Não exagero quando digo que Julia Louis-Dreyfus ficará para a história da comédia. E o seu desempenho enquanto Elaine Benes, na melhor série do estilo (“Seinfeld”, claro), surge como um pequeno preâmbulo para o papel de “Veep”, a vice-presidente narcisista que, quase por acidente, será “Madam President”, uma poderosa mulher de tailleur com todas as fraquezas de uma pessoa normal, mas arrogância e ganância monstruosas.
Sobrevivendo a vários embaraços políticos, gafes e “gates”, com um look semelhante ao de Sarah Palin, com comportamentos e comentários inapropriados mas com um olhar e postura angelicais, Louis-Dreyfus combina uma pequeníssima (literalmente) presença física e uma aparência adorável com o efeito devastador da sua passagem pelos corredores da Casa Branca, insultando e praguejando com o staff em seu redor e gerindo o caos com uma capacidade única de afirmar banalidades e clichés.
Curiosamente, se Hillary perder, creio que assistir a “Veep” é uma antecipação da futura administração de Trump. Há semelhanças, por exemplo, em matéria de gafes: Trump errou a propósito do 9/11 chamando a essa terrível data 7/11 e ocorrem-me várias citações descabidas de Meyer. Mas há mais pontos em comum, como a denúncia da legitimidade de candidaturas à Casa Branca de certos políticos: Trump apresentava a dupla cidadania (EUA-Canadá) de Ted Cruz e Meyer questionava o local de nascimento de um governador com origens asiáticas.
No momento atual, em que as séries invadiram os nossos hábitos diários, Julia Louis-Dreyfus é, por comparação, uma espécie de Meryl Streep dos Emmys: seis nomeações seguidas com “Seinfeld” e quatro com “The New Adventures of Old Christine”. Com “Veep” foi quatro vezes nomeada e premiada no espaço de 25 anos. Ontem à noite, depois de, num discurso, reconhecer que a série “parece mais um documentário da realidade”, recebeu o quinto Emmy de melhor atriz em série de comédia.
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