A evocação parlamentar dos 20 anos da CPLP


A CPLP é demasiado importante para ser desvalorizada e até, em alguns domínios, criticada por vários setores da sociedade, inclusive por alguma direita e esquerda-caviar.


 

Olho por olho, o mundo acabará cego”

Mahatma Ghandi

O parlamento português, a propósito dos 20 anos da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que se comemoraram no passado mês de julho, dedicou cerca de 30 minutos no passado dia 12 de outubro (isso mesmo, cerca de 30 minutos!) para se pronunciar sobre tal evocação de uma organização internacional que tem sede em Portugal, que tem na sua origem e constituição a língua portuguesa e da qual fazem parte países onde muitos milhares de portugueses e de empresas trabalham e lucram, no dia-a-dia das suas vidas e das suas atividades. Foram três minutos distribuídos por cada grupo parlamentar (PSD, PS, BE, CDS/PP, PCP, PEV e PAN) para, na forma de intervenção, se pronunciarem sobre tal evocação. A que se juntou uma intervenção – reconheça-se, muito equilibrada – do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues. Este foi o tempo que o parlamento português decidiu destinar, no seu espaço parlamentar mais solene (o plenário), a uma organização que considero demasiado relevante para Portugal e para os portugueses e que continua a ser desvalorizada e, em muitos domínios, alvo de tentativas de “portugalização” desnecessárias.

 A par destes quase 30 minutos em sede de plenário, e depois de muita sensibilização, realizou-se nesse mesmo dia um colóquio num dos espaços do hemiciclo português também sobre a CPLP. Um colóquio igual a dezenas de outros que a casa da democracia portuguesa realiza com regularidade. Já o disse, escrevi e sustentei, por várias formas e várias vezes: a CPLP é demasiado importante para ser desvalorizada e até, em alguns domínios, criticada por vários setores da sociedade portuguesa, inclusive por alguma direita e esquerda-caviar. Com argumentos deslocados da realidade internacional e de outras organizações internacionais com algumas das características, objetivos e missões da CPLP. Aliás, muitos desses críticos não são coerentes com a avaliação que fazem de outras organizações e países, comparativamente com os seus Estados de direito, democracia, separação de poderes, liberdade de informação, liberdade de opinião e liberdade de reunião, etc. Antes pelo contrário. São coniventes há muito tempo com situações pouco enquadráveis nos tais “ditames exigíveis” que adoram mencionar quando se referem à CPLP e sobretudo quando se referem a alguns dos governos dos diversos Estados-membros.

O exemplo da importância dada pelo parlamento português aos 20 anos da CPLP é, pois, sintomático. E na prática amplia ainda mais a não prioridade a esta organização internacional. E não há que deixar de referir que, de certa forma, atesta ilustrativamente alguns dos complexos que existem na sociedade portuguesa sobre a organização em si. Denota e transporta também para o plano parlamentar a não perceção de como, sobretudo no médio e longo prazo, a CPLP será em muitos domínios mais relevante do que a União Europeia, num triângulo estratégico onde o Atlântico Sul será relevantíssimo para um país como Portugal e um povo como o português. Longe vão os 20 anos de quando foi criada a CPLP. Aliás, desde a sua criação, nunca mais nenhuma organização internacional foi criada exclusivamente com base na língua. Antes pelo contrário. As que o tinham sido readaptaram-se a uma nova realidade internacional onde o critério económico assumiu uma importância significativa. O mundo que existia no tempo da criação da CPLP já não existe. Antes pelo contrário. Temos um mundo muito diferente. Faço parte dos que veem a CPLP como um instrumento relevante para o futuro dos seus povos e dos seus países. No domínio social, económico, cultural e político.

A nova visão estratégica da CPLP está muito clara quanto a esse desiderato. Olhar, pensar e viver a CPLP só a partir de Portugal, nas salas das suas embaixadas, dos seus países, em restaurantes de Lisboa, é muito, muito pouco. Quando será que perceberão que a CPLP deverá ser uma prioridade para Portugal? Sem complexos de superioridade. É que a CPLP tem todas as condições para se transformar numa organização internacional, relevante no concerto das demais, com particular preponderância no domínio económico, onde o pilar da energia assume especial importância, bem como no domínio cultural e linguístico, no mundo e na comunidade internacional, onde a unipolaridade europeia e ocidental tenderá a perder força.
O desenvolvimento económico e social dos povos dos vários Estados da CPLP poderá vir a ser maior e mais rápido se esta organização for dinâmica e atuar no seu conjunto com vários instrumentos, como a promoção de campanhas a favor da educação, da saúde e da construção de comunidades politicamente estáveis. Para além de muitos outros instrumentos jurídico-económicos que deverão ser assumidos no conjunto dos seus Estados.

