Paquistão. Atentado contra academia mata 61 pessoas

Paquistão. Atentado contra academia mata 61 pessoas


Ninguém estva na escola para proteger as quase quatro centenas de jovens que lá dormiam. 


Os atacantes foram implacáveis e mataram como um batalhão. Três homens armados com espingardas automáticas, coletes suicidas e granadas entraram durante a madrugada desta terça-feira nas camaratas da academia de polícia da província paquistanesa do Baluchistão e lá mataram 61 jovens cadetes. “Não apareceu ninguém para nos ajudar e por isso atirámo-nos para o chão e escondemo-nos debaixo das camas”, contava ontem Peer Jan Naeem ao “Guardian”. “Fomos deixados à mercê de Alá.”

A verdade é que, ao longo de quatro horas, os cadetes estiveram à mercê dos atacantes, que tiveram apenas de trepar um muro de metro e meio feito de lama para entrarem no complexo da escola, onde centenas de jovens estão alojados e que antes já fora atingida por disparos de espingardas e lança-rockets. O Baluchistão é também uma das províncias mais inseguras do país, acossada não apenas por militantes separatistas, mas também por combatentes jihadistas, entre os quais o grupo Estado Islâmico, que foi um dos dois grupos a reivindicar o ataque desta terça-feira – o outro foi um ramo local dos talibãs paquistaneses.

O ataque aconteceu nos arredores de Quetta. Os sobreviventes contam que os três homens dispararam indiscriminadamente, no escuro, lançando várias granadas. A polícia diz que dois se fizeram explodir ainda dentro das camaratas e o terceiro atacante foi mais tarde abatido pelas forças especiais que entraram no grande complexo escolar.

Os dois hospitais de Quetta ficaram sem reservas de sangue e tiveram de pedir ajuda à população para cuidar dos 117 feridos que restavam. Mas as dezenas de pessoas que acudiram às instalações médicas fizeram-no com apreensão e lentamente, passando primeiro por sucessivos controlos de segurança da polícia.

Temia-se esta terça um novo atentado suicida às portas dos hospitais, como o que aconteceu em agosto, também depois de um ataque noutro local da cidade. Nesse dia morreram 73 pessoas. 

Durante a manhã, responsáveis locais e nacionais tiveram de responder às perguntas sobre a aparente falta de segurança na escola atacada, principalmente tendo em conta o massacre de 130 estudantes na escola pública do exército de Peshawar, em 2014. O porta-voz da província, Anwar-ul-Haq Kakar, admitiu ao “Guardian” que o governo “não prestou muita atenção à segurança do campo de treinos” e que a polícia local tinha baixado a guarda depois dos dias de alta tensão da festa Muharram, celebrada recentemente pelos xiitas paquistaneses, alvos comuns para jihadistas. 

O ataque desta terça-feira dá-se num momento de crise para o governo paquistanês, que já estava sob pressão pela falta de segurança no país. As mesmas figuras da oposição e líderes religiosos que organizaram grandes protestos em 2014, em Islamabade, prometeram retomá-los hoje e imobilizar a cidade ao longo de várias semanas.