António Zambujo: ‘É absurdo colocar amarras em qualquer tipo de arte’ [vídeo]

António Zambujo: ‘É absurdo colocar amarras em qualquer tipo de arte’ [vídeo]


Partilham o mesmo amor pela música, pelas tertúlias, pelo copo na mão. Com os anos de visitas ao Brasil, entre António Zambujo e Chico Buarque foi nascendo um amizade com base em muita admiração. Tanta que chegou ontem às lojas “Até Pensei que Fosse Minha”, álbum que o fadista que é muito mais que apenas…


Porquê lançar um álbum exclusivamente dedicado a Chico Buarque?

Porque sim. (risos) Tem tudo a ver com uma série de fatores que acabaram por ser decisivos nesta escolha, nomeadamente a minha aproximação ao Brasil, que já vem de há uns seis ou sete anos a esta parte, e a minha aproximação pessoal ao Chico. O timing também era perfeito porque estávamos com um ano e pouco de distância do último disco, “Rua da Emenda”. Era uma altura em que fazia todo o sentido começar a pensar num disco novo e, apesar de nós já termos alguns temas originais preparados, acabei por decidir fazer antes este disco, que inevitavelmente teria de acontecer numa altura da minha vida. Foi agora.

Inevitavelmente porquê?

Acho que todas as homenagens são poucas quando se fala do Chico Buarque, da obra dele, de tudo o que ele já fez em relação à música e à escrita em português. Era inevitável por isso mesmo, porque ele é um dos maiores, se não mesmo o maior autor, de música cantada em português.

Quiçá um Nobel, agora que o precedente já foi aberto com Bob Dylan.

É engraçado porque, quando li a noticia sobre o Dylan, ao mesmo tempo ouvi falar de uma série de movimentos e assinaturas contra – acho isso muito estúpido e jamais o faria. Mas confesso que, quando li a notícia de que o Dylan tinha ganho o Nobel da Literatura, o primeiro pensamento que tive foi: “O próximo vai ser o Chico. Só pode ser o Chico!”

Como foi o processo que levou a este álbum? Foi pegar no telefone e dizer: “Chico, quero gravar um álbum de homenagem a ti?”

Não. Começámos a encontrar-nos com alguma frequência no Rio. Sempre que eu ia tocar ao Rio fazíamos sempre um almoço ou um jantar ou qualquer coisa. Numa fase inicial, quando se decidiu fazer este disco de homenagem, a escolha de reportório foi exclusivamente minha. Só que a pré-seleção de músicas tinha quase cem músicas. Estar a escolher as músicas mais importantes na obra do Chico, que se estende num espetro de quase 40 anos de carreira, é um bocado complicado. Depois, a subtração e a escolha de alguns temas – por exemplo, o caso específico de um tema que é o “Cecília” foi sugerido pelo Chico, que era uma música que nem conhecia e só depois fui pesquisar. Outras foram sugeridas pelo Marcelo Gonçalves, que é o diretor musical do projeto; e pelo João Mário Linhares, que é o produtor executivo e o nosso empresário no Brasil, e amigo, e também gosta daqueles ambientes de tertúlia à mesa em que, depois de 50 garrafas de vinho, começamos a ter ideias criativas. Tudo foi surgindo assim, dessa maneira, até que chegámos a um número final de músicas e decidimos que eram essas que iam ser gravadas.

A relação com Chico Buarque coincide com a aproximação ao Brasil, mas quando nasceu a paixão pela sua música?

Isso já vem de há muito tempo. A música brasileira começou a entrar na minha cabeça a ouvir João Gilberto – sou completamente fanático do João Gilberto e das interpretações dele. E com o João Gilberto acaba por vir um bocadinho de todo o Brasil porque ele, enquanto intérprete, cantava tudo, desde coisas mais antigas ao movimento Bossa Nova, ao Chico, ao Tom [Jobim], ao Vinicius [de Moraes], a todos esses autores de que depois, a partir do João Gilberto, eu fui começando a encontrar ramificações, para a frente e para trás, como o Pixinguinha, do Noel Rosa, do Cartola. Fui procurando isso tudo a partir do João Gilberto.

Já é um namoro muito antigo, portanto.

Já é uma coisa sólida. (risos)

É Caetano Veloso que assina o texto de apresentação deste álbum. Foi um pedido seu?

Não! Não peço nada a ninguém! O Caetano foi das primeiras pessoas a ouvir o disco lá no Brasil. Acho que foi o João Mário Linhares que o desafiou a escrever o que ele pensava do disco e ele apresentou esse texto.

Uma das coisas que Caetano Veloso refere nesse texto é que encontrou um Zambujo “mais metálico e ibérico”. No meio deste Zambujo, do Zambujo que canta Chico e do Zambujo fadista, onde ficamos?

Ui! (risos) É uma grande salganhada. Acho que a música que eu faço, mesmo antes deste disco do Chico, tem de assentar sempre em pilares, é muito importante. Para já, odeio rótulos. Há uma história muito engraçada em que perguntaram a um músico onde é que ele, numa loja de discos, colocaria o seu disco. E ele disse que criaria uma estante com o rótulo Miscelânea e colocaria aí os seus discos. A minha coisa é mais ou menos parecida. Nós somos, quer enquanto intérpretes quer enquanto compositores, o reflexo daquilo que ouvimos. O que me influencia é aquilo que oiço. A música que faço acaba por ser um reflexo disso tudo. Mas acho que, apesar disso tudo, é muito importante a música assentar em pilares sólidos. E os meus pilares são as minhas memórias musicais, as minhas primeiras influências. E essas são a música tradicional, principalmente da minha região, o Alentejo, e o fado. Essas estarão sempre presentes, de uma forma mais ou menos evidente serão sempre um pilar de toda a música. Depois, em cima disso… sabe-se lá.

Nunca se questiona se estará a trair algum desses pilares?

Não, não. Na arte não há traições.

Mas o fado e a sua gente cobram muito…

Mas eu não cobro nada à gente do fado. (risos) Não lhes peço nada, por isso eles também não têm de me pedir nada. Eu não digo a ninguém que sou fadista. Aliás, eu sou a primeira pessoa a afirmar que os meus discos não são discos de fado, que os meus concertos não são concertos de fado. São concertos onde também há fado. Mas eu não me vendo às pessoas, o meu concerto não é vendido como um concerto de fado. Nem em Portugal nem em lado nenhum.

Então porque acha que continua a ter esse cunho de fadista? Porque foi no fado que começou?

Talvez… Foram muitos anos em casas de fados, estive no Senhor Vinho uns sete anos. Diga-se de passagem que lá tinha total liberdade para cantar o que me apetecesse, não era obrigado a cantar fados tradicionais, cantava o que queria. À medida que os meus discos iam saindo cantava o que gravava e muitos desses temas não eram fado. Cantava desde música tradicional do Alentejo a músicas brasileiras que me pediam para cantar. Cantava de tudo, não tinha essa marcação cerrada dos fadistas.

Mas que é real.

Acho que isso já existiu mais. E é normal que isso tenha acontecido porque o meu primeiro disco, em 2002, era quase exclusivamente de fados tradicionais. Naturalmente que quem comprou esse primeiro disco e gostou, quando sai o segundo, em 2004, naturalmente tem a expectativa de comprar mais um disco de fado. Mas esse disco já tinha uma rutura total com o fado, já tinha muita influencia do Chet Baker e do próprio João Gilberto. Nessa altura houve umas conversitas… Mas não foi assim nada de especial. Mas houve algumas. O desporto preferido dos portugueses é dizerem mal.

Não deixa de ser curioso que a muito falada nova geração do fado, toda ela – até a Raquel Tavares, que era vista como a mais tradicional da nova geração -, tenha começado a explorar outros caminhos.

Não falando de mim e da minha carreira, mas do fado, acho que qualquer música tem de estar preparada e aberta para receber novas influências. Aquilo que as pessoas defendem hoje em dia como fado tradicional, quando foi criado era uma coisa vanguardista e contestada. A própria Amália, quando se juntou ao Alain Oulman, não queriam que ela gravasse Camões, David Mourão-Ferreira, Alexandre O’Neill, que consideravam poetas eruditos. É muito estúpido e absurdo colocar amarras em qualquer tipo de arte.

