O regresso da política


António Costa vai perceber rapidamente que só formou governo em virtude das promessas que fez a estes partidos e que em tudo o resto vai arcar sozinho com as agruras da governação


A semana passada demonstrou que a paz podre em que o país vive ameaça desaparecer tão depressa como o bom tempo com a chegada do inverno. Em primeiro lugar, no PSD, Passos Coelho desafiou os seus críticos a aparecerem e estes rapidamente lhe fizeram a vontade, primeiro com o movimento de reflexão Portugal Não Pode Esperar e, depois, com o enésimo avanço de Rui Rio. A inércia do PSD não vai, assim, continuar por muito mais tempo. Não há nenhum partido que aceite um líder que insiste em comportar-se como o comandante do Titanic.

A geringonça também já viveu melhores dias. Apesar de o PCP e o Bloco continuarem a engolir alguns sapitos, apoiando casos estranhíssimos como o das falsas licenciaturas no Ministério da Educação, já não se mostram dispostos a engolir sapos maiores. Assim, enquanto o governo laboriosamente conseguiu um estatuto de exceção para o presidente da CGD que o convencesse a aceitar o cargo, o PCP e o Bloco ameaçam desfazer esse estatuto, voltando a colocar a situação da Caixa na estaca zero. António Costa vai assim perceber rapidamente que só formou governo em virtude das promessas que fez a estes partidos e que em tudo o resto vai arcar sozinho com as agruras da governação. A breve trecho se verá, por isso, obrigado a tomar medidas contra todo o parlamento, caso em que a fragilidade do seu governo ficará à vista. 

Quem não quer saber disso é o Presidente Marcelo, que tem seguramente assuntos mais importantes com que se ocupar. Já esta semana teve uma retemperante visita a Cuba, com o aliciante turístico de ter visitado o próprio Fidel Castro, a quem seguramente pediu autógrafos para toda a família. Depois foi à Colômbia para a Cimeira Ibero-Americana, onde desafiou os chefes de Estado e de governo a visitarem Fátima por altura do centenário das aparições. Seria, de facto, fascinante ver em Fátima líderes como Raúl Castro, Nicolás Maduro ou Evo Morales a ouvir a mensagem de Nossa Senhora sobre os erros que a Rússia iria espalhar sobre o mundo a partir de 1917. A situação política portuguesa é que provavelmente não andará tão pacificada por essa altura.

Professor da Faculdade 
de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira 


O regresso da política


António Costa vai perceber rapidamente que só formou governo em virtude das promessas que fez a estes partidos e que em tudo o resto vai arcar sozinho com as agruras da governação


A semana passada demonstrou que a paz podre em que o país vive ameaça desaparecer tão depressa como o bom tempo com a chegada do inverno. Em primeiro lugar, no PSD, Passos Coelho desafiou os seus críticos a aparecerem e estes rapidamente lhe fizeram a vontade, primeiro com o movimento de reflexão Portugal Não Pode Esperar e, depois, com o enésimo avanço de Rui Rio. A inércia do PSD não vai, assim, continuar por muito mais tempo. Não há nenhum partido que aceite um líder que insiste em comportar-se como o comandante do Titanic.

A geringonça também já viveu melhores dias. Apesar de o PCP e o Bloco continuarem a engolir alguns sapitos, apoiando casos estranhíssimos como o das falsas licenciaturas no Ministério da Educação, já não se mostram dispostos a engolir sapos maiores. Assim, enquanto o governo laboriosamente conseguiu um estatuto de exceção para o presidente da CGD que o convencesse a aceitar o cargo, o PCP e o Bloco ameaçam desfazer esse estatuto, voltando a colocar a situação da Caixa na estaca zero. António Costa vai assim perceber rapidamente que só formou governo em virtude das promessas que fez a estes partidos e que em tudo o resto vai arcar sozinho com as agruras da governação. A breve trecho se verá, por isso, obrigado a tomar medidas contra todo o parlamento, caso em que a fragilidade do seu governo ficará à vista. 

Quem não quer saber disso é o Presidente Marcelo, que tem seguramente assuntos mais importantes com que se ocupar. Já esta semana teve uma retemperante visita a Cuba, com o aliciante turístico de ter visitado o próprio Fidel Castro, a quem seguramente pediu autógrafos para toda a família. Depois foi à Colômbia para a Cimeira Ibero-Americana, onde desafiou os chefes de Estado e de governo a visitarem Fátima por altura do centenário das aparições. Seria, de facto, fascinante ver em Fátima líderes como Raúl Castro, Nicolás Maduro ou Evo Morales a ouvir a mensagem de Nossa Senhora sobre os erros que a Rússia iria espalhar sobre o mundo a partir de 1917. A situação política portuguesa é que provavelmente não andará tão pacificada por essa altura.

Professor da Faculdade 
de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira