Autárquicas já mexem com tudo e com todos


Enquanto Medina patina, há quem admita que Marques Mendes seria uma solução para reconquistar Lisboa e relançar a dinâmica de vitória do PSD


1) Como é evidente, Fernando Medina, o presidente substituto da câmara de Lisboa, agarrou o primeiro pretexto possível para atirar para as calendas as obras tão megalómanas como poeticamente inúteis da segunda circular. Se começasse agora, a intervenção ia arrastar-se durante os meses de inverno e transformaria Lisboa num inferno total, acrescentando mais confusão aquela que  existe com as obras e obrinhas que se multiplicam pela cidade para benefício futuro de meia dúzia de ciclistas e o aparecimento de esplanadas de hamburguerias gourmets, casas de pastas italianas e mais umas lojas internacionais. O que vale a Medina é a falta de um adversário a sério.

2) Enquanto se desenvolve a actual caótica camarária, há quem pense no PSD que Marques Mendes seria o candidato ideal para Lisboa, corporizando uma solução ganhadora e suficientemente abrangente para captar o indispensável eleitorado à esquerda sem o qual não se conquista a capital. Ninguém comenta publicamente esta ideia inorgânica que tem bom fundamento político. Marques Mendes é uma figura permanente e constante da vida político-mediática do país desde os primórdios do cavaquismo. Político inteligente e criativo foi um líder marcante no PSD que foi desapossado do poder por um Luís Filipe Menezes de que história não reza. No último ano, acrescentou à sua grande popularidade e ao seu sucesso profissional na área do direito, o peso e a influência enorme que lhe trouxe o estatuto de grande comunicador dominical no qual rendeu Marcelo Rebelo de Sousa, com a diferença de estar na SIC generalista, estação onde nunca Marcelo poderia entrar por hostilidade manifesta de Balsemão. Nesta sua prestação Mendes apresenta-se com menos desenvoltura do que Marcelo mas veicula mais matéria noticiosa, ultrapassando muitos jornalistas consagrados, o que tende a irritá-los um tanto. Os percursos de Marcelo e Mendes têm, portanto, coincidência na passagem menos feliz pela liderança no PSD e na enorme popularidade. Mas, na verdade são muito diferentes. Marcelo foi um académico com uma intervenção de influência na política sem ser propriamente um “player” directo, enquanto Mendes esteve no terreno. Marques Mendes seria uma importante arma de arremesso que Passos Coelho poderia utilizar para segurar a sua liderança que sairá irremediavelmente fragilizada se não ganhar Lisboa, o Porto ou cidades estratégicas como Coimbra, Leiria ou Faro. O nome de Mendes imporia quase obrigatoriamente uma aceitação do CDS e a retirada da hipótese de Cristas que subalterniza totalmente o PSD, desagradando muito os seus militantes. Acresce que Santana Lopes não está para já entusiasmado com uma recandidatura. Obviamente que na política a vontade dos próprios é o principio e o fim de tudo. Mas a verdade é que para o centro-direita de cariz moderado o nome de Marques Mendes seria uma oportunidade para reconquistar uma câmara cuja importância ultrapassa de longe a de cinco ou seis ministérios e dezenas de autarquias. Ele próprio enquanto analista não poderia ignorar esta equação, se não tivesse de falar de si mesmo. Na teoria de alguns sociais-democratas, se Mendes aceitasse o desafio e ganhasse, o seu passo seguinte poderia muito bem ser Belém, se Marcelo concretizasse a ideia que tem feito passar de que o mais provável é não tentar renovar a permanência em Belém.

3) É preciso verdadeiramente rever a configuração autárquica do país. Veja-se que no Algarve há mais ou menos 500 mil habitantes, sensivelmente o mesmo número do que em Lisboa. Só que enquanto Lisboa tem um único presidente, um Plano Director (PDM), uma Assembleia Municipal e 24 Freguesias, no Algarve há 16 presidentes, 16 PDM, 16 AM, um número incontável de freguesias e uma série de entidades envolvidas no Turismo e no Marketing da região. Para quando uma reforma a sério que não seja seguida de uma contra reforma?

4) Marcelo Rebelo de Sousa produziu domingo uma afirmação relevantíssima mas que teve pouco impacto, o que talvez não seja de estranhar. Disse em síntese o Presidente que há actualmente em Portugal duas visões em confronto e que “isso é bom porque podia haver um pântano de interesses”. Acrescentou que o povo está distendido, apesar de haver crispação na política. Ou seja, no pensamento do Presidente, antes assim do que um Bloco Central. Será mesmo isso?

