1) Por mais que António Costa negue a intenção de remodelar o governo e mesmo que não efetue esse movimento, é um facto que janeiro ou fevereiro são os meses mais favoráveis para concretizar mexidas. Desde logo porque é o início da execução orçamental e também porque antecede o fecho das contas públicas. A seguir a esta, a época mais favorável acontece em junho, a tempo de refrescar o elenco antes das autárquicas.
A necessidade de fazer acertos no governo é óbvia e foi assinalada neste espaço ainda no verão, referindo como primeiro alvo o titular da Economia. Hoje pode com facilidade adicionar-se mais alguns nomes de ministros, nomeadamente o das Finanças, que está objetivamente numa situação de grande fragilidade face ao imbróglio Caixa Geral de Depósitos, que ele próprio deixou criar. No entanto, joga fortemente a favor da sua manutenção a circunstância de ter conseguido entendimentos internos e externos sobre o Orçamento e o cumprimento das suas metas, pelo menos tanto quanto se sabe.
Mas nem sempre as remodelações têm a ver com o desempenho de ministros. Muitas resultam de conflitos entre estes e secretários de Estado. Ora, tanto neste governo como nos que o antecederam nunca faltaram exemplos. O verdadeiro pugilato público entre Brandão Rodrigues e Wengorovius é apenas o exemplo radical de outros conflitos que António Costa consegue tapar com uma descontração e bonomia desarmantes.
As mexidas nos governos colocam sempre problemas subsequentes. Um deles tem a ver com o sítio para onde vão ou voltam os remodelados. Tem de haver algum espaço de conforto para quem sai pois, na verdade, não é muito conveniente que a esses movimentos se sucedam lavagens de roupa suja como a que ainda agora se viu.
Outra realidade das remodelações é que elas se negam sistematicamente até ao minuto em que são anunciadas. Nisso, funcionam como os aumentos de impostos. São apelidadas de especulações sórdidas e manipuladoras até ao dia em que simplesmente acontecem. Há, portanto, que esperar para ver se os próximos meses não vão acabar por dar razão à notícia publicada há dias no “SOL”.
2) Ao ponto a que as coisas chegaram, já só há duas hipóteses para os gestores da Caixa Geral de Depósitos. A primeira e, eventualmente, mais patriótica é entregarem a documentação no Tribunal Constitucional, mostrando que não têm nada a esconder, mesmo que isso contrarie compromissos assumidos com eles (a situação dos estrangeiros poderia ter outro tratamento). A segunda é pura e simplesmente uma demissão, alegando rutura do acordado e, eventualmente, invocando cláusulas contratuais que possam existir. Seja qual for o desiderato, o que interessa é que as coisas sejam feitas rapidamente, a fim de pôr termo a uma situação grave e caricata.
3) A Web Summit tem mostrado que não nos curamos facilmente do deslumbramento face ao que vem de fora, tornando-nos excessivamente subservientes. A Summit é, obviamente, uma montra útil para Portugal, mas ela só foi possível porque, ao longo de muitos anos, houve empresas e empresários dinâmicos que trouxeram para cá um importante fluxo de visitantes em congressos, eventos e campeonatos, com milhares de participantes mais bem-sucedidos do que os que agora nos visitam. Esse movimento ocorreu muito antes de a política ter despertado para a oportunidade da Web Summit, através de Paulo Portas. Claro que o acontecimento é importante para o país e pode criar desenvolvimento local e permanente, não se limitando a ser uma feira de oportunidades no digital. Mas convém lembrar que a iniciativa é, para já, sobretudo um negócio para os seus organizadores, que usufruem dos apoios oficiais (AICEP, nomeadamente) que subservientemente lhes foram oferecidos, permitindo eliminar alguma intermediação e estabelecer contacto direto com os fornecedores finais. Nem tudo são, portanto, rosas. E, já agora, fica a nota de que o culminar da menorização foi a televisão oficial do certame fazer um programa com quatro portugueses a falar em inglês, só porque havia um convidado e organizador que apenas se expressava naquele idioma.
4) Depois das presidenciais americanas em que se confrontaram os dois piores candidatos de que há memória, olhemos para a França. No seu atual mandato, o socialista Hollande ultrapassou largamente os patamares do ridículo, já colocados muito alto pelo direitista Sarkozy. O que é triste é que o primeiro quer ser reeleito e o segundo quer voltar ao Eliseu. E como não há dois candidatos caricatos sem aparecer pelo menos um terceiro, há ainda a perigosa Marine Le Pen na corrida. A temível candidata não quis, entretanto, participar nas primárias da direita que Sarkozy disputa contra outros seis candidatos. Esperemos que desse lote saia alguém com dimensão política como, por exemplo, Alain Juppé. O resto da Europa certamente agradeceria que finalmente aparecesse um político digno da França, e não uma espécie de artista cómico.