O secretário-geral das Nações Unidas pediu na segunda-feira “uma enorme resposta” humanitária para ajudar o Haiti, onde se continua a temer um grande surto de cólera e morreram já mais de mil pessoas com o furacão Matthew. “Algumas cidades e aldeias foram praticamente apagadas do mapa”, disse Ban Ki-moon, enquanto em Genebra a agência da ONUpara os refugiados pedia 120 milhões de dólares em ajuda. “As tensões estão acumulam-se enquanto as pessoas esperam ajuda”, adiantou o secretário-geral.
A destruição atingiu sobretudo as zonas litorais do sudoeste do país, onde centenas de casas de zinco e madeira ficaram devastadas, os corpos estão a ser enterrados em valas comuns e as inundações alarmam responsáveis de saúde, que já registaram um pico de mortes por cólera, a doença que só nos últimos seis anos matou cerca de dez mil pessoas no Haiti. Estima-se que quase um milhão e meio de pessoas precisem de algum tipo de ajuda humanitária. Os fortes ventos, deslizes de terra e inundações atingiram mais de dois milhões.
De Les Cayes, por exemplo, uma das cidades mais severamente atingidas pelo furacão Matthew, surgem relatos de responsáveis locais, segundo quem jovens estavam a construir barreiras de ramos e pedras para travar camiões de assistência humanitária. O“Guardian” adianta que pelo menos um destes camiões foi atacado por um grupo de homens armados, que o assaltaram perto de um local onde se deu um grande deslize de terras. Transportava água, comida e material médico.
As colunas humanitárias têm ainda muita dificuldade em chegar a muitas das zonas devastadas, como a Jeremie, por exemplo, onde morreram centenas de pessoas e os helicópteros quase não conseguem aterrar. Noutros locais ainda não há eletricidade e em muitos casos não existe linha telefónica, rádio ou cobertura de rede. Em vários sítios surgem histórias de corrupção e ineficácia semelhantes às que se ouviram nos dias do terramoto de 2010.
“Perdi tudo”, contava uma sobrevivente chamada Merlaine, em Port Salut, citada pelo jornal “Guardian”. Merlaine tinha uma ferida no pé, que fez ao pisar um prego. Segundo ela, o hospital mais próximo disse que só a trataria caso pagasse 150 dólares, que ela não tinha. “Vêem o que tenho vestido? Foi alguém que me ofereceu.”
Por enquanto não ocorreu ainda um surto de cólera das dimensões que muitos responsáveis humanitários temiam nos primeiros dias. Algumas reservas de água estão contaminadas e as bactérias que causam cólera propagam-se com facilidade pela água suja das inundações. Apesar disso, e de já terem morrido mais de dez pessoas de cólera desde a passagem do furacão Matthew, responsáveis da Organização Mundial de Saúde dizem que o número de casos confirmados “é ainda baixo”.