No quadro de uma vida normal, na medida em que os anos passam e quando pouco mais poderemos ser do que aquilo que já somos, as ideias tornam-se claras e definitivas no que toca a referências, afetos, inclinações, curiosidades, receios e combates, independentemente dos genes, das razões de vida de cada um, e sempre na justa medida de todas as histórias pessoais, mesmo as improváveis. Tenho a minha história, as minhas referências, os meus afetos, com escala e espaço próprio para todos eles, tal como acontece com toda a gente. E chegando a esta coisa da “certa idade”, é cada vez mais raro poder desfrutar momentos ricos e saborosos com essas referências a quem devo parte daquilo que sou. São pessoas que um dia coloquei naquele patamar que nunca mudará, e onde estão os nossos essenciais, únicos e inalienáveis.
Ora, acontece que um desses meus essenciais é grande pelo exemplo que representa, e por isso aqui o refiro hoje, obrigatoriamente. Ainda que seja publicamente reconhecido como herói pátrio da liberdade, é discreto por índole, de extrema candura no trato, e completa hoje 98 lúcidos anos. Chama-se Edmundo Pedro, tem o coração do tamanho do mundo e a espessura própria de uma vida extraordinária. Ele próprio a vai contando pormenorizadamente, por escrito e já a caminho do quarto volume publicado. Incansável, inteiro de humanidade, entre a família, amigos e as causas que não cessa de conspirar. Com toda a alegria irei abraçá-lo mais logo, com o nosso “viva a República!” de sempre. Parabéns, mano velho, obrigado por existires na minha vida.