E pode ser castrador?

Se um artista estiver preocupado com o que os outros dizem, pode ser extremamente castrador. Por isso acho que é tão importante focarmo-nos numa coisa e seguirmos com ela. Se formos aceites pelo público, melhor. Se não, paciência.

O público que vai hoje aos seus concertos é o mesmo que foi aos primeiros?

Não, de maneira nenhuma. Hoje em dia tenho mais gente… Nos últimos três anos fizemos mais de 120 concertos por ano. Felizmente todas as salas por onde passámos estão esgotadas com muita antecedência. É sinal que aquilo que faço, não sei se está certo ou errado, mas é aceite por muita gente. E o reconhecimento do publico é o prémio mais importante que um artista pode ter. E tenho público que vai dos oito aos 80. Claro que muitas pessoas vão aos concertos e conhecem o “Pica do 7” e a “Lambreta” e pouco mais. Mas através dessas ficam a conhecer outras.

Quando se dá esse número de concertos, quando, com o Miguel Araújo, enche perto de 30 coliseus, sente-se tomado de assalto? É avassalador e até assustador?

Não. Só é meio assustador quando anunciamos dois coliseus em Lisboa e um no Porto e, a um ano de distância, já está tudo esgotado, e vamos abrindo novas datas e vão sempre esgotando, a uma velocidade absurda… Aí ficamos a tentar perceber o que aconteceu. Mas temos de nos deixar ir. Chega uma altura em que já não somos nós que controlamos.

 

Nesse caso dos concertos nos coliseus com o Miguel Araújo deu por si a tentar perceber o que se tinha passado?

Acho que não há explicação. Não vale a pena tentar andar à procura de uma resposta. Há uma coisa que é óbvia: há pessoas que gostam de nos ouvir. Mas tudo o resto não dá para perceber. É mesmo só deixarmo-nos ir. Ainda agora marcámos mais três datas, em Beja, e esgotaram as três noites em uma hora e meia. Acho que é mais importante desfrutar do que tentar encontrar explicações para o sucesso.

E não cair em pensamentos receosos do género “será que um dia vou deixar de esgotar salas”?

A vida dá muitas voltas. Acho que o mais importante é mesmo ter uma identidade e mantê-la. Hoje em dia muda tudo tão rápido, vive-se a uma velocidade tão assustadora que não adianta estar a apensar nessas coisas. O importante é mesmo ser fiel aos nossos princípios. E esperar que continuem a gostar de nós.

O que é mais comum dizerem-lhe ou pedirem-lhe quando o abordam na rua ou no final dos concertos?

Fotografias. Pedem-me muitas fotografias. E autógrafos.

E não tem declarações de amor?

Pela música. No ano em que saiu o “Quinto” há uma música do Pedro da Silva Martins, que se chama “Algo Estranho Acontece”, que foi usada em não sei quantos casamentos. O “Zorro” também é muito usado em casamentos. Às vezes pedem-me para mandar vídeos a desejar as felicidades.

Já falou várias vezes do Alentejo e da música tradicional dessa região. A música esteve presente na sua vida logo na infância, passada em Beja, onde nasceu?

Sim, desde sempre. Em casa e na rua. Os meus pais trabalhavam os dois e eu passei a minha infância em casa da minha avó, que já estava reformada nessa altura. E em frente à casa dela havia a Taberna do Cintra. Foi aí que tive o primeiro contacto com um grupo de homens a cantar e comecei a ter vontade de aprender. Depois, a minha avó conhecia as musicas tradicionais todas, porque o meu avô cantava em grupos, e foi ela que me introduziu nesse universo. Eu estava sempre a pedir-lhe para ela me ensinar letras. E depois, a pouco e pouco, ia-me aproximando dos homens da taberna e ia tentando cantar com eles.

E eles?

Lá me aceitaram. Sentavam-me em cima do balcão para eu cantar…

… e davam-lhe um copo de três.

