Nic Von Rupp foi eliminado na terceira bateria e não ficou para a grande festa final, apesar de ter um cheque de 500 euros em seu nome, prémio pelo Best Claim. O i ligou ao surfista da Praia Grande para perceber a razão da ‘fuga’ e falar sobre os planos futuros. Nic Von Rupp, de 26 anos, desvendou qual seria plano B, se abdicasse das ondas.
Porque é que saiste do evento antes da cerimónia de entrega de prémios onde, inclusivamente, até ias receber um?
Porque não fiz parte da final. Não gosto quando perco. Acho que deveria fazer parte dessa final e já que não aconteceu dessa forma decidi ir passar esse tempo para outro lado. Fico de certa forma frustrado por não ter chegado à final por isso mais valia ir para outro sítio e respirar energia positiva do que estar ali, a sofrer no campeonato.
Ganhaste duas vezes (2013, 2014). Ficaste desiludido por não ter ganho pela terceira vez?
Não. Ganhar é difícil. É preciso que várias componentes se juntem para uma pessoa ganhar. Mas pelo menos chegar às fases finais estava à espera. O objetivo era fazer um bom campeonato, fazer boas notas, apanhar boas ondas e desta vez não foi o caso. No surf está-se constantemente a perder.
Como é que lidas com a derrota? Acreditas que se pode aprender a perder?
Já são vários anos a virar frangos. Não é o primeiro ano que compito. Há vezes que cai para o nosso lado, outras não apesar de sentir que sou um favorito naquelas condições, o mar simplesmente não colaborou. É sempre difícil lidar com a derrota, mas temos de aprender a lidar com ela e ganhar energia para a próxima [competição].
O Artiz Aranburu [vencedor], considerou-te um dos melhores tube riders da atualidade. Qual é o significado que isso tem para ti?
É uma alegria saber que me considera um dos melhores tube riders do mundo. Para mim, o Aritz é sem dúvida uma referência naquelas condições tubulares e sentir que estamos na mesma página é um orgulho enorme. Uma vez que o Aritz já derrotou grandes atletas como o Kelly Slater, dá-me pica para continuar.
Vocês [surfistas] conseguem passar para o público uma ideia de companheirismo e amizade onde não é possível perceber o início da rivalidade…
Obviamente que há rivalidade. Somos todos muito competitivos, todos nós queremos ganhar, mas acima de tudo somos todos amigos. Temos mais ou menos a mesma idade, viajamos pelo mundo fora, passamos por situações mais complicadas devido à competição ou simplesmente pelas dificuldades de viajar. Acabamos por ser uma família muito grande que se apoia uns nos outros e isso está acima de tudo. O companheirismo acaba por ser muito forte mas, quando chega a altura da competição é cada um por si. Todos com o mesmo objetivo, ganhar.
É uma rivalidade que fica dentro de água?
Exatamente.
Qual é o surfista português que consideras que te pode ‘fazer frente’?
Elogio bastante o Kikas [Frederico Morais]. Acho que é uma pessoa muito competitiva, bem preparada, com os objetivos muito definidos e com muito talento. O Vasco Ribeiro também. Da mesma forma que elogio o Alex Botelho, que se tem afirmado a nível internacional em ondas grandes mostrando o seu potencial mesmo para subir como um dos melhores surfistas em ondas grandes. Estamos com muito talento em Portugal. E o mundo está com os olhos postos em Portugal, o que é bom. O que nos dá a possibillidade de demonstrarmos a nossa qualidade.
Qual foi a competição que mais te marcou até agora?
O campeonato que eu ganhei no México há uns anos. Foi o primeiro campeonato internacional – Pawa Tube Fest – com o mesmo conceito que o do Capítulo Perfeito. Alguns dos melhores nomes do mundo do surf onde também participou o Aritz, e eu acabei por ganhar o campeonato. Foi a minha primeira vitória a nível internacional, a que me lançou no mundo.
Já definiste os teus objetivos para 2017?
Estou numa fase de transição, não sei. Estou a perder um bocado a vontade de correr atrás de campeonatos em ondas pequenas. Estou-me a encontrar. Vou continuar a fazer aquilo que mais gosto que é continuar a ir à procura das maiores e mais perfeitas ondas que o mundo tem para oferecer e focar-me, preparar-me para apanhar ondas cada vez maiores e possivelmente bater recordes a remar nas ondas grandes.
Quando falas em perder um bocado a vontade de correr queres dizer o quê, ao certo?
Tenho de ver agora o que vou fazer para o ano. Como sou uma pessoa espontânea vou-me guiar pelas minhas emoções de momento e, quando chegar a altura de recomeçar logo se vê. Os objetivos de preparação continuam a ser os mesmos, estar o mais preparado possível seja para competição ou para as ondas grandes.
No dia em que deixares o surf tens um plano B?
Sim, claro que sim. Acredito na vida pós-surf. Neste momento entrego-me inteiramente ao surf, mas acredito que vou ter sucesso fora da minha carreira de surfista profissional. Não é uma coisa em que pense neste momento. Tenho 26 anos e acredito que a minha carreira ainda vai durar. Aliás, tudo indica que a minha carreira ainda vai durar pelo menos 10 anos.
Mas podes desvendar qual seria o plano B?
Como sou patrocinado pela Hurley, que faz parte da Nike, sempre fiz parte dos sales meetings e fizeram-me várias propostas. Adoro o meio do surf e vou estar associado ao surf para o resto da vida. Trabalhar para uma marca, no departamento de marketing, ou diretamente com os atletas. É o que eu sei fazer melhor, a minha vida é o marketing e eu sendo um atleta, sei perfeitamente do que um atleta precisa. É um plano B muito longínquo, mas é sem dúvida o que quero seguir.
Já sabes qual é a próxima viagem que vais fazer?
Agora é muito pela Europa. Irlanda, Canárias… Havai também está no mapa. As minhas decisões são muito ao bater do meu coração por isso é o que vier. Sem dúvida que este ano me vou dedicar um bocadinho mais à Nazaré, principalmente com o campeonato do mundo de ondas grandes que vai decorrer agora nos próximos meses. Vou estar muito focado aqui por Portugal.