Não há duas sem três, já lá diz o ditado, e o Praiense leva estas coisas muito à letra. Tanto assim é que a equipa da Praia da Vitória, Açores, “fez questão” de afastar o histórico Farense na terceira eliminatória da Taça de Portugal (3-1), já depois de ter superado outras duas fases. O prémio chegaria então: visita a Alvalade na quarta eliminatória. Nem toda a gente se lembra, mas no banco do conjunto açoriano está um nome que defendeu os leões na década de 90: Francisco Agatão.
Médio recordado por todos os adeptos do futebol nacional, terminou a carreira em 95/96 no Estoril e dois anos depois chegou a Alvalade, como adjunto de Carlos Manuel. A aventura não durou muito – “seis meses”, como faz questão de recordar em conversa com o i –, mas ficaram memórias e amizades para a vida. “Já passaram 16 anos, mas ainda vou encontrar gente conhecida, como o [roupeiro] Paulinho, o senhor Viegas e outros. Vai ser bom poder abraçar pessoas com quem privámos naquele tempo”, assegura.
Muita coisa mudou desde os tempos de jogador – como a farta bigodaça, que entretanto já se foi. “Deixei de gostar de ver (risos). Tirei por uma questão de gosto pessoal. Na década de 80 todos os jogadores usavam, e depois acabei por manter o visual até ao fim da carreira. Fui dos únicos que me mantive fiel (risos)! Mas depois achei que já não me ficava bem e tirei”, graceja, com um cerrado sotaque alentejano – não fosse Agatão natural de Beja. Hoje, todavia, já se sente tão açoriano como alentejano, tantos são já os anos que leva a trabalhar no maravilhoso arquipélago – entre Santa Clara, Operário de Lagoa e Praiense já lá vão 12 anos. “Sou alentejano de nascimento e açoriano de adoção. Sempre fui muito bem tratado nos Açores, já fiquei na história do Santa Clara enquanto adjunto, pois sagrámo-nos campeões nacionais da II Liga (2000/01), e era bonito ficar também na história do Praiense”, assume Agatão.
Exemplo do Benfica Há duas maneiras para tal: chegar aos campeonatos profissionais, que é como quem diz, subir esta época à II liga… ou fazer hoje uma gracinha em Alvalade. Para ambos os casos, a equipa está altamente motivada: garantia de treinador. “Ninguém ganha jogos antes de os disputar. Sabemos que vamos estar muito mais tempo a defender do que a atacar, o Sporting tem obviamente uma circulação de bola muito melhor do que a nossa e vai entrar forte no jogo, a procurar resolver rápido. Os minutos iniciais serão decisivos: se aguentarmos a pressão inicial, poderemos surpreender”, realça Agatão. O treinador dos açorianos lembra mesmo o exemplo do 1º de Dezembro, que só perdeu com o Benfica aos 96 minutos. “É um exemplo concreto de que o desnível não é tão acentuado assim. Há equipas com qualidade no Campeonato de Portugal. Claro que sabemos que o Sporting é muito melhor do que nós, temos a noção da diferença de potencial e capacidade. Acima de tudo, temos de ter uma boa organização defensiva e tentar não cometer erros. Vamos mostrar que temos qualidade a nível defensivo, e que a vertente ofensiva também não é de desmerecer”, avisa.
Rei e senhor no CP O Praiense é líder invicto da Série F do Campeonato de Portugal, com oito vitórias e dois empates em dez jornadas. E essa, diz Agatão, é uma das grandes motivações da equipa. “Um dos objetivos a que nos propusemos quando saiu o sorteio foi chegar a Alvalade invictos. Entretanto passaram quatro jogos, ganhámos os primeiros dois e depois empatámos outros dois”, revela, assumindo que para já, o objetivo é chegar à fase de campeão. “Depois logo se pensa em subidas”, atira um homem que, enquanto jogador, cumpriu oito temporadas na I Liga. Como treinador, nem uma até agora – e não acredita que o cenário já venha a mudar. “Não sou nenhum velho, vou fazer 56 anos na sexta-feira, mas sei que dificilmente chegarei à I Liga. Nunca tive empresários, trabalho sempre de forma séria e profissional e ter o reconhecimento das pessoas dos clubes por onde passei já é por si só um motivo de orgulho”, sentencia, de modo resignado mas sempre com um sorriso.