Sim, mas com gasosa. (risos) É verdade! O sr. Cintra, o dono da taberna, era muito amigo da minha avó e não permitia que me dessem outras coisas. Eu era mesmo muito miúdo, isto foi antes de entrar para a escola primária, portanto tinha uns quatro ou cinco anos.

Apesar dessa espécie de escola feita na taberna, depois acabou por ir aprender a tocar clarinete, que não tem nada a ver…

Na casa da minha avó também havia instrumentos musicais – um acordeão, um piano, harmónicas, e talheres e cadeiras que eu transformava em instrumentos de percussão.

A sua avó devia adorar isso…

(gargalhada) Eu estava sozinho com ela, e ela, coitada, deixava-me fazer tudo. Era com estes instrumentos que eu ia tentando recriar as músicas que ouvia. E foi nessa altura que um amigo da família, que na altura estudava no conservatório, sugeriu aos meus pais que me inscrevessem lá para eu aprender música, para não ser só um autodidata.

E gostou do conservatório?

Era muito chato. Tinha de aprender o solfejo… Mas pouco depois deram-me um instrumento – escolhi o clarinete porque esse rapaz, que era vizinho dos meus pais, também tocava clarinete. A partir daí, o conservatório tornou-se um bocadinho mais interessante, mas ainda era chato.

Mas porquê o clarinete, que não tinha nada a ver com os cantares alentejanos?

Era para aprender música. E depois comecei a tocar numa banda filarmónica que havia em Beja. O próprio conservatório reunia orquestras para fazer apresentações e eu ia tocar.

Nessa altura deixou de cantar?

Deixei. Mas um bocadinho antes do conservatório ainda passei por um grupo de música tradicional, os Trigo Limpo, na parte infantil, que era os Trigo Limpinho. Ainda gravei dois discos com eles, um deles nos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos. Depois, quando saí deste grupo e entrei no conservatório, desliguei-me do canto. Começou a aparecer a vergonha e eu tinha vergonha de dizer aquilo de que gostava. Eu ouvia fado e música tradicional quase na clandestinidade porque, nos anos 80, se dissesse na escola que gostava de fado, estava condenado. Tinha um grupo pequeno, de três ou quatro, com quem ouvia estas coisas. Mas também ouvia outras músicas. Lembro-me de muitas férias de verão passadas a jogar ZX Spectrum e a banda sonora eram os Dire Straits. Mas depois tinha lá sempre escondido o disquinho de fado.

Disse que veio a Paço d’Arcos gravar um disco, ainda criança. Mas nessa altura Lisboa era ainda uma realidade muito distante ou vinha regularmente?

Ui! Nem existia! Eu vinha a Lisboa às vezes porque tinha uns tios da minha mãe que moravam em Carnide e eu vinha visitá-los. Mas resumia-se a isso. Lembro-me da primeira vez que fui ao estádio do Benfica assistir a um jogo. O estádio antigo!

E quando é que Lisboa deixa de ser uma realidade distante e passa a ser um local onde vem regularmente e já para cantar?

Eu morava em Beja, já tinha terminado o liceu e tinha deixado o conservatório. E tinha voltado a cantar com alguma regularidade, mas não muita. De repente convidaram-me para começar a cantar na Pousada dos Lóios, em Évora, duas vezes por semana. E os músicos que lá tocavam vinham alguns dias de Évora para Lisboa, para substituírem os músicos residentes do Clube de Fado, do Mário Pacheco. Numa dessas viagens, um dos músicos, o Mário Estorninho, convidou-me para vir com eles e conhecer o Clube de Fado. Estava lá uma amiga a cantar, a Ana Sofia Varela, que é de Serpa. Assisti à noite toda e, no final da noite, como o Mário Estorninho tinha dito ao Mário Pacheco que eu cantava, ele convidou-me para cantar. Acho que cantei o “Fado do Sobreiro”, que era um tema de que gostava muito. Ele pediu o meu contacto e, sempre que um artista não pudesse ir, convidava-me. E eu vinha de Beja para Lisboa.

Era um esticão ainda.

