Como podemos cavalgar a saída do RU da Europa? Deixo aqui o meu singelo contributo num setor onde talvez possamos marcar alguns pontos.
Vamos por partes. Com a evolução das comunicações eletrónicas, o aparecimento dos OTT e o aumento exponencial do tráfego de internet começaram a aparecer internet exchange points (IXP), que são infraestruturas físicas por meio das quais os internet service providers (ISP) trocam tráfego IP entre as suas redes como sistemas autónomos, reduzindo o seu custo médio por bit na entrega dos serviços e aumentando o número de caminhos de tráfego. Em suma, um IXP permite que diversas redes se interconectem diretamente em vez de se utilizarem terceiros (ou intermediários, se quiserem). As vantagens da interligação direta são muitas, mas as principais são o menor custo, a menor latência e a maior largura de banda.
Com esta alteração, junto a estes IXP fixaram-se também os grandes produtores e armazenadores de conteúdos (os chamados OTT) que, naturalmente, são uma mais–valia para qualquer economia. Os principais IXP na Europa são o de Londres (mais de 600 ISP) e de Amesterdão (800 ISP).
Porquê aqui? Porque são pontos de amarração de cabos submarinos, e os respetivos governos, num quadro de estratégia nacional, concederam amplos benefícios institucionais (impostos, isenções, incentivos, etc.) para atrair quer os ISP, quer os produtores e gestores de conteúdos (onde se incluem data centres, clouds, etc.).
As leis de licenciamento de conteúdos sempre foram muito favoráveis no RU mas, com as alterações resultantes do Brexit, vários países têm apresentado os seus méritos para poderem acolher as empresas que querem deslocar as suas operações neste período de incerteza.
Esta é mais uma oportunidade para Portugal – a possibilidade de resgatar alguns dos ISP concentrados em Londres e criar um grande polo de IXP em Portugal, olhando sobretudo para o aumento de tráfego que é gerado nos países lusófonos. O número de utilizadores na CPLP tem aumentado de forma considerável e o número médio de utilizadores está ainda abaixo dos 50%, o que permite antever, a médio prazo, um crescimento ainda maior.
Portugal tem inúmeras vantagens para se adiantar na pretensão de acolher estes serviços ligados ao setor das comunicações (posição geoestratégica ímpar, boas infraestruturas, bons profissionais, CAPEX e OPEX muito abaixo dos restantes países da Europa, etc. No entanto, contamos apenas com um pequeno IXP, o GigaPIX, que agrega apenas 29 ISP (25 em Lisboa e 4 no Porto). Muito pouco, tendo em conta a posição geográfica nacional.
É preciso é pensar! E pensar como cavalgar o Brexit!
Escreve às quintas-feiras