A “Economist” tinha há dias um artigo sobre a nova arte da mentira na política. Se, até agora, um político mentia falsificando a verdade, atualmente o que sucede é que a verdade se tornou secundária. Um político que mente já não quer convencer os outros da existência de um mundo paralelo, mas realçar os sentimentos das pessoas em detrimento dos factos.
A revista menciona Donald Trump. Neste jornal, dou o exemplo do nosso governo. Porque o que temos presenciado é uma tentativa sistemática de desvalorizar factos realçando intentos, propósitos, com base em impressões. A aposta na suscetibilidade das pessoas, nos seus sentimentos e vontades que, se devidamente alimentados, como que validam dados incorretos, baralhando a verdade que se desfigura ao ponto de se tornar irreconhecível.
Assistimos a isso todos os dias na forma como o primeiro--ministro deprecia as críticas, de modo a que a jocosidade substitua a verdade como tema da discussão, que se torna rasteira. Vemo-lo quando afirma que a execução orçamental vai bem apesar de o OE 2016 ter sido feito com base num crescimento do PIB superior ao alcançado. E também no debate quinzenal no parlamento da semana passada. Aqui, Costa apresentou gráficos sobre a economia e as exportações, sem indicação de fontes, de tal forma enviesados que, em vez de se debater o tema em si, se discutiram os gráficos. A verdade remetida para segundo plano. Para que interessa a verdade se baralhamos os dados, lançamos poeira e saímos de fininho?
Advogado
Escreve à quinta-feira