Ao longo das primeiras temporadas apercebemo-nos de que o casamento dos Florrick se transforma numa ficção muito útil à carreira de Peter, mas não compreendemos as razões que motivaram a decisão de Alicia: medo, amor, lealdade ou a vontade de manifestar uma espécie de superioridade moral? Alguns leitores dirão que o casamento é isso mesmo: o amparo do outro apesar das suas falhas ou mesmo por causa dessas falhas; outros dirão que o amor, esse algo transcendente e inefável, não é uma necessidade e haverá outras razões para manter um casamento (como a educação dos filhos).
Certo é que, de mulher humilhada, mirrada e magoada, Alicia reconstrói a sua vida, educa duas crianças e, sem nunca repetir um outfit, torna-se uma poderosa e competente advogada que aproveita os benefícios de estar casada com o governador do Illinois para abrir o seu escritório, atraiçoando e descartando aqueles que lhe eram mais próximos, com a exceção (que compreendo tão bem…) de Cary (Matt Czuchry). Do trágico espólio do escândalo sexual do marido, Alicia esboça constantemente um olhar doce e, no seu rosto, um arzinho inocente e vulnerável que se torna útil quando decide concorrer para o lugar de state’s attorney, antes ocupado pelo marido. É então que a imprensa a rotula, certeiramente, de “Saint Alicia”.
De affair em affair, discretamente geridos, a série termina numa sétima temporada ambígua e com poucos esclarecimentos – muito ao estilo dos “Sopranos”, devo dizer. Alicia está sozinha, em sofrimento mas resiliente, a controlar as suas próprias decisões e senhora do seu destino. Neste final, caro leitor, a série é bastante diferente da vida de Hillary Clinton, cujo destino está exclusivamente nas mãos de vários milhões de americanos.
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