Oposição a Passos já tem um  rosto

Oposição a Passos já tem um rosto


Rui Rio já admite ser candidato à liderança do PSD. Ângelo Correia vê com bons olhos o aparecimento de uma alternativa. Apoiantes de Passos afastam alteração de calendários antes das eleições autárquicas.


O descontentamento em alguns setores do PSD com a liderança de Passos Coelho não é de hoje, mas até agora não tinha um rosto. Passou a ter. Rui Rio, ex-presidente da Câmara do Porto, deu esta semana duas entrevistas para assumir que está disponível para avançar contra Passos no próximo congresso do partido, que em condições normais acontecerá no início de 2018.

Rui Rio marca terreno numa altura em que crescem os sinais de descontentamento interno. As sondagens também não ajudam. «Há algo que se passa. As sondagens refletem uma situação de alguma perturbação e de alguma surpresa. Não sei se isso contamina ou não a direção do partido, mas merece, pelo menos, uma reflexão aturada», diz Ângelo Correia, numa conversa com o SOL sobre a disponibilidade de Rui Rio avançar para a liderança do PSD.

O ex-ministro social-democrata realça que a atitude de Rui Rio «é respeitadora da ordem estabelecida dentro do partido, das suas regras e dos seus métodos de funcionamento e portanto não vai provocar uma erosão, nem uma revolução». E por isso, acrescenta o histórico do PSD, «não se justifica da parte de quem quer que seja uma censura. Justifica-se é uma atitude de respeito».

Ângelo Correia – que foi uma espécie de padrinho político de Passos e mais tarde admitiu ter ficado desiludido – vê com bons olhos o aparecimento de uma alternativa, porque «é da competição das ideias, dos métodos e das formulações estratégicas que decorre a melhoria das instituições». Para o histórico do PSD «sem isso caíamos sempre num certo pântano ou num certo vazio. É importante que exista uma alternativa a esta direção. É fundamental que existam sempre alternativas».  

Ângelo Correia diz que Rio tem «capacidade e prestígio»

Sem querer comentar se Rui Rio seria um bom líder, o social-democrata não deixa de considerar que «é inegável que durante o tempo em que foi presidente da câmara do Porto teve um papel com relevo, afirmação, capacidade e prestígio»

À direção do PSD e questionado sobre se Passos tem energia para continuar, Ângelo Correia deixa um alerta. «A energia não é transmitida pelo poder divino. É transmitida pelas ação dos próprios homens. Depende da direção do PSD encontrar, se pretender e se conseguir, esse suplemento de energia».

Rui Rio garantiu esta semana que, ao contrário do que aconteceu em outros momentos em, que foi falado e não avançou, desta vez está disponível. «Agora não sou presidente da Câmara do Porto. Agora é diferente». Em 2008 e 2010 foi pressionado a avançar, mas das duas vezes optou por cumprir o mandato até ao fim na câmara do Porto. «Eu tinha um compromisso com quem me elegeu», disse, na quinta-feira, numa entrevista à RTP 2.

Movimentos e entrevistas traduzem contra Passos

Os fracos resultados do PSD nas sondagens começam a agitar o PSD. Não foi só Rui Rio a admitir avançar se o partido «continuar com grandes dificuldades de aceitação junto das pessoas». Pedro Duarte deu uma entrevista ao Expresso a defender que «se tornou mais evidente que o PSD tem de virar a página, focar-se no projeto para este novo tempo». Ao mesmo tempo foi criado o movimento Portugal Não Pode esperar com o objetivo de «recentrar o PSD, voltar a ter um discurso para a classe média». O rosto mais visível deste movimento é o ex-líder da JSD e ex-deputado Pedro Rodrigues.

A onda de contestação a Passos tem sido recebida com cautela pela direção do PSD. São poucos os que querem comentar as declarações de Rui Rio e, para já, ninguém quer pensar em convulsões internas antes das autárquicas. «Nem Rui Rio se vai mexer antes das autárquicas. Pode avançar depois se o PSD tiver um mau resultado», diz um deputado do PSD que apoia Passos. A única crítica – e de forma indireta – à disponibilidade manifestada por Rui Rio veio do coordenador autárquico do PSD. Carlos Carreiras desafiou-o a ser candidato nas autárquicas, porque é nessa batalha que o partido está focado. «Tem currículo, capacidade e experiência para ser um bom candidato a qualquer câmara e à do Porto ainda melhor», disse Carreiras ao Diário de Notícias. A vice-presidente do PSD, Maria Luís Albuquerque, preferiu não comentar. A ex-ministra das Finanças disse apenas que «qualquer militante é sempre livre de avançar para a liderança do partido, faz parte das regras. Qualquer militante pode fazê-lo. Mas não quero comentar esse caso em particular».

Passos Coelho promete dar luta, mesmo que as autárquicas corram mal.

Em entrevista à Rádio Renascença, esta semana, voltou a lembrar que venceu as eleições e que, quando saiu do governo, «já não era primeiro-ministro da austeridade, era o da recuperação económica do país». Na entrevista que deu ao SOL, em Abril, Passos garantiu que «as eleições autárquicas não são um teste à liderança de um partido». Mas ainda falta quase um ano e no PSD ninguém arrisca fazer previsões sobre as consequências de uma derrota do PSD.  

Se houver uma crise interna não faltam potenciais candidatos. Luís Montenegro, Maria Luís Albuquerque e José Eduardo Martins juntam-se a Rio na lista dos possíveis candidatos. E até Santana Lopes volta a ser falado. No artigo que escreve no Correio da Manhã, o ex-líder do PSD voltou a lembrar que Rui Rio não foi ao congresso. Ao contrário dele.