“Tanto os otimistas como os pessimistas acabam por morrer, mas os otimistas vivem muito melhor.”
H. Cymerman
Nos últimos anos tem sido debatido, sobretudo no espaço público, se o PSD se desviou ou não da sua tradição ideológica social-democrata e se se transformou ou não num partido liberal. Os argumentos utilizados são vários. E de sentidos contrários. Mesmo que alguns dos “novéis” protagonistas deste partido político, a ele recém-chegados, digam, e até escrevam às vezes, coisas do género “o PSD é de direita”, “o PSD é um partido das liberdades”, “no PSD, a questão ideológica é uma patologia”, etc. Independentemente de se ter não só assumido, mas sobretudo percecionado, que o PSD tem gente nova e diferente que pouco conhece e assume o seu passado social- -democrata dentro da especificidade portuguesa, o certo é que ao PSD sucedeu o que sucedeu a outros partidos políticos portugueses. A vários níveis. E sobretudo ao nível da linguagem política contemporânea. Com a sua simplificação. E até direi captura fácil. Por aquilo que é a direita e por aquilo que é a esquerda. Mimetismos redutores. Próprios de quem chegou hoje, e no espírito generalista e académico ou caviar. Isto é hoje um problema para algumas pessoas no PSD: não olhar e ter presente devidamente o seu passado. A sua prática política. Conhecer os seus eleitorados. E achar que, por exemplo, Setúbal é igual a Leiria e que a Linha de Cascais é igual a Aveiro e a Viseu. Nada é assim. Ainda por cima num país e numa Europa em que quem ambicionar ganhar eleições na próxima década terá de o fazer mobilizando eleitorados mais maduros e, sobretudo, trabalhadores por conta de outrem, com valores de vida, em vários domínios, nada conformes com o liberalismo tout court.
Daí que dizer que o PSD, ideologicamente, é hoje o partido das liberdades seja muito redutor. Muito mesmo. O PSD é, antes de tudo, o partido das oportunidades. O partido mais identificado com os portugueses, independentemente das suas idades e das suas condições sociais. O partido que na tradição humanista, personalista e cristã assume os seus valores de vida, de entre outras coisas, ao nível dos costumes. Um partido interclassista e basista, que assume a igualdade de oportunidades, garantida pelos poderes públicos. O partido que assume a economia social de mercado como catalisadora para a criação de emprego e de riqueza. O partido que, na responsabilidade social, assume a solidariedade como um pilar fundamental para a sua matriz social-democrata.
O PSD não é de direita. Mas tem eleitores de direita. O PSD não é liberal. Mas tem eleitores liberais. O PSD é aberto às liberdades. Mas como instrumentos para as oportunidades. E não o seu contrário. O PSD olha a realidade, assume-a, mas não se deixa capturar e hipnotizar por ela. Tempera-a, na tradição da sua marca indelével no Estado e na sociedade. É por isso que não se deve deixar capturar por protagonistas que, na prática, o veem como barriga de aluguer ideológico-liberal, e também não se deve deixar condicionar por laicismos radicais e por propostas desconformes com a sua prática e tradição de partido reformista. Ao PSD não deve bastar ter razão nos diagnósticos. Tem, na intermediação mediática, de tudo fazer para que, no tempo da sociedade do espetáculo e da influência dos vários poderes corporativos no império dos media, os seus diagnósticos e as suas propostas sejam percecionados de forma transversal pelos vários tipos de eleitorados existentes. Daí que na linguagem política contemporânea, usada freneticamente no quotidiano político, quer no parlamento quer no espaço mediático, deva inverter a sua catalogação enquanto partido político das direitas. Com a atual situação política em Portugal, na vigência de um quadro parlamentar de suporte de um governo de esquerda e da soma das extremas-esquerdas, o PSD deve ocupar o centro político. Porque será no centro político que primeiro se sentirá que muitas das políticas do atual governo irão falhar e estarão desconformes com as expetativas dos eleitores. Acresce a esta necessidade o facto de o PSD, ao fazê-lo, solidificar o seu espaço político natural como partido das oportunidades e onde os portugueses e as portuguesas encontram as melhores condições para concretizar os seus projetos familiares e profissionais. Daí que, muito mais do que se fazerem abordagens reducionistas, se deve combater ao nível da linguagem política contemporânea a sua catalogação à direita. Aliás, esta simplificação linguística do ponto de vista político e mediático, catalogando tudo entre apenas direita e esquerda, tem sido muito prejudicial para o PSD. Que, ingenuamente, a tem aceitado contra a sua história, hipotecando assim o seu caminho para o centro político. Bem sei que para alguns teóricos feitos à pressa, muitos deles travestidos em “liberalinhos”, estas questões não parecem ser importantes. Mas são-no. É só estudarmos, por exemplo, a prática política do PSD ao nível local, distrital e nacional, onde sucessivamente tem ganho eleições. O PSD, nesta segmentação eleitoral, nunca ganhou eleições quando se assumiu primordialmente como um partido de direita. Antes pelo contrário. Só o conseguiu quando ocupou o centro político e o espaço da esquerda moderada.
Escreve à segunda-feira