Abafaram a lista de avenças do GES a políticos e jornalistas?


Houve, como continua certamente a haver, quem esteja condicionado por interesses no exercício das suas funções, quem tenha fugido às obrigações fiscais e quem conte com a candura da sociedade portuguesa ou com a ineficiência do sistema judicial, mas permitir o abafamento do caso das avenças por via da voragem noticiosa que, sem critério, dita…


Em breve decorrerão quatro meses (quatro!) desde que um semanário do consórcio de órgãos de comunicação social associados às revelações dos Papéis do Panamá – a maior investigação jornalística de sempre! – anunciou urbi et orbi que havia políticos e jornalistas avençados pagos pelo saco azul do Grupo Espírito Santo, a ES Enterprises. E quatro meses depois (quatro!), a higiénica divulgação da lista de políticos, funcionários públicos, gestores, empresários e jornalistas constantes da folha de pagamentos através de um paraíso fiscal não aconteceu. 

O que terá feito esboroar toda a gigantesca encenação mediática montada em torno das revelações bombásticas dos Papéis do Panamá que tanto prometiam? A falta de zelo e de amor à profissão dos jornalistas envolvidos na investigação? O poder dos interesses em presença perante a possibilidade da divulgação dos nomes de quem estava condicionado pelo Grupo Espírito Santo? O embuste entre a documentação prometida e a que foi disponibilizada? A verdade é que quatro meses depois (quatro!), o assunto morreu, nada acontece e quase ninguém se indigna.

Houve, como continua certamente a haver, quem esteja condicionado por interesses no exercício das suas funções, quem tenha fugido às obrigações fiscais e quem conte com a candura da sociedade portuguesa ou com a ineficiência do sistema judicial, mas permitir o abafamento do caso das avenças por via da voragem noticiosa que, sem critério, dita o que conta e o que não conta, é demais. Uma vergonha!

A anunciada ponta do iceberg, que tanto prometia, gelou os ânimos da investigação jornalística, esmoreceu a ambição de mobilizar as sociedades e os Estados para a regulação dos paraísos fiscais e desembocou num marasmo impróprio das sociedades de informação modernas, de uma cidadania ativa e de um Estado de direito em que o cumprimento das obrigações fiscais é uma componente importante para o modelo de concretização das funções do Estado.

Abafaram a lista das avenças do GES a políticos e a jornalistas, razão para os cidadãos exigirem a sua divulgação integral. Não é voyeurismo, é uma questão de higiene social, antes de poder ser uma questão fiscal e judicial. Não é coscuvilhice, é contribuir para que não se consolide a ideia de que não são todos iguais, porque não é assim.

Enquanto persistir este défice de exigência, de transparência e de separação entre o exercício de funções públicas ou o dever de informar e os interesses instalados ou em instalação vão persistir situações vergonhosas, sejam ou não divulgadas. Quem tanto sofreu com a austeridade nos quatro anos de governos PSD/CDS, quem continua a não ser tratado com o devido respeito por uma máquina fiscal e por serviços do Estado investidos no desespero da arrecadação de receita e quem cumpre as suas obrigações não pode deixar de se indignar perante tudo isto.

E por falar em estados de alma, ainda que menos sérios quando confrontados com a realidade das coisas: Portugal tem uma solução governativa em que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (também o PEV) são uma espécie de calçadeira do governo PS e, no entanto, a coordenadora do BE, Catarina Martins, veio afirmar sobre a criação da designada geringonça que “todos os dias me arrependo. Faz parte”. Tem muita piada este esforço de demarcação em vésperas da negociação do Orçamento do Estado para 2017. É que quando o Bloco antevê medidas positivas do governo em estado de euforia não se denota nenhum tipo de arrependimento, é puro oportunismo, por vezes eivado de populismo. Nesta disputa pelo anúncio do “bife do lombo”, alguém apresentará os ossos duros de roer. O PCP não ficou atrás e anunciou que votará “contra medidas de empobrecimento no Orçamento do Estado para 2017”. A uns e a outros, este é o tempo para colocarem em cima da mesa as reivindicações que fazem no plano local, nas autarquias, nas alegadas comissões de utentes e nas moções e petições que apenas sublinham a sua hipocrisia política. É que não é sério apoiar o governo em Lisboa, no parlamento, à babugem do “bife do lombo”, e depois tentar construir a ideia local de que são os grandes defensores daquilo que não defenderam quando estavam a discutir o poder. Este é o momento: moções do comité central debitadas para as células, para apresentação nas assembleias de freguesia e nas assembleias municipais, uni-vos!

É que isso de querer só o “bife do lombo” era coisa dos donos disto tudo e já ninguém acredita ser possível um registo assim.

Notas finais

Areia nos pés – Com o investimento que é feito na prática desportiva, só mesmo a excecionalidade dos nossos atletas pode conduzir a resultados excecionais. Para colher é preciso semear, também no desporto. Aos atletas do projeto olímpico, obrigado pelos sacrifícios, pelo esforço e pela participação.

Areia nas virilhas – Entre um líder do PSD imobilizado pelos fantasmas da governação passada, incapaz de fazer um restart, e uma líder do CDS mobilizada para fazer a diferença em relação ao ex-parceiro de governação com produções mediáticas apostadas mais na forma do que no conteúdo, vai assim a oposição: “poucochinha”.
Areia na engrenagem – A gestão do dossiê da CGD vai entrar para os anais da história como uma das maiores trapalhadas, num cocktail de ingenuidade, incompetência e falta de noção de que não estamos sozinhos. Parece que estará a chegar ao fim a novela, com baixas e danos de credibilidade.

Areia fina – O bravo esforço desen-volvido pelas mulheres e pelos homens do dispositivo de combate aos incêndios florestais.
 
Escreve à quinta-feira


Abafaram a lista de avenças do GES a políticos e jornalistas?


Houve, como continua certamente a haver, quem esteja condicionado por interesses no exercício das suas funções, quem tenha fugido às obrigações fiscais e quem conte com a candura da sociedade portuguesa ou com a ineficiência do sistema judicial, mas permitir o abafamento do caso das avenças por via da voragem noticiosa que, sem critério, dita…


Em breve decorrerão quatro meses (quatro!) desde que um semanário do consórcio de órgãos de comunicação social associados às revelações dos Papéis do Panamá – a maior investigação jornalística de sