Anticorpos e telhados de vidro na Casa Branca


Que as eleições americanas têm sempre uma forte componente de encenação, não é novidade. Mas as deste ano ameaçam tornar-se uma espécie de opera buffa: uma vitória de Donald Trump seria um autêntico golpe de teatro, não só pelo inesperado do desfecho face às probabilidades iniciais, mas também pelo lado quase caricatural da figura em…


Se dúvidas subsistiam, Trump comprovou durante a campanha ser tudo aquilo que pensávamos sobre ele: um rematado troglodita, um exemplo perfeito de capitalista selvagem, um canastrão que não hesita em dizer, nas suas tiradas politicamente incorretas, as maiores barbaridades.

Quanto a Hillary, é sem dúvida uma mulher inteligente e mais sofisticada do que o seu oponente. Mas aquilo que Trump tem de boçal – e, logo, de autêntico –, ela tem de dissimulado. Hillary apresenta-se ainda com uma imagem desgastada por muitos anos de proximidade com o poder e, obviamente, marcada por escândalos: o do marido com a estagiária Monica Lewinsky e, mais recentemente, o da sua conta de email.

Seja como for, não pode deixar de se colocar esta questão: como é possível que a figura mais poderosa do mundo saia de entre dois candidatos com tantos anticorpos e tantas fragilidades?

Se Trump e Hillary fossem candidatos à Presidência em Portugal, estou certo de que muitos encolheriam os ombros e diriam : “É o país que temos.” Eu próprio acharia surreal que houvesse apenas dois candidatos tão pouco convincentes. Mas nem sequer estamos a falar de um pequeno país no extremo da Europa. Estamos a falar de uma nação ultradesenvolvida e cheia de gente talentosa.

Não haverá uma explicação cabal para esta aparente contradição, mas ela permite-nos, no mínimo, formular uma suspeita: contrariamente a um dos princípios orientadores dos EUA, não é tanto o mérito pessoal mas sim outros interesses que definem quem será o hóspede da Casa Branca. Se esses interesses são ou não obscuros, isso já é outra história.

Anticorpos e telhados de vidro na Casa Branca


Que as eleições americanas têm sempre uma forte componente de encenação, não é novidade. Mas as deste ano ameaçam tornar-se uma espécie de opera buffa: uma vitória de Donald Trump seria um autêntico golpe de teatro, não só pelo inesperado do desfecho face às probabilidades iniciais, mas também pelo lado quase caricatural da figura em…


Se dúvidas subsistiam, Trump comprovou durante a campanha ser tudo aquilo que pensávamos sobre ele: um rematado troglodita, um exemplo perfeito de capitalista selvagem, um canastrão que não hesita em dizer, nas suas tiradas politicamente incorretas, as maiores barbaridades.

Quanto a Hillary, é sem dúvida uma mulher inteligente e mais sofisticada do que o seu oponente. Mas aquilo que Trump tem de boçal – e, logo, de autêntico –, ela tem de dissimulado. Hillary apresenta-se ainda com uma imagem desgastada por muitos anos de proximidade com o poder e, obviamente, marcada por escândalos: o do marido com a estagiária Monica Lewinsky e, mais recentemente, o da sua conta de email.

Seja como for, não pode deixar de se colocar esta questão: como é possível que a figura mais poderosa do mundo saia de entre dois candidatos com tantos anticorpos e tantas fragilidades?

Se Trump e Hillary fossem candidatos à Presidência em Portugal, estou certo de que muitos encolheriam os ombros e diriam : “É o país que temos.” Eu próprio acharia surreal que houvesse apenas dois candidatos tão pouco convincentes. Mas nem sequer estamos a falar de um pequeno país no extremo da Europa. Estamos a falar de uma nação ultradesenvolvida e cheia de gente talentosa.

Não haverá uma explicação cabal para esta aparente contradição, mas ela permite-nos, no mínimo, formular uma suspeita: contrariamente a um dos princípios orientadores dos EUA, não é tanto o mérito pessoal mas sim outros interesses que definem quem será o hóspede da Casa Branca. Se esses interesses são ou não obscuros, isso já é outra história.