(Ainda) Do género humano


Enfim, tudo matéria apetecível para se estudar agora: o papel do defeito na história da opinião ou até mesmo da azia, enquanto efeito da difícil digestão da realidade global. 


Aqui falei de “defeitos” há duas semanas. São fruto da nossa própria construção enquanto seres humanos, e um traço incontornável de todas as personalidades.

Mas, passados estes dias, pude constatar que um texto despretensioso e de puro exercício, para além de algumas amigas e pertinentes observações que, em substantiva matéria académica, me obrigariam a reescrevê-lo noutros termos, suscitou também algumas elucubrações conspirativas quanto a emissores, emissários e destinatários. E assim sendo, cumpre-me desde já desmentir qualquer ímpia intenção da minha parte, reafirmando, contudo, o meu pleno direito a qualquer herética divagação pessoal.

Convenhamos, pois, que se vive um tempo sui generis, muito bipolar e pouco dado aos bons prazeres do diletantismo especulativo. Um tempo eivado de certezas. As tais estultas certezas que nem sempre correm bem face à realidade dos factos e que depois, de modo expedito e leviano, como num passe de mágica, se transfiguram nos seus opostos com veemência, só para se apanhar um novo comboio qualquer que pode muito bem voltar a ser inconsequente. Em boa verdade, repito, não há nada mais democrático que o defeito.

Tão verdade como a sra. Clinton ter sido humilhada na passada quarta-feira, e quanto será agora o poço de virtudes em que, de repente, se transfigurou o seu triunfante opositor. Enfim, tudo matéria apetecível para se estudar agora: o papel do defeito na história da opinião ou até mesmo da azia, enquanto efeito da difícil digestão da realidade global. E será que faliu mesmo, a opinião?