Se dúvidas subsistiam, Trump comprovou durante a campanha ser tudo aquilo que pensávamos sobre ele: um rematado troglodita, um exemplo perfeito de capitalista selvagem, um canastrão que não hesita em dizer, nas suas tiradas politicamente incorretas, as maiores barbaridades.
Quanto a Hillary, é sem dúvida uma mulher inteligente e mais sofisticada do que o seu oponente. Mas aquilo que Trump tem de boçal – e, logo, de autêntico –, ela tem de dissimulado. Hillary apresenta-se ainda com uma imagem desgastada por muitos anos de proximidade com o poder e, obviamente, marcada por escândalos: o do marido com a estagiária Monica Lewinsky e, mais recentemente, o da sua conta de email.
Seja como for, não pode deixar de se colocar esta questão: como é possível que a figura mais poderosa do mundo saia de entre dois candidatos com tantos anticorpos e tantas fragilidades?
Se Trump e Hillary fossem candidatos à Presidência em Portugal, estou certo de que muitos encolheriam os ombros e diriam : “É o país que temos.” Eu próprio acharia surreal que houvesse apenas dois candidatos tão pouco convincentes. Mas nem sequer estamos a falar de um pequeno país no extremo da Europa. Estamos a falar de uma nação ultradesenvolvida e cheia de gente talentosa.
Não haverá uma explicação cabal para esta aparente contradição, mas ela permite-nos, no mínimo, formular uma suspeita: contrariamente a um dos princípios orientadores dos EUA, não é tanto o mérito pessoal mas sim outros interesses que definem quem será o hóspede da Casa Branca. Se esses interesses são ou não obscuros, isso já é outra história.