No passado sábado, Mario Vargas Llosa esteve no CCB a propósito da edição portuguesa da sua última novela, “Cinco Esquinas”, de oportuna e palpitante leitura. Foi entrevistado por Luís Caetano na luminosa Sala Almada Negreiros, plena de gente, apesar do sábado, do sol e da prainha, que persistia sedutora.
Com o belo cenário dos Jerónimos como fundo, o Nobel sentiu-se distendido e, sob a sábia discrição do entrevistador, com visível gozo pessoal, deixou-se conduzir por histórias de vida e múltiplas reflexões sobre a contemporaneidade. A sageza da sua fluência, empática, amigável, experiente, objetiva e despretensiosa, deu-me de imediato a cumplicidade dos ouvidos atentos, ante a profunda e refletida coerência do escritor, do ensaísta, do político empenhado e do homem que ama viver e trabalhar. Sim, falou da sua escrita, da extrema dureza do seu ofício, de Flaubert, mas também falou, e muito, do estado da arte, da civilização, da cultura, dos valores, da política e das redes sociais.
Porque afinal anda por aí, ameaçador, esse tal “nivelamento negativo” do mundo contemporâneo, global e comunicacional, de má urbanidade, “um mundo de especialistas e especializados que não têm mundo”.
E apesar de tudo, concluía o Nobel, “será sempre melhor uma democracia com alguns corruptos do que a corrupção natural de uma ditadura. Só que falta cultura à política…”.
Sem saber, ou sequer desconfiar da coincidência, o Nobel acabava de nos dar ali, naquela magnífica sessão, o complemento certo ao importante e notado discurso do Presidente da República no 5 de Outubro. A tal urgência do imperativo ético na vida das democracias.