“O contribuinte é uma pessoa que trabalha para o governo, mas sem ter feito concurso para funcionário.”
A.Blanqui
Cavaco Silva, antes e depois de indigitar António Costa para formar governo, procurou que se percebesse quais seriam as linhas vermelhas que o governo “da geringonça” estaria ou não disponível para pisar. Estou convicto que o fez mais a pensar no médio e no longo prazo e não tanto no curto prazo. Precisamente, porque sabia que nos primeiros meses António Costa tudo faria para dar sinais de tranquilidade para tomar posse, apresentar e aprovar o primeiro orçamento e fazer-se à vida. Sempre com o objetivo de ir fazendo a gestão política dentro e fora da geringonça e no país. Sim, porque se há coisa que temos de reconhecer é que além de formalmente António Costa ser o primeiro-ministro, ele é acima de tudo um gestor político. Um sobrevivente político que tem apetência para a negociação e para os acordos políticos de curto prazo. E só os incautos é que pensariam que os acordos assinados com o BE, o PCP e o PEV apenas seriam anexos do programa do governo. Que engano. Esses acordos, que fundaram a geringonça, como se tem constatado são um verdadeiro programa de governo paralelo. E ninguém pense que a extrema esquerda caviar, levada ao colo mediaticamente, que é o Bloco de Esquerda (BE) desistirá das suas agendas. Como representante no século XXI, de ideologias fracassadas do final do século XIX e do século XX, não desistirão da sua implementação, mesmo que canibalizando partidos políticos como o PS e o PCP.
É só seguirmos o seu guião. O último exemplo foi a diabolização do dinheiro e do património das pessoas. Com olhares cândidos e sonsos e vozes mansas e semblantes falsamente inofensivos, procuram à conta dos media novos e velhos, reafirmar que são decisões para o bem dos pobres, para reforçar a democracia e os direitos dos cidadãos, dos idosos e mais uma parafernália de argumentos carregados de demagogia e populismo de extrema-esquerda. Esta espécie de diabolização do dinheiro e do património das pessoas, não é mais do que parte de uma estratégia de longa marcha do BE de impor o Estado como senhor absoluto na sua relação com as pessoas e os particulares. Já tivemos outros exemplos no domínio dos costumes e da nacionalização do ensino. Estas últimas propostas, que bem podem incluir-se na Fúria Fiscal em Curso (FFC) atestam bem o que é a natureza do BE e os seus objetivos, na utilização do Estado por via da sua política fiscal. Só falta mesmo em nome do seu ideário político e social e económico inventarem outros impostos. Quais? Um imposto para quem se casa pelo civil ou pela igreja. Sobretudo para pessoas de sexo diferente. Um imposto para quem vive em família (pai, mãe e filhos) e não cada um por si. Um imposto para quem tem mais do que um filho, porque mais do que um é demasiado betinho e dá muito trabalho e despesa aos pais e tira-lhes tempo e dinheiro para outras vidas. Um imposto para quem vai à missa e a cerimónias religiosas. Um imposto relativo aos batizados. Um imposto sobre os avós que prepararam os últimos anos das suas vidas para ajudarem os seus filhos e netos. Um imposto para as mães que ficam com os filhos, vão à escola, que são as explicadoras e que não têm fins de semana, para os acompanhar nas atividades extracurriculares em vez de os deixarem em casa sozinhos. E já agora, um imposto aplicado às mulheres que andam bem apresentadas, usando vestidos ou saias e calças com saltos altos. Bem como um imposto para quem use gravata (porque a gravata é um dos símbolos maiores da burguesia e do capitalismo).
As suas propostas e intenções são para um mundo que não existe. Existiu no século XIX e em parte do século XX. O seu terrorismo social e a sua bufaria social, travestidos de falsas sonsarias e cândidas linguagens só são possíveis porque têm os media a seu lado. O PS ao precisar deles para no uso do parlamentarismo unilateral de conveniência formar governo, deu-lhes palco. E agora andam à solta. Como pouco acreditam (e as suas histórias pessoais e políticas atestam-no), na democracia representativa este jogo político serve-lhes apenas instrumentalmente. O que conta são apenas os resultados. E daí que faça sentido que sejam desafiados a serem coerentes. Já que dizem que temos um sistema parlamentar, apresentem propostas para o nosso sistema eleitoral assumir os círculos eleitorais de base uninominal e de apuramento maioritário simples. E não proporcional ou de Hondt. E se assim acontecer, logo veremos quantos deputados elegerão e o que vale o Bloco de Esquerda. A sua natureza e a sua existência convivem muito mal quer com a realidade, quer com a coerência. Mas quem os pôs dentro de casa que se não queixe que lhes andam a contar os pratos e as cadeiras. Haverá um dia que o preço a pagar será bem mais alto.
Escreve à segunda-feira