Centeno diz que suspensão de fundos seria pior que multa

Centeno diz que suspensão de fundos seria pior que multa


Ministro lembra que suspensão de fundos teria forte impacto na economia portuguesa, afetaria a confiança e os planos de investimento.


O governo escreveu aos eurodeputados das comissões parlamentares envolvidas no diálogo estruturado entre o Parlamento Europeu (PE) e a Comissão Europeia chamando-lhes a atenção para o impacto que a suspensão de fundos estruturais poderia ter para o país, resultado do processo de sanções por défice excessivo. Na carta, com a data de 14 de setembro, mas que foi entretanto divulgada, o ministro das Finanças alerta para o facto de a suspensão de fundos europeus, mesmo que parcial e temporária, provocaria efeitos ainda mais danosos para a economia portuguesa do que a aplicação de uma multa, ou sanção.

A carta foi redigida antes de ter início o diálogo consultivo da Comissão Europeia com o Parlamento Europeu (o chamado “diálogo estruturado”) e dirigida aos presidentes das comissões parlamentares competentes – Iskra Mihaylova (Desenvolvimento Regional), e Roberto Gualtieri (Assuntos Económicos e Monetários) -, eurodeputados que as integram, bem como para os presidentes das comissões parlamentares de Agricultura, do Orçamento, de Emprego e de Pescas.  

No documento, o ministro começa por indicar que, ao decidirem, em finais de julho e início de agosto passados, o cancelamento da multa, a Comissão e o Conselho reconheceram que “Portugal sujeitou-se a um esforço de consolidação orçamental substancial e implementou um conjunto muito alargado de reformas estruturais”.

Mário Centeno diz ainda que, ao tomar uma decisão, a Comissão “deverá também ter em conta a situação económica e social dos países, sendo que Portugal continua com uma taxa de desemprego acima da média europeia, assim como o impacto na economia”, que, assinala o ministro, seria “forte”, pois “afetaria a confiança e os planos de investimento, muitos dos quais dependentes dos fundos comunitários”.

De acordo com o governante, a possível suspensão de fundos da União Europeia, ainda que apenas dos compromissos e mesmo que temporária, “iria minar os esforços em curso com vista a trazer crescimento sustentável e coesão social a Portugal, e melhorar a convergência com os parceiros europeus”. Isto porque,  a Comissão já indicou que uma suspensão só afetaria fundos no futuro, e não dos pagamentos de fundos já atribuídos.

Por outro lado, lembra que, iria “dificultar a capacidade de implementação do programa nacional de reformas”, que a própria Comissão Europeia já classificou de “sólido”, bem como o cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento, numa altura em que o governo está a implementar as medidas necessárias para alcançar um défice de 2,5% do PIB em 2016, e assim retirar o país do procedimento por défice excessivo. Desse modo, segundo Centeno, a suspensão de fundos “seria não só injusta e contraproducente, como iria contra os regulamentos”.

No quadro do processo de sanções lançado contra os dois Estados-membros no âmbito do Procedimento por Défice Excessivo, a Comissão acabou por recomendar, a 27 de julho passado, a suspensão de multas a Portugal e Espanha – decisão confirmada a 8 Agosto pelo Conselho Ecofin (ministros das Finanças dos 28) -, mas segue o processo de congelamento parcial de fundos, incontornável por ser automático.