode deixar de ser sublinhado, porque significa que o sistema está mais robusto, não obstante ter absorvido perdas e imparidades durante este período”, contra-argumentou Carlos Costa antes de passar ao ataque.

“É uma ofensa a quem fez o programa de ajustamento e é uma ofensa ao Banco de Portugal que eu sinceramente não compreendo e revela grande ignorância para não dizer iliteracia”, atirou o responsável pelo regulador do setor.

Antes, já tinha apontado responsabilidades ao anterior regulador pela situação a que o sistema bancário chegou, elencando os erros e problemas da banca, que não se devem repetir e são responsabilidade das administrações anteriores.

“Estamos hoje a enxaguar todos os problemas que gerámos na década de 2000. Os reguladores são hoje os bombeiros dos pirómanos de outra época e os gestores são hoje os reparadores das situações criadas no passado. Temos de chamar as coisas como elas são e isto não se pode repetir. Se isto se repete significa uma perda grande em termos de bem público”, disse Carlos Costa, que iniciou o mandato em 2010, sucedendo a Vítor Constâncio, que governara o BdP desde 2000.

Erros e problemas Carlos Costa apontou a construção da “estrutura acionista” dos bancos que potenciou fenómenos como o excesso de crédito arriscado – crédito esse que foi usado para o “financiamento de participações sociais” e concedido também subestimando a risco.

O financiamento a setores dependentes do endividamento dos clientes foi outros dos problemas económicos do país na primeira década do século, tal como o financiamento a empresas com baixo capital próprio.

A fechar apontou a concessão de crédito a setores com exposição alta ao ciclo económico.

O resultado são 53 mil milhões de ativos não produtivos no balanço dos bancos. Só de imparidades são 21 mil milhões.