De pouco têm servido as vagas de atentados suicidas e grandes explosões nos arredores de Mossul. Os militantes do grupo Estado Islâmico têm tentado, nos últimos dois dias, travar os avanços dos soldados curdos e iraquianos com sucessivos carros armadilhados, conduzidos a alta velocidade contra as linhas inimigas mas quase sempre detonados antes do tempo, algumas vezes pelos aviões da coligação norte-americana e outras por disparos dos combatentes leais ao governo, que aprenderam com combates passados a antever este tipo de estratégias. “Estão desorientados”, dizia ontem um responsável de topo nas tropas curdas chamado Hoshiyar Zebari. “Eles não sabem se vamos atacá-los do leste, oeste ou norte.”
As tropas governamentais avançaram mais do que se esperava nos primeiros dois dias de campanha. “Estamos adiantados nas operações”, anunciava o Pentágono antes do começo do segundo dia de manobras para a reconquista de Mossul, cidade que, para os jihadistas, é mais do que a sua capital iraquiana: é também o berço do seu suposto califado, o local onde ele foi anunciado ao mundo pelo seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. Ao fim da tarde de ontem, a aliança de soldados curdos e iraquianos que avança pelo leste e sudeste conquistara 20 pequenas localidades, completando a primeira fase das operações. Nos próximos dias, os avanços devem ocorrer a partir de outros pontos e pela mão de outras tropas.
Ninguém quer precipitar as operações, principalmente tendo em conta que ontem começaram a surgir as primeiras armadilhas de explosivos na berma da estrada. As tropas curdas e iraquianas estão ainda a 20 quilómetros do centro de Mossul, onde se espera que esteja concentrada a grande resistência jihadista e que estará ainda mais armadilhada do que as estradas que lá vão dar. Os próximos dias vão ser passados a consolidar as novas posições – ontem avistavam-se por lá vários bulldozers, que aprofundavam trincheiras e erguiam muros de terra para proteger contra atiradores furtivos e condutores suicidas. “Não será um ataque espetacular a Mossul”, afirmava Zebari. “Será muito cauteloso. É uma operação de grande risco para todos.”
Escudos humanos Ontem corriam rumores de que o próprio Al-Baghdadi e um grande especialista do Estado Islâmico em explosivos estariam em Mossul. A informação vinha do comando curdo, conhecido por exagerar este género de informações. A confirmar-se, porém, a presença do autoproclamado califa aumenta a probabilidade de uma grande resistência na cidade, de onde surgem já relatos de que as várias centenas de combatentes estão a ocupar edifícios civis e a usar a população local como escudo humano. Para já, porém, a batalha está ainda longe do centro e as ruas parecem calmas, mas os civis preocupam-se com o que há de vir. Os passadores pedem preços astronómicos para se sair da cidade e quem for apanhado a tentar fazê-lo é abatido.
“Toda a gente está em casa sem saber o que fazer”, contava ontem ao “Guardian” um residente que dava pelo nome de Muhammad. Segundo ele, os combatentes extremistas “andam sobretudo por aí de motas, com pequenas e grandes armas”, tentando escapar aos aviões da coligação norte-americana. “Começaram a bombardear por volta da uma da manhã, estão constantemente nos céus e ocasionalmente atingem alvos”, disse. “As pessoas de Mossul estão fartas. A maioria das pessoas quer o Daesh fora o mais rápido possível.”