Jornalista


Autárquicas já mexem com tudo e com todos


Enquanto Medina patina, há quem admita que Marques Mendes seria uma solução para reconquistar Lisboa e relançar a dinâmica de vitória do PSD


1) Como é evidente, Fernando Medina, o presidente substituto da câmara de Lisboa, agarrou o primeiro pretexto possível para atirar para as calendas as obras tão megalómanas como poeticamente inúteis da segunda circular. Se começasse agora, a intervenção ia arrastar-se durante os meses de inverno e transformaria Lisboa num inferno total, acrescentando mais confusão aquela que  existe com as obras e obrinhas que se multiplicam pela cidade para benefício futuro de meia dúzia de ciclistas e o aparecimento de esplanadas de hamburguerias gourmets, casas de pastas italianas e mais umas lojas internacionais. O que vale a Medina é a falta de um adversário a sério.

2) Enquanto se desenvolve a actual caótica camarária, há quem pense no PSD que Marques Mendes seria o candidato ideal para Lisboa, corporizando uma solução ganhadora e suficientemente abrangente para captar o indispensável eleitorado à esquerda sem o qual não se conquista a capital. Ninguém comenta publicamente esta ideia inorgânica que tem bom fundamento político. Marques Mendes é uma figura permanente e constante da vida político-mediática do país desde os primórdios do cavaquismo. Político inteligente e criativo foi um líder marcante no PSD que foi desapossado do poder por um Luís Filipe Menezes de que história não reza. No último ano, acrescentou à sua grande popularidade e ao seu sucesso profissional na área do direito, o peso e a influência enorme que lhe trouxe o estatuto de grande comunicador dominical no qual rendeu Marcelo Rebelo de Sousa, com a diferença de estar na SIC generalista, estação onde nunca Marcelo poderia entrar por hostilidade manifesta de Balsemão. Nesta sua prestação Mendes apresenta-se com menos desenvoltura do que Marcelo mas veicula mais matéria noticiosa, ultrapassando muitos jornalistas consagrados, o que tende a irritá-los um tanto. Os percursos de Marcelo e Mendes têm, portanto, coincidência na passagem menos feliz pela liderança no PSD e na enorme popularidade. Mas, na verdade são muito diferentes. Marcelo foi um académico com uma intervenção de influência na política sem ser propriamente um “player” directo, enquanto Mendes esteve no terreno. Marques Mendes seria uma importante arma de arremesso que Passos Coelho poderia utilizar para segurar a sua liderança que sairá irremediavelmente fragilizada se não ganhar Lisboa, o Porto ou cidades estratégicas como Coimbra, Leiria ou Faro. O nome de Mendes imporia quase obrigatoriamente uma aceitação do CDS e a retirada da hipótese de Cristas que subalterniza totalmente o PSD, desagradando muito os seus militantes. Acresce que Santana Lopes não está para já entusiasmado com uma recandidatura. Obviamente que na política a vontade dos próprios é o principio e o fim de tudo. Mas a verdade é que para o centro-direita de cariz moderado o nome de Marques Mendes seria uma oportunidade para reconquistar uma câmara cuja importância ultrapassa de longe a de cinco ou seis ministérios e dezenas de autarquias. Ele próprio enquanto analista não poderia ignorar esta equação, se não tivesse de falar de si mesmo. Na teoria de alguns sociais-democratas, se Mendes aceitasse o desafio e ganhasse, o seu passo seguinte poderia muito bem ser Belém, se Marcelo concretizasse a ideia que tem feito passar de que o mais provável é não tentar renovar a permanência em Belém.

3) É preciso verdadeiramente rever a configuração autárquica do país. Veja-se que no Algarve há mais ou menos 500 mil habitantes, sensivelmente o mesmo número do que em Lisboa. Só que enquanto Lisboa tem um único presidente, um Plano Director (PDM), uma Assembleia Municipal e 24 Freguesias, no Algarve há 16 presidentes, 16 PDM, 16 AM, um número incontável de freguesias e uma série de entidades envolvidas no Turismo e no Marketing da região. Para quando uma reforma a sério que não seja seguida de uma contra reforma?

4) Marcelo Rebelo de Sousa produziu domingo uma afirmação relevantíssima mas que teve pouco impacto, o que talvez não seja de estranhar. Disse em síntese o Presidente que há actualmente em Portugal duas visões em confronto e que “isso é bom porque podia haver um pântano de interesses”. Acrescentou que o povo está distendido, apesar de haver crispação na política. Ou seja, no pensamento do Presidente, antes assim do que um Bloco Central. Será mesmo isso?

Jornalista