Escreve à segunda-feira


A evocação parlamentar dos 20 anos da CPLP


A CPLP é demasiado importante para ser desvalorizada e até, em alguns domínios, criticada por vários setores da sociedade, inclusive por alguma direita e esquerda-caviar.


 

Olho por olho, o mundo acabará cego”

Mahatma Ghandi

O parlamento português, a propósito dos 20 anos da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que se comemoraram no passado mês de julho, dedicou cerca de 30 minutos no passado dia 12 de outubro (isso mesmo, cerca de 30 minutos!) para se pronunciar sobre tal evocação de uma organização internacional que tem sede em Portugal, que tem na sua origem e constituição a língua portuguesa e da qual fazem parte países onde muitos milhares de portugueses e de empresas trabalham e lucram, no dia-a-dia das suas vidas e das suas atividades. Foram três minutos distribuídos por cada grupo parlamentar (PSD, PS, BE, CDS/PP, PCP, PEV e PAN) para, na forma de intervenção, se pronunciarem sobre tal evocação. A que se juntou uma intervenção – reconheça-se, muito equilibrada – do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues. Este foi o tempo que o parlamento português decidiu destinar, no seu espaço parlamentar mais solene (o plenário), a uma organização que considero demasiado relevante para Portugal e para os portugueses e que continua a ser desvalorizada e, em muitos domínios, alvo de tentativas de “portugalização” desnecessárias.

 A par destes quase 30 minutos em sede de plenário, e depois de muita sensibilização, realizou-se nesse mesmo dia um colóquio num dos espaços do hemiciclo português também sobre a CPLP. Um colóquio igual a dezenas de outros que a casa da democracia portuguesa realiza com regularidade. Já o disse, escrevi e sustentei, por várias formas e várias vezes: a CPLP é demasiado importante para ser desvalorizada e até, em alguns domínios, criticada por vários setores da sociedade portuguesa, inclusive por alguma direita e esquerda-caviar. Com argumentos deslocados da realidade internacional e de outras organizações internacionais com algumas das características, objetivos e missões da CPLP. Aliás, muitos desses críticos não são coerentes com a avaliação que fazem de outras organizações e países, comparativamente com os seus Estados de direito, democracia, separação de poderes, liberdade de informação, liberdade de opinião e liberdade de reunião, etc. Antes pelo contrário. São coniventes há muito tempo com situações pouco enquadráveis nos tais “ditames exigíveis” que adoram mencionar quando se referem à CPLP e sobretudo quando se referem a alguns dos governos dos diversos Estados-membros.

O exemplo da importância dada pelo parlamento português aos 20 anos da CPLP é, pois, sintomático. E na prática amplia ainda mais a não prioridade a esta organização internacional. E não há que deixar de referir que, de certa forma, atesta ilustrativamente alguns dos complexos que existem na sociedade portuguesa sobre a organização em si. Denota e transporta também para o plano parlamentar a não perceção de como, sobretudo no médio e longo prazo, a CPLP será em muitos domínios mais relevante do que a União Europeia, num triângulo estratégico onde o Atlântico Sul será relevantíssimo para um país como Portugal e um povo como o português. Longe vão os 20 anos de quando foi criada a CPLP. Aliás, desde a sua criação, nunca mais nenhuma organização internacional foi criada exclusivamente com base na língua. Antes pelo contrário. As que o tinham sido readaptaram-se a uma nova realidade internacional onde o critério económico assumiu uma importância significativa. O mundo que existia no tempo da criação da CPLP já não existe. Antes pelo contrário. Temos um mundo muito diferente. Faço parte dos que veem a CPLP como um instrumento relevante para o futuro dos seus povos e dos seus países. No domínio social, económico, cultural e político.

A nova visão estratégica da CPLP está muito clara quanto a esse desiderato. Olhar, pensar e viver a CPLP só a partir de Portugal, nas salas das suas embaixadas, dos seus países, em restaurantes de Lisboa, é muito, muito pouco. Quando será que perceberão que a CPLP deverá ser uma prioridade para Portugal? Sem complexos de superioridade. É que a CPLP tem todas as condições para se transformar numa organização internacional, relevante no concerto das demais, com particular preponderância no domínio económico, onde o pilar da energia assume especial importância, bem como no domínio cultural e linguístico, no mundo e na comunidade internacional, onde a unipolaridade europeia e ocidental tenderá a perder força.
O desenvolvimento económico e social dos povos dos vários Estados da CPLP poderá vir a ser maior e mais rápido se esta organização for dinâmica e atuar no seu conjunto com vários instrumentos, como a promoção de campanhas a favor da educação, da saúde e da construção de comunidades politicamente estáveis. Para além de muitos outros instrumentos jurídico-económicos que deverão ser assumidos no conjunto dos seus Estados.

Escreve à segunda-feira