Nada está decidido e muito já está decidido. A provável vitória de Hillary, ainda que, no dia de hoje, por uma curta margem explica o empenho dos Obamas na recta final da campanha eleitoral. Cheira a acordo para lançar Michelle Obama. Fará parte de uma administração de Hillary? Será a candidata Democrata depois do primeiro e único mandato de Hillary?
O apuramento final dos votos aguarda pela noite de 8 de Novembro mas estas eleições já têm resultados expressivos. O mais evidente resulta do novo papel das redes sociais e a sua manipulação através de robots que simulam a existência humana na arena virtual. Ignorado inicialmente pelos media, Trump usou, com sucesso, as redes sociais para obrigar os media a repetirem o seu discurso político.
Também nestas eleições se assistiu, como nunca tinha acontecido, à passagem dos media de mediadores da mensagem política a actores políticos. A esmagadora maioria decidiu expressamente apoiar Clinton. E o efeito deste alinhamento, ao reforçar a desconfiança do eleitorado Republicano, não deixou de beneficiar Trump.
O pós-eleições anuncia-se conturbado. O sistema eleitoral maioritário complica a digestão dos resultados. O candidato que reunir maior número de votos em cada Estado ganha os votos de todos os grandes eleitores. Como a proporcionalidade não é perfeita na relação entre o número de eleitores e o número de grandes eleitores (há, como em todos os sistemas proporcionais, “representantes” que custam menos votos do que outros, como em Portugal se elegem deputados com diferentes números de votos) há a possibilidade de o candidato eleito não ser necessariamente o mais votado. Este sistema eleitoral maioritário explica a aposta nos Estados que não têm um maioria clara a favor de um ou de outro partido (swing states). Para Hillary não vale a pena fazer campanha no Texas e para Trump não vale a pena fazer campanha na Califórnia.
Mais de 23 milhões de americanos já votaram. E votaram com as sondagens a darem Clinton como vencedora. E consta que no voto antecipado Clinton ganhou. Pode ser o bastante para lhe dar a vitória pela margem mínima no número suficiente de swing states.
Qualquer dúvida sobre a fairness dos resultados alimentará o ressentimento do perdedor e condicionará o futuro dos dois partidos hegemónicos. O que irá fazer Trump com o resultado? A América WASP que se descobre minoritária vai passar à luta armada ou à clandestinidade?
Clinton é uma profissional e nunca houve candidato melhor preparado para o exercício das funções de POTUS. Já a vi, ao vivo e a cores, em sede bilateral e em sede multilateral, recém saída de 11 horas de avião e com quase outras tantas de jet lag, a negociar de forma eficaz, convincente e elegante. Trump é um ignoramus. E como com Bush jr., há uma grande parte dos EUA que se identifica com o candidato. Não só no registo “se ele pode ser Presidente eu também poderia” mas também no registo “estamos fartos dos bonitos, elegantes, cultos e de serem sempre os mesmos”. O casal Clinton não é muito amado em muitos sítios da real America.
Trump, ao considerar o emailgate mais grave do que o Watergate, faz pela vida: joga na amoralidade procurando tornar equivalentes o emailgate e as suas tropelias sexuais, financeiras e legais. Para a América que nunca gostou dos Clinton é razão bastante para votar Trump. Para os outros pode fazer alastrar a dúvida e mantê-los longe das cabines de voto no dia 8.
O crescendo de Trump nas sondagens pode trazer mais votantes (ninguém gosta de votar e perder) mas também pode mobilizar apoiantes de Clinton que ficariam em casa, confiando na vitória anunciada.
E fica a ameaça de um POTUS eleito e sob investigação, com um Congresso maioritariamente Republicano acenando com o fantasma do impeachment que já assombrara o outro Clinton.
Escreve à sexta-feira