Lava Jato. Ex-governador do Rio de Janeiro detido

Lava Jato. Ex-governador do Rio de Janeiro detido


Sérgio Cabral é acusado de envolvimento no desvio de mais de 220 milhões de reais em obras realizadas pelo governo estadual


O antigo governador do estado do Rio de Janeiro foi detido preventivamente, na quinta-feira, no âmbito da Operação Calecute, um dos diversos eixos de investigação da Lava Jato. Sérgio Cabral, do PMDB, foi preso juntamente com outras nove pessoas e, de acordo com o Ministério Público, terá de responder perante os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e pertença a organização criminosa.

A investigação levada a cabo pela justiça brasileira refere ter encontrado indícios de desvio de 224 milhões de reais (cerca de 61 milhões de euros), de dinheiros públicos, em obras feitas pelo governo do estado do Rio, num esquema complexo, que envolvia o pagamento de subornos a um grupo de funcionários estaduais – alegadamente liderado por Cabral – por parte de determinadas empreiteiras, em troca da concessão dessas mesmas obras.  

Segundo a imprensa brasileira, a Operação Calecute – batizada com o nome da região da Índia onde Pedro Álvares Cabral enfrentou uma das maiores tempestades – envolve mais de 200 agentes policiais, munidos com 38 mandados de busca e apreensão, 8 de prisão preventiva, 2 de prisão temporária e 14 de condução coerciva, expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e ainda 14 mandatos de busca e apreensão, 2 de prisão preventiva e 1 de prisão temporária, ordenados pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

“As investigações apontam para a prática de corrupção na contratação de diversas obras conduzidas no governo de Sérgio Cabral, entre elas, a reforma do [Estádio] Maracanã, para receber a Copa de 2014, o denominado PAC Favelas e o Arco Metropolitano, financiadas ou custeadas com recursos federais”, pode ler-se na nota de acusação do MP do Rio, segundo a “Folha de São Paulo”. No mesmo documento vem ainda referido que o os “integrantes da organização criminosa” liderada pelo ex-governador “amealharam e lavaram [uma] fortuna imensa”, através da “aquisição de bens de luxo” e da “prestação de serviços de consultoria fictícios” às empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia. 

De acordo com o “Estadão”, Sérgio Cabral foi detido, na quinta-feira, juntamente com a sua mulher, no seu apartamento no Leblon, por volta das 6 horas (4h em Portugal continental), ao som de gritos de “ladrão” e “lincha”, proferidos por um grupo de protestantes que acompanhou a polícia federal.

Garotinho rejeita comparações 

Em menos de 48h, registaram-se detenções de dois ex-governadores do Rio de Janeiro, ainda que em operações distintas. Na quarta-feira foi a vez de Anthony Garotinho ter sido preso pela polícia, por ordem do Ministério Público Eleitoral brasileiro.

O antigo candidato presidencial – ficou em terceiro lugar na corrida de 2002, vencida por Lula da Silva – é acusado de ter comprado votos da população do município de Campos de Goytacazes (Rio de Janeiro), para vereadores próximos de si, através da oferta ilegal de “Cheques Cidadão”, uma medida social direcionada para famílias necessitadas, e que previa um subsídio mensal de 200 reais (perto de 55 euros). O alegado envolvimento de Garotinho no esquema valeu-lhe as acusações de corrupção eleitoral, supressão de documentos públicos, coação de testemunhas e associação criminosa.

No blogue oficial deste ex-governador do Rio, entre 1999 e 2002, foi publicado um texto que rejeita qualquer ligação entre as duas detenções, mas que defende que o curto espaço de tempo entre elas, torna “evidente que querem associar” os dois casos, e “confundir as pessoas, para colocarem Garotinho e Cabral no mesmo bolo”.

“É importante destacar que a situação (…) é completamente diferente. Não há contra Garotinho qualquer acusação de corrupção”, pode ler-se na publicação.