O amor de cama é bom. É aquele amor que nos faz suspirar no cinema, que tem uma banda sonora própria, que nos transforma o semblante e encanta, porque ficamos mais bonitos. O amor de cama torna-nos tolos, porque achamos graça a tudo, tira-nos de casa e põe-nos a voar sem asas, porque esse amor é cheio de aventura e de suspense, é cheio de vida e de drama, porque o empolgante tem sempre excesso de emoção.
O amor de cama é bom. É o que está escrito e descrito nos manuais da felicidade, é o amor que mata se não matarmos rápido a saudade, é o amor das tatuagens feitas à pressa e dos planos precipitados e dos dias em que o luar está perto e se sobe para o telhado. É o amor das conversas longas e da orelha que já arde das tantas horas de confissões que se leva de avanço, é a viagem a França e a fotografia à frente da Torre Eiffel, é o amor das surpresas inesperadas e dos amuos maldisfarçados.
O amor de cama é bom. São os beijos melosos que sabem a mel por serem doces e por colarem em todo o lado, porque o amor de cama é apego. Apego daquele que é aconchego, daquele de quem não queres sair de perto porque sabe tão bem, e apego do chato, porque pode ser desgraçado se não tiveres o que queres.
O amor de cama é bom. São os filmes escolhidos a dois e o happy end depois, são as cócegas infantis e os abraços apertados, são as lágrimas frustradas nas discussões caseiras e as pazes amassadas, acompanhadas com coros a pedir desculpa.
O amor de cama é bom. É intenso e avassalador, é o amor por que se espera durante uma vida inteira e é a melhor maneira de te sentires vivo! E se este amor de cama sofrer um atropelamento? E se este amor de cama, este que te falei em primeiro, for testado, posto em causa, melindrado? E se este amor de cama conhecer uma outra forma de amor – o amor de cabeceira? E se este amor de cama tiver de ser regado a esperança e polvilhado com paciência? E se este amor de cama for convidado a viver dentro de um hospital, a aprender a ser também paternal, a cantar baixinho ao ouvido, a calar para não incomodar, a andar com a mesma roupa vestida cinco dias seguidos porque nada mais se fez do que amar?
O amor de cabeceira é a prova derradeira. É a certeza de que o amor de cama não foi ilusão cinematográfica, mas a ponte que sustentou o que veio a seguir. Porque o amor de cama, por si só, não basta. O amor de cama não é suficiente. O amor de cama é mais arrepiante, mais emocionante, mais real se tiver também um candeeiro ao lado e for, durante um bocado ou para sempre (o tempo que for necessário), o amor que cuida. Que toma conta. Que desliga do mundo e que torna o mais simples crucial.
O amor de cama é bom. Mas se nunca conhecer o amor de cabeceira, será sempre apenas bom.
Porque o amor de cabeceira é a certeza que se sobreviveu às febres altas, ao medo de partir, ao frio gélido do inverno. O amor de cama tem de ser também amor de cabeceira para ser amor eterno.
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