O laicismo radical e a prática religiosa formal


Neste momento temos na Europa (é certo que mais nuns países do que noutros) religião a menos. E laicismo a mais 


“Todas as religiões querem a paz.” Papa Francisco

O sumo pontífice da Igreja de Roma fez talvez aquela que foi a sua melhor intervenção de sempre enquanto responsável máximo da Igreja Católica, em Cracóvia, Polónia, nas recentes jornadas mundiais para a juventude. É uma intervenção para ser percebida e interiorizada por todo o mundo católico e não católico. E sobretudo pelos europeus, que infelizmente são neste momento um dos povos que, à escala mundial, tanto se têm afastado dos valores de vida de inspiração humanista e cristã.

Faço parte do grupo dos portugueses e dos europeus que consideram que, nas últimas décadas, na Europa, temos vindo a viver uma crise de valores, entre outras razões por obsessivamente termos vindo a cavalgar a onda do laicismo radical, materializada por decisões políticas e jurídicas ao arrepio da nossa tradição, e também condição presente de povo que, nos seus sentimentos de identidade e de pertença, teve e tem muito do que foi e é a religião católica e a nossa tradição cristã. E de entre outras coisas sobressai cada vez mais até dentro da Igreja de Roma que nós, povos europeus, somos dos que se têm vindo a deixar condicionar mais por uma espécie de laicismo radical que cada vez mais parece aceitar apenas uma prática religiosa formal. Que não a estimula. Antes pelo contrário. Cerceia, condiciona-a. Desvaloriza-a. Política e socialmente. O exemplo de França é claro. País do “Charlie Hebdo”, onde os cristãos nunca verdadeiramente se indignaram com o radicalismo malcriado em relação a vários dos seus principais símbolos, território europeu onde se proibiram quer os crucifixos, quer os véus, quer agora os fatos de banho (burquíni) e tudo o que diga respeito à religião enquanto instrumentos distintivos. Religião enquanto instrumento de reencontro, de paz, de perdão, de sentido de vida individual e coletiva, parece cada vez mais não ser bem-vista. Antes apenas suportada. Acima de tudo, formalmente. A nossa Europa (e nesse sentido, os EUA não entraram neste laicismo radical), ao arrepio de outros continentes, parece muitas vezes menosprezar a religião. E eu direi mesmo provocatoriamente. Neste momento temos na Europa (é certo que mais nuns países do que noutros) religião a menos. E laicismo a mais. E como já referiu Eduardo Lourenço, ensaísta e pensador insuspeito nestas matérias, a Europa faz o contrário do resto do mundo. Ou seja, enquanto as pessoas de outras geografias procuram muitas das respostas para o sentido das suas vidas na religião, na Europa essa tendência não acontece. Antes pelo contrário. Francisco, enquanto Papa, não se tem cansado de dizer que a guerra no mundo não é de religiões. É antes de fanatismos. E tem ido mais longe, afirmando “que o mundo está em guerra porque perdeu a paz”. O choque das civilizações de Samuel Huntington ajuda-nos ainda hoje a entender, entre várias coisas, que as religiões são instrumentos de paz, em certos sentidos mais do que o choque das civilizações. Porque vários dos seus elementos distintivos se nos impõem. A imagem de Francisco, sozinho a entrar nos portões de Auschwitz, em silêncio, deve servir-nos de inspiração enquanto europeus. E deve fazer-nos pensar se não temos ido longe demais na desestruturação da religião na Europa, na cruzada laicista e na quase instigação a uma espécie de prática religiosa consentida e formalmente assegurada. Os seus instigadores esquecem-se que a religião não é passado. É presente. E cada vez mais deverá ser futuro. No caso europeu, já Bento xvi nos tinha vindo tentar despertar as consciências, chamando a atenção para a espiral do relativismo.

No caso português, a liberdade religiosa, plural e praticada de forma até por vezes conjunta, deve inspirar-nos a ver na religião algo de positivo e integrador, e não o contrário. E nesse sentido, as decisões que os poderes públicos, ao nível dos vários órgãos de soberania, tomam não deverão deixar de atender à realidade portuguesa. E não fazerem de conta que a modernidade é sinónimo de menosprezo pela religião, sobretudo católica. Portugal tem uma história muito positiva ao nível da sua relação enquanto povo e país com a religião, sendo atualmente um bom exemplo de diálogo inter-religioso no quadro europeu. Apesar de várias investidas laicistas de uma parte política minoritária da sociedade portuguesa. Espero que esse património positivo do nosso país não venha a ser posto em causa, porque a Igreja Católica portuguesa tem um trabalho notável, diário, junto dos portugueses, sobretudo junto das classes sociais mais desprotegidas e até envelhecidas.


