É uma retórica que está esgotada", avisou o líder do PSD, que lembrou a ajuda que o seu partido foi obrigado a dar ao Governo de José Sócrates para impor medidas de austeridade que nem sequer conseguiram evitar um resgate.
"Quando essa retórica teve de passar aos atos e foi preciso tomar medidas de austeridade o PS virou-se para o maior partido na oposição pedindo-nos responsabilidade", recordou, assumindo que o PSD apoiou essas medidas "para poder evitar males maiores", mas nem assim "o mal maior" deixou de acontecer e a troika teve de vir para Portugal.
"Desta vez, se acontecer qualquer coisa desse tipo só por consequência de ato deliberado. Quem passou o que nós já passámos não pode aceitar que haja qualquer ingenuidade,desatenção, incompetência ou distração", afirma Passos.
Passos avisa que não vai mudar e que esse é o seu maior trunfo
No discurso de encerramento das jornadas parlamentares do PSD, Passos Coelho aproveitou para dar alguns conselhos aos deputados do partido sobre o ano que aí vem. Os sociais-democratas, defende, não devem embarcar no "debate instantâneo" nem deixar-se impressionar pela "fé inesgotável na capacidade de improvisar" da geringonça a que chamam "ter otimismo, confiança, ser positivo".
"Não andamos ao sabor das marés nem das opiniões", avisou o presidente do PSD, que acha mesmo que "esse é o facto que pode ser mais distintivo" daquilo que o partido tem para oferecer aos eleitores e que é acima de tudo a coerência de uma visão política com uma estratégia de médio e longo prazo que passar por uma agenda reformista.
"Ser coerente não é ser teimoso a defender sempre as mesmas coisas. Agora, temos de ser coerentes nos nossos valores e nos nossos princípios", disse Passos, que diz estar mais preocupado com o futuro do que com ganhar os debates políticos da "espuma dos dias".
"Nós não devemos estar muito preocupados com esse debate instantâneo ou pelo menos em ganhar esse debate instantâneo", aconselhou Passos Coelho à sua bancada parlamentar, acrescentando que "não basta estar a lidar com o presente, é preciso valorizar a nossa capacidade de resolver os problemas no futuro".
"Se alguém vos fustigar por não quererem fazer parte desse debate, ganhem alguma carapaça e façam de conta que esse debate vos atinge", pediu aos deputados do seu partido.
Passos deixou claro que não vai mudar uma vírgula aos alertas que tem feito sobre as consequências da política de reversões do atual Governo porque acredita que as condições económicas do país não permitem essa folga.
"Hoje vai predominando esta ideia de uma retórica que choca com a realidade", constata o líder da oposição, que acha que as esquerdas estão a tentar criar a ideia de que o seu Governo impôs "restrições desnecessárias à sociedade".
"Nós temos restrições", sublinha, apontando para o facto de "a retórica dominante" estar a ignorar essas restrições
ao criar "nas pessoas a ilusão de que não só no passado essas restrições eram falsas como hoje podemos ir além do que estamos a conseguir desde que essa seja a nossa vontade".
Passos está apostado em desmontar essa retórica do Governo e hoje, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD, exibiu um filme com o título "Retrato de um projeto falhado", cheio de imagens de promessas de António Costa e dos títulos dos jornais que contradizem o cumprimento das mesmas.
"O que se passa na prática é que os resultados não condizem nada nem com as intenções nem com a retórica", conclui.
Não há compromissos com quem "atira pedras" ao PSD
Passos também não tenciona mudar a atitude que tem tido em relação aos apelos a compromissos e pactos de regime, que considera não serem sinceros da parte do PS.
"Fazemos compromissos com os portugueses e com quem quer realmente fazer compromissos, não é com quem quer ensaiar a ideia de que quer fazer compromissos e nos atira pedras todos os dias", lançou o líder social-democrata, dizendo que já é tempo de o Governo se afastar da ideia de que o passado pode justificar os maus resultados do presente.
"Não vale a pena anda sempre a arranjar desculpas", disse, Passos Coelho, que prefere falar do futuro.
"Queremos que o futuro seja um futuro que não repita os erros do passado", afirmou, avisando que não se pode "vender a ilusão de que tudo o que temos de fazer melhora a vida de toda a gente".
De resto, esta é a mensagem mais forte de Passos Coelho: não mudará aquilo em que acredita para ganhar votos: "A nossa missão aqui não é agradar, a nossa missão aqui é reformar para pôr o pais num nível de bem estar superior".
Por isso, também não embarca na ideia de que as coisas poderão mudar se os países do Sul se juntarem para pedir mais flexibilidade na Europa. "Não é a andar à pedrada aos outros países que a gente resolve o problema da Europa".
Sobre o Orçamento do Estado, nem uma palavra. Passos Coelho só se pronuncia sobre o que conhece e não falará declarações enquanto não vir a proposta de Mário Centeno. "Aqueles que estarão à espera de me ouvir falar sobre o que o PSD vai fazer no próximo Orçamento do Estado ficará desiludido", admitiu, recordando que "não há Orçamento do Estado ainda".