António Guterres será o próximo secretário-geral da ONU. O anúncio foi feito ontem pelo embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, juntamente com outros membros do Conselho de Segurança – ao seu lado estava Samantha Power, embaixadora dos EUA.
“Desejamos boa sorte ao sr. Guterres no cumprimento dos seus deveres como secretário-
-geral das Nações Unidas nos próximos cinco anos”, afirmou Churkin.
O candidato português venceu a sexta votação consecutiva, com 13 votos de encorajamento e dois sem opinião. Isto significa que o ex-primeiro-ministro não teve qualquer veto por parte dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – China, França,_Reino Unido, Rússia e Estados Unidos.
Haverá hoje uma votação final para o Conselho de Segurança propor o nome de Guterres à Assembleia-Geral das Nações Unidas, que é quem decide o próximo líder da ONU. Ainda assim, dita a tradição que o nome sugerido acaba por ser o escolhido, pelo que o português deve mesmo suceder a Ban Ki-moon.
Georgieva pior que Bokova António Guterres e Kristalina Georgieva eram os grandes favoritos da corrida, que contava agora com dez candidatos. Mas ao contrário do que se esperava, a búlgara teve um fraco resultado nesta sexta votação, com oito votos de desencorajamento e cinco de encorajamento, tendo mesmo ficado muito aquém do resultado da rival do mesmo país, Irina Bokova, que teve sete votos de encorajamento e sete de desencorajamento.
O português, cuja candidatura foi apresentada pelo governo em fevereiro, já tinha sido o grande vencedor das anteriores cinco votações informais. Ainda assim, a candidatura de última hora de Georgieva – que só entrou na corrida na semana passada, após o governo búlgara ter anunciado que a apoiava – fez tremer quem acreditava que a corrida estava garantida para o ex-primeiro–ministro.
Georgieva cumpria os pré-requisitos informais que sempre foram falados desde o início deste processo: ser mulher, um desejo também expresso pelo atual secretário-geral, Ban Ki-moon, e da Europa de Leste. Mas tem também um currículo forte – trabalhou no Banco Mundial e na Comissão Europeia – e contava com o apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Tudo indicava que a Rússia também estaria a favor da búlgara, mas Moscovo terá sido um dos votos de desencorajamento da economista – de notar que a vice-presidente da Comissão Europeia era a responsável na UE pelas sanções contra a Rússia.
A verdade é que a posição de Moscovo tem sido volátil. No verão, a Rússia disse ter sido pressionada por Angela Merkel a patrocinar uma candidatura da vice-presidente da Comissão Europeia – situação que Berlim posteriormente negou – e que só apoiaria uma candidata búlgara se ela tivesse o apoio do seu país. Na altura, Sófia tinha escolhido como candidata Irina Bokova, a diretora-geral da UNESCO. Após os seus maus resultados nas votações informais, os búlgaros acabaram por desistir de Bokova – que decidiu manter a candidatura – e anunciaram Georgieva. Uma má jogada, como acabou por se confirmar ontem.
De resto, as movimentações de Berlim para apoiar Georgieva fazem com que este desfecho signifique uma derrota para Angela Merkel. Mas também para Jean-Claude Juncker, que deu uma inédita licença sem vencimento à comissária para entrar na corrida e manifestou o seu apoio à búlgara. Ontem, a Comissão Europeia recusava, de resto, comentar a vitória do português.
Quando surgiu a candidatura da economista, a Rússia apressou-se a clarificar que nada tinha que ver com esta situação, tendo mesmo pedido esclarecimentos a Sófia, uma vez que Bokova disse que não iria abandonar a corrida mesmo não tendo o apoio do seu país.
Já esta semana, após a audição de Georgieva perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, o embaixador russo na ONU veio a público dizer que a Rússia gostaria que o próximo secretário-geral da ONU fosse uma mulher e proveniente do leste da Europa.
A seguir, numa outra conferência de imprensa, Churkin disse que o próximo secretário–geral devia ser “o melhor candidato” apoiado pelo Conselho de Segurança e “popular” dentro das Nações Unidas.
Como tudo aconteceu Numa conferência de imprensa, que se realizou um dia antes da votação, o embaixador russo anunciou que a sexta votação teria início às 10h locais (15h em Portugal), e ainda não era meio-dia em Nova Iorque quando se soube da preferência do Conselho de Segurança. Não foi à toa que o russo disse aos jornalistas que estavam a assistir a algo “histórico”: nunca uma decisão foi tomada tão rapidamente.
Churkin explicou que, pela primeira vez, iriam ser utilizados votos de diferentes cores para distinguir as votações dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, todos eles com poder de veto.
O russo caracterizou todo este processo como “demorado” e disse mesmo que havia uma sensação de “cansaço construtivo” entre os membros do Conselho. Por isso, Churkin esperava que a votação levasse à recomendação “de uma boa pessoa” à Assembleia-Geral. Acabou por ser António Guterres.