O laicismo radical e a prática religiosa formal


Neste momento temos na Europa (é certo que mais nuns países do que noutros) religião a menos. E laicismo a mais 


“Todas as religiões querem a paz.” Papa Francisco

O sumo pontífice da Igreja de Roma fez talvez aquela que foi a sua melhor intervenção de sempre enquanto responsável máximo da Igreja Católica, em Cracóvia, Polónia, nas recentes jornadas mundiais para a juventude. É uma intervenção para ser percebida e interiorizada por todo o mundo católico e não católico. E sobretudo pelos europeus, que infelizmente são neste momento um dos povos que, à escala mundial, tanto se têm afastado dos valores de vida de inspiração humanista e cristã.

Faço parte do grupo dos portugueses e dos europeus que consideram que, nas últimas décadas, na Europa, temos vindo a viver uma crise de valores, entre outras razões por obsessivamente termos vindo a cavalgar a onda do laicismo radical, materializada por decisões políticas e jurídicas ao arrepio da nossa tradição, e também condição presente de povo que, nos seus sentimentos de identidade e de pertença, teve e tem muito do que foi e é a religião católica e a nossa tradição cristã. E de entre outras coisas sobressai cada vez mais até dentro da Igreja de Roma que nós, povos europeus, somos dos que se têm vindo a deixar condicionar mais por uma espécie de laicismo radical que cada vez mais parece aceitar apenas uma prática religiosa formal. Que não a estimula. Antes pelo contrário. Cerceia, condiciona-a. Desvaloriza-a. Política e socialmente. O exemplo de França é claro. País do “Charlie Hebdo”, onde os cristãos nunca verdadeiramente se indignaram com o radicalismo malcriado em relação a vários dos seus principais símbolos, território europeu onde se proibiram quer os crucifixos, quer os véus, quer agora os fatos de banho (burquíni) e tudo o que diga respeito à religião enquanto instrumentos distintivos. Religião enquanto instrumento de reencontro, de paz, de perdão, de sentido de vida individual e coletiva, parece cada vez mais não ser bem-vista. Antes apenas suportada. Acima de tudo, formalmente. A nossa Europa (e nesse sentido, os EUA não entraram neste laicismo radical), ao arrepio de outros continentes, parece muitas vezes menosprezar a religião. E eu direi mesmo provocatoriamente. Neste momento temos na Europa (é certo que mais nuns países do que noutros) religião a menos. E laicismo a mais. E como já referiu Eduardo Lourenço, ensaísta e pensador insuspeito nestas matérias, a Europa faz o contrário do resto do mundo. Ou seja, enquanto as pessoas de outras geografias procuram muitas das respostas para o sentido das suas vidas na religião, na Europa essa tendência não acontece. Antes pelo contrário. Francisco, enquanto Papa, não se tem cansado de dizer que a guerra no mundo não é de religiões. É antes de fanatismos. E tem ido mais longe, afirmando “que o mundo está em guerra porque perdeu a paz”. O choque das civilizações de Samuel Huntington ajuda-nos ainda hoje a entender, entre várias coisas, que as religiões são instrumentos de paz, em certos sentidos mais do que o choque das civilizações. Porque vários dos seus elementos distintivos se nos impõem. A imagem de Francisco, sozinho a entrar nos portões de Auschwitz, em silêncio, deve servir-nos de inspiração enquanto europeus. E deve fazer-nos pensar se não temos ido longe demais na desestruturação da religião na Europa, na cruzada laicista e na quase instigação a uma espécie de prática religiosa consentida e formalmente assegurada. Os seus instigadores esquecem-se que a religião não é passado. É presente. E cada vez mais deverá ser futuro. No caso europeu, já Bento xvi nos tinha vindo tentar despertar as consciências, chamando a atenção para a espiral do relativismo.

No caso português, a liberdade religiosa, plural e praticada de forma até por vezes conjunta, deve inspirar-nos a ver na religião algo de positivo e integrador, e não o contrário. E nesse sentido, as decisões que os poderes públicos, ao nível dos vários órgãos de soberania, tomam não deverão deixar de atender à realidade portuguesa. E não fazerem de conta que a modernidade é sinónimo de menosprezo pela religião, sobretudo católica. Portugal tem uma história muito positiva ao nível da sua relação enquanto povo e país com a religião, sendo atualmente um bom exemplo de diálogo inter-religioso no quadro europeu. Apesar de várias investidas laicistas de uma parte política minoritária da sociedade portuguesa. Espero que esse património positivo do nosso país não venha a ser posto em causa, porque a Igreja Católica portuguesa tem um trabalho notável, diário, junto dos portugueses, sobretudo junto das classes sociais mais desprotegidas e até envelhecidas.