Era, mas eu gostava daquilo, gostava do ambiente e da oportunidade de cantar com músicos com muita experiência. Só não continuei mais tempo ali porque, por um feliz acaso, um produtor do La Féria estava lá e desafiou-me para um casting para um musical sobre a vida da Amália. Eu, como andava meio perdido, fui, até porque era uma maneira de vir viver para Lisboa. E foi o que aconteceu. Fui escolhido e vim para Lisboa viver e trabalhar. Durante quatro anos fizemos mais de mil representações, já deitava aquele musical pelos olhos.

Disse que se sentia perdido. Não sabia o que queria fazer da sua vida?

Não. Tinha uns 22 ou 23 anos, e há aquela imposição social para tomarmos decisões. Eu tinha um bar em Beja que me dava independência económica, mas que larguei quando vim para Lisboa. Fiquei a depender do La Féria (risos).

E a divertir-se pelas tertúlias de Lisboa?

Ah, muito, muito! Na altura era frequentador assíduo dos sítios onde havia música. Nesta coisa do fado, o giro é assistir ao vivo, é conhecer as pessoas… ter contacto direto com a história. Foi nesta altura que conheci muitos fadistas mais velhos, que partilharam comigo as suas histórias, e isso foi muito enriquecedor. Foi nessa altura que comecei a tocar viola e a conhecer os fados tradicionais. Ainda hoje é raro o fado que não sei tocar logo ao primeiro acorde.

Como acontece o primeiro álbum, “O Mesmo Fado”?

Estou a fazer o “Amália” e a frequentar essas tertúlias, e é aí que surge a ideia de gravar um disco, através de dois letristas que foram muito importantes: o Mário Rainho e o José Luís Gordo, casado com a Maria da Fé e dono do Senhor Vinho, para onde fui depois do La Féria e onde fiquei sete anos. O primeiro disco surgiu desse ambiente de tertúlias, de noites longas à mesa a pensar em poemas e em músicas.

E foi óbvio, logo ao segundo álbum, que não era o caminho do fado tradicional que queria continuar a seguir?

Nessa altura, sim. Estava tão obcecado com as coisas que andava a ouvir, como o Chet Baker ou o Tom Waits, que nem fado ouvia. Com o tempo, tenho vindo a moderar as minhas ideias, também não podia fazer cortes radicais com coisas que fazem parte de mim.

Houve algum momento em que sentiu que já não era o cantor da casa de fados com um ou dois álbuns, mas que se tinha tornado um sucesso?

Foi com o terceiro disco. Foi nessa altura que senti que as coisas estavam a ganhar outra dimensão. Foi também quando comecei a fazer concertos fora de Portugal. E alguns em Portugal, mas muito menos do que em França e no Brasil.

Nessa fase em que tocou mais fora do que em Portugal pensou que seria mais um…

… emigrante? (risos) Nunca pensei nisso, mas tinha pessoas próximas que comentavam que era sempre a mesma coisa: os portugueses só reconhecem os artistas quando eles são noticia lá fora. Lembro-me que, uma vez, o Caetano Veloso escreveu uma coisa no blogue dele sobre esse meu terceiro disco – acho que foi a Marília Gabriela quem lhe ofereceu. Nesse texto falava de mim e da Concha Buika, e dizia uma data de alarvidades como que eu fazia lembrar o João Gilberto. Nessa altura lembro-me de pensar que, graças a isso, iriam escrever notícias sobre mim. E assim foi.

O que recorda da primeira ida ao Brasil?

Recordo o primeiro concerto, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Recordo-me de estar no palco e na plateia estar o Caetano, o Moreno, o Ney Matogrosso, o Milton Nascimento, o Chico Buarque… Só pensei que estava tudo ao contrário. No final vieram todos falar comigo.

No Brasil há menos distância entre músicos consagrados e jovens, há mais a filosofia da parceria.

Sim. Mas em Portugal também começamos a ter isso. Por exemplo, eu tenho fama de ser a prostituta da música portuguesa, tenho colaborações com toda a gente (risos).

Não consegue dizer que não?

Consigo. Só aceito colaborações quando gosto do que me propõem. Continuo a estar na música só pela música.