Os últimos dados públicos acerca da situação económica e financeira já nos haviam demonstrado o caminho perigoso para onde este governo das esquerdas nos está a conduzir, com uma absoluta desorientação e pura navegação à vista. Mas à desorientação económica junta-se também a inabilidade política. Nos últimos dias, essa inabilidade foi especialmente sentida nas sensíveis áreas da Administração Interna, com a demissão do presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil por uma incrível falta de “consideração institucional”, nas palavras do próprio na sua carta de demissão, por parte da ministra, mas particularmente na Defesa Nacional.
Meses após o lamentável, desprestigiante e caricato episódio à volta da suposta discriminação no Colégio Militar, em abril passado – no qual o ministro da Defesa Nacional (MDN), no rescaldo de uma reportagem jornalística e sem esperar sequer pelas conclusões da inspeção levada a cabo pelos órgãos próprios do Exército (que vieram a revelar não existir qualquer discriminação na bicentenária instituição), tentou intrometer-se na cadeia de comando militar, o que levou à demissão do anterior chefe do Estado-Maior do Exército, general Carlos Jerónimo -, agora, o mesmo MDN, reincidindo no seu excesso de voluntarismo (ou protagonismo), mais uma vez antes do fim das investigações feitas pelos órgãos próprios, não só suspendeu todos os cursos de comandos previstos para o futuro como equaciona inclusivamente a extinção desta tropa de elite.
Se revelasse tamanha rapidez e destreza a resolver os crónicos problemas na sua tutela, certamente seria um melhor ministro e o país agradeceria.
A vida humana deverá ser sempre um princípio inviolável e, nesse sentido, são de lamentar profundamente as perdas de Hugo Abreu e de Dylan da Silva, no decorrer do 127.o Curso de Comandos, lembrando, contudo, que um dos fundamentos máximos de uma tropa especial como os comandos (mas também paraquedistas, fuzileiros ou operações especiais) é o de evitar ao máximo a perda de vidas humanas. Como tal, são treinadas ao limite, para que sejam realmente eficazes nos ambientes e cenários extremos que poderão enfrentar. Por isso mesmo é que estas forças são reconhecidas internacionalmente como as melhores entre as melhores.
Episódios como estes não deverão de todo acontecer, devendo no mais curto espaço de tempo ser apuradas todas as responsabilidades sobre o sucedido, melhorando procedimentos e punindo os prevaricadores (caso os haja). Contudo, manda o bom senso (à falta de melhor) que um decisor político revele firmeza e rapidez na decisão, mas ao mesmo tempo ponderação e discernimento sobre as instituições, pessoas e organizações que dirige, superintende ou tutela.
Com esta decisão, comunicada atabalhoada e vertiginosamente, num espaço de apenas um dia, primeiro como “MDN admite intervir após investigações à morte”, depois como “MDN suspende todos os cursos de comandos”, e ainda como “Exército, em articulação com o MDN, suspende os próximos cursos de comandos” e, finalmente, “Governo admite extinção dos comandos”, tomada mais uma vez em reação ao voraz apetite mediático (mas também do BE), este MDN revela uma total ausência de compreensão relativamente à instituição militar, cuja tutela política representa, mas também um perigoso voluntarismo que em nada se coaduna com a sobriedade e sentido de Estado que o país exige a um ministro da Defesa.
Não deixo, todavia, de notar que o apelidado governo das esquerdas, primeiro a ser constituído no quadro da atual Constituição, age irrefletidamente (e à primeira oportunidade) contra os comandos (equacionando desde logo a sua extinção!), precisamente a tropa especial que teve um papel preponderante no dia 25 de novembro de 1975, na derrota da intentona revolucionária protagonizada pelas forças mais radicais – curiosamente, hoje maioritariamente apoiantes desta solução governativa. Não há coincidências.