Da virgindade governativa do PCP ao regresso da política


A festa ‘geringonciana’, sustentada na distribuição de direitos e rendimentos, é uma ameaça para o futuro de Portugal e dos portugueses.


 

 

 

“A melhor parte da nossa vida é passada a aguardar o que vem.”

William Hazlitt

 

No passado mês de Setembro de 2015, partilhei publicamente que considerava (e isto na reta final da campanha eleitoral para as eleições legislativas) que o PCP estava prestes a perder a sua virgindade governativa de âmbito nacional, depois de a ter perdido há décadas no domínio da governança municipal. Depois, partilhei também publicamente, em outubro desse ano, após os resultados eleitorais, que estávamos  perante o regresso da política. Recordo-me como se fosse hoje, que numa reunião partidária, onde estive presente, foi referido indiretamente, a esse propósito, de alguém ter escrito que estávamos a regressar à política, no sentido nobre do termo, e que tal não era assim. Antes pelo contrário. Que a política era o que em anos anteriores (2011/2015) se tinha feito em Portugal.

Passado um ano, não escondo que é com alguma tristeza que constato que tive razão. Num caso (da virgindade governativa do PCP) e noutro caso (com o regresso da política). E digo com tristeza, porque essa antecipação política de pouco serviu. Nem para a simples satisfação do ego pessoal. Nem a deficiente avaliação política, de alguns dos distraídos e donos da soberba, que achavam  impensável que o PCP iria dar a mão ao PS a seguir às eleições de há um ano atrás. Tal não justifica que hoje se persista em não reconhecer vários erros cometidos. Que têm sido claramente prejudiciais para Portugal e para os portugueses. E o mesmo sucede, com os que não quiseram perceber, que por muitos problemas e “nós” jurídicos e económicos que o país iria ter, a política iria ser o instrumento maior da intermediação e resolução de muitos dos problemas e da procura da satisfação de muitas das necessidades coletivas dos portugueses e das portuguesas. Um ano depois, de pouco serviu ter tido razão antes do tempo mais uma vez. O país e os portugueses é que estão em perda. E mesmo os que falam como se fossem para o governo amanhã, esquecem que nada disso vai ser assim infelizmente. Antes fosse. Os portugueses estão cansados de más noticias e de discursos inflamados, à volta de ajustes de contas, de austeridade, de ouvir falar de contas e de números, de facilitismos na devolução de rendimentos disponíveis. Querem muito mais do que isso. Desconfiam cada vez mais da Europa. Exigem soluções rápidas e concretas. E são cada vez menos pacientes com narrativas só de curto prazo. É consultar e estudar os vários estudos quantitativos e qualitativos e perceber e interpretar o que vai na cabeça dos portugueses, sobretudo dos que fazem parte do segmento económico e social que tem o rendimento disponível médio mensal abaixo de mil euros. E isto só para dar um exemplo. Sendo um indicador importante. E já para não falar das feridas ainda por cicatrizar, entre descontentes e reformados, de milhares de famílias portuguesas. O país, mesmo com dificuldades, mudou nos últimos meses. E isso também se traduziu e muito na percepção eleitoral. Nada será como antes. O atual Governo do PS, suportado pela geringonça, tem falhado em várias áreas. A  sua destreza política vai ser posta à prova nos próximos meses. Mas de uma coisa  estou certo. O PCP e o BE já não são virgens na governação nacional. Antes pelo contrário. E o regresso da política veio para ficar por muitos e bons anos. Por isso impõem-se várias perguntas simples e frontais. Afinal para que serviu o parlamentarismo unilateral de conveniência imposto ao país a pretexto de uma política facilitista e perigosa?

Como é que vai ser alimentada a festa socialista e esquerdista, sustentada na distribuição de tantos direitos e rendimentos, que podem ser relevantes eleitoralmente mas pouco compatíveis com a nossa realidade?

A festa socialista e geringonciana é uma ameaça para o futuro de Portugal e dos portugueses. E para a combater é preciso sermos inteligentes e certeiros. E não apenas e só protagonistas do vaticínio negativo. Antes pelo contrário. Temos de ser em simultâneo portadores de esperança num futuro diferente. Para melhor. Sei que para os ensanduichados e até acantonados ao passado, isso não faz sentido. Mas antes de se projetar um futuro diferente, é imperativo olhar para trás e reconhecer os erros. Sobretudo no que diz respeito ao despeito e à soberba do regresso da política e também ao menosprezo pela entrada do PCP (e do BE) no arco da governação portuguesa. O preço está a ser alto demais.

Escreve à segunda-feira  


Da virgindade governativa do PCP ao regresso da política


A festa ‘geringonciana’, sustentada na distribuição de direitos e rendimentos, é uma ameaça para o futuro de Portugal e dos portugueses.


 

 

 

“A melhor parte da nossa vida é passada a aguardar o que vem.”

William Hazlitt

 

No passado mês de Setembro de 2015, partilhei publicamente que considerava (e isto na reta final da campanha eleitoral para as eleições legislativas) que o PCP estava prestes a perder a sua virgindade governativa de âmbito nacional, depois de a ter perdido há décadas no domínio da governança municipal. Depois, partilhei também publicamente, em outubro desse ano, após os resultados eleitorais, que estávamos  perante o regresso da política. Recordo-me como se fosse hoje, que numa reunião partidária, onde estive presente, foi referido indiretamente, a esse propósito, de alguém ter escrito que estávamos a regressar à política, no sentido nobre do termo, e que tal não era assim. Antes pelo contrário. Que a política era o que em anos anteriores (2011/2015) se tinha feito em Portugal.

Passado um ano, não escondo que é com alguma tristeza que constato que tive razão. Num caso (da virgindade governativa do PCP) e noutro caso (com o regresso da política). E digo com tristeza, porque essa antecipação política de pouco serviu. Nem para a simples satisfação do ego pessoal. Nem a deficiente avaliação política, de alguns dos distraídos e donos da soberba, que achavam  impensável que o PCP iria dar a mão ao PS a seguir às eleições de há um ano atrás. Tal não justifica que hoje se persista em não reconhecer vários erros cometidos. Que têm sido claramente prejudiciais para Portugal e para os portugueses. E o mesmo sucede, com os que não quiseram perceber, que por muitos problemas e “nós” jurídicos e económicos que o país iria ter, a política iria ser o instrumento maior da intermediação e resolução de muitos dos problemas e da procura da satisfação de muitas das necessidades coletivas dos portugueses e das portuguesas. Um ano depois, de pouco serviu ter tido razão antes do tempo mais uma vez. O país e os portugueses é que estão em perda. E mesmo os que falam como se fossem para o governo amanhã, esquecem que nada disso vai ser assim infelizmente. Antes fosse. Os portugueses estão cansados de más noticias e de discursos inflamados, à volta de ajustes de contas, de austeridade, de ouvir falar de contas e de números, de facilitismos na devolução de rendimentos disponíveis. Querem muito mais do que isso. Desconfiam cada vez mais da Europa. Exigem soluções rápidas e concretas. E são cada vez menos pacientes com narrativas só de curto prazo. É consultar e estudar os vários estudos quantitativos e qualitativos e perceber e interpretar o que vai na cabeça dos portugueses, sobretudo dos que fazem parte do segmento económico e social que tem o rendimento disponível médio mensal abaixo de mil euros. E isto só para dar um exemplo. Sendo um indicador importante. E já para não falar das feridas ainda por cicatrizar, entre descontentes e reformados, de milhares de famílias portuguesas. O país, mesmo com dificuldades, mudou nos últimos meses. E isso também se traduziu e muito na percepção eleitoral. Nada será como antes. O atual Governo do PS, suportado pela geringonça, tem falhado em várias áreas. A  sua destreza política vai ser posta à prova nos próximos meses. Mas de uma coisa  estou certo. O PCP e o BE já não são virgens na governação nacional. Antes pelo contrário. E o regresso da política veio para ficar por muitos e bons anos. Por isso impõem-se várias perguntas simples e frontais. Afinal para que serviu o parlamentarismo unilateral de conveniência imposto ao país a pretexto de uma política facilitista e perigosa?

Como é que vai ser alimentada a festa socialista e esquerdista, sustentada na distribuição de tantos direitos e rendimentos, que podem ser relevantes eleitoralmente mas pouco compatíveis com a nossa realidade?

A festa socialista e geringonciana é uma ameaça para o futuro de Portugal e dos portugueses. E para a combater é preciso sermos inteligentes e certeiros. E não apenas e só protagonistas do vaticínio negativo. Antes pelo contrário. Temos de ser em simultâneo portadores de esperança num futuro diferente. Para melhor. Sei que para os ensanduichados e até acantonados ao passado, isso não faz sentido. Mas antes de se projetar um futuro diferente, é imperativo olhar para trás e reconhecer os erros. Sobretudo no que diz respeito ao despeito e à soberba do regresso da política e também ao menosprezo pela entrada do PCP (e do BE) no arco da governação portuguesa. O preço está a ser alto demais.

Escreve à segunda-feira