O exibicionismo virtual


Há quem entre num museu e tire uma fotografia do feito, o faça enquanto lê para mostrar o que estaria a ler se não estivesse a tirar uma foto. Mostrar o que se faz tornou-se tão fácil que quem não mostrar é porque não fez. Ou porque não gostou; senão, porque é que não mostra?…


Há quem entre num museu e tire uma fotografia do feito, o faça enquanto lê para mostrar o que estaria a ler se não estivesse a tirar uma foto. Mostrar o que se faz tornou-se tão fácil que quem não mostrar é porque não fez. Ou porque não gostou; senão, porque é que não mostra?

Se há coisa que gosto de fazer nas férias, ou enquanto viajo, é desligar. É indispensável para me reencontrar, dar tempo a mim mesmo de pôr a vida em perspectiva. Conhecer outros locais ajuda, mas temos de o fazer com a mente desocupada de likes, de links, de apps, das fotos tiradas naquele ângulo com aquela pose de quem assegura ser feliz. Porque se não o assegurasse, não era. 

O exibicionismo virtual tornou–se tão viral que já há movimentos contrários. A concepção de mindfulness centra-se nisso mesmo. E novas revistas, como a inglesa “The Simple Things” ou a francesa “Flow”, acentuam a contratendência de quem precisa de viver de outra maneira, mas que se julga de-sajustado por não querer embarcar na loucura mediático-virtual.

Até há uns anos, trabalhar bem era ficar até altas horas da noite. Quem não saísse do escritório pelo menos às 10 da noite não tinha um emprego de jeito. Não interessava se na manhã seguinte entrasse às 11 da manhã. O imprescindível era sair tarde. Mas agora, já não. Agora sair cedo e estar inacessível nas férias é cool, mesmo que para os colegas seja imprescindível perceber o que ficou pendurado. Chegaremos ao dia em que a moda muda e a maioria exibirá o quanto é discreto.