Costa devia ir para o Brasil gritar “Fora Temer”, certo?


O que é que o PCP e o Bloco queriam que Costa fizesse? Gritasse “Fora Temer”? Cortasse relações com o Brasil? É percetível que, na impossibilidade de acabar com a austeridade, a esquerda se dedique a atacar o PM por aquilo que ele nunca poderia fazer: não reconhecer Temer


O massacre de Tianamem marcou a minha geração. Foi uma tentativa de “primavera de Pequim”, em 1989, rapidamente esmagada pelos canhões que Deng Xiao Ping mandou avançar sobre os estudantes em protesto contra um governo repressivo, vulgo ditadura. A condenação internacional fez da China, na época, um país non grato na comunidade das nações civilizadas. Quem foi o primeiro país europeu a receber um alto responsável chinês num órgão de soberania? Portugal, claro. 

A coisa foi envergonhada. Os líderes parlamentares receberiam o enviado chinês numa sala secundária, sem grande pompa. Na época, princípios dos anos 90, Jaime Gama era o líder parlamentar do PS – naquele papel Jaime Gama era um portento de humor, graça, coragem política e alguma rebeldia. Quem o conhecia antes tinha dificuldade em entender a metamorfose, quem o conheceu depois não acredita nisto. O que decidiu fazer Jaime Gama perante o responsável chinês? Sair da sala. O PS saiu da sala em protesto contra o massacre de Tianamen. O PSD, que estava no governo, ficou. O PCP, partido irmão do PC chinês, também. Nesse dia, tentei pedir uma reação a Almeida Santos. Bati à porta do seu gabinete e o mais delicado dos senadores do PS desatou aos berros comigo. Na realidade, não era comigo que berrava, mas com aquilo a que chamava a “irresponsabilidade” de Jaime Gama. “E Macau? Como se faz agora com Macau?”. Ainda estou a ouvir estas palavras na minha cabeça. Poucos anos depois Tianamen foi esquecido. A ditadura não teve direito a “primavera” e já toma conta de meio Portugal. Portugal e a China negociaram depois pacificamente, poucos anos depois, a transferência de Macau para a China.  

Na China aconteceu um massacre. Em Brasília, pode ter acontecido um golpe político, mas não um golpe militar ou um golpe tout court. O que é que o PCP e o Bloco queriam que Costa fizesse? Gritasse “Fora Temer”? Cortasse relações com o Brasil? É percetível que, na impossibilidade de acabar com a austeridade, a esquerda se dedique a atacar o PM por aquilo que ele nunca poderia fazer: não reconhecer Temer, que quando era vice de Dilma devia ser bom rapaz, e chegou ao poder num processo demente, mas legal à luz da Constituição brasileira. Tão legal que até já mudou a lei para não ser vítima do mesmo. 

Costa devia ir para o Brasil gritar “Fora Temer”, certo?


O que é que o PCP e o Bloco queriam que Costa fizesse? Gritasse “Fora Temer”? Cortasse relações com o Brasil? É percetível que, na impossibilidade de acabar com a austeridade, a esquerda se dedique a atacar o PM por aquilo que ele nunca poderia fazer: não reconhecer Temer


O massacre de Tianamem marcou a minha geração. Foi uma tentativa de “primavera de Pequim”, em 1989, rapidamente esmagada pelos canhões que Deng Xiao Ping mandou avançar sobre os estudantes em protesto contra um governo repressivo, vulgo ditadura. A condenação internacional fez da China, na época, um país non grato na comunidade das nações civilizadas. Quem foi o primeiro país europeu a receber um alto responsável chinês num órgão de soberania? Portugal, claro. 

A coisa foi envergonhada. Os líderes parlamentares receberiam o enviado chinês numa sala secundária, sem grande pompa. Na época, princípios dos anos 90, Jaime Gama era o líder parlamentar do PS – naquele papel Jaime Gama era um portento de humor, graça, coragem política e alguma rebeldia. Quem o conhecia antes tinha dificuldade em entender a metamorfose, quem o conheceu depois não acredita nisto. O que decidiu fazer Jaime Gama perante o responsável chinês? Sair da sala. O PS saiu da sala em protesto contra o massacre de Tianamen. O PSD, que estava no governo, ficou. O PCP, partido irmão do PC chinês, também. Nesse dia, tentei pedir uma reação a Almeida Santos. Bati à porta do seu gabinete e o mais delicado dos senadores do PS desatou aos berros comigo. Na realidade, não era comigo que berrava, mas com aquilo a que chamava a “irresponsabilidade” de Jaime Gama. “E Macau? Como se faz agora com Macau?”. Ainda estou a ouvir estas palavras na minha cabeça. Poucos anos depois Tianamen foi esquecido. A ditadura não teve direito a “primavera” e já toma conta de meio Portugal. Portugal e a China negociaram depois pacificamente, poucos anos depois, a transferência de Macau para a China.  

Na China aconteceu um massacre. Em Brasília, pode ter acontecido um golpe político, mas não um golpe militar ou um golpe tout court. O que é que o PCP e o Bloco queriam que Costa fizesse? Gritasse “Fora Temer”? Cortasse relações com o Brasil? É percetível que, na impossibilidade de acabar com a austeridade, a esquerda se dedique a atacar o PM por aquilo que ele nunca poderia fazer: não reconhecer Temer, que quando era vice de Dilma devia ser bom rapaz, e chegou ao poder num processo demente, mas legal à luz da Constituição brasileira. Tão legal que até já mudou a lei para não ser vítima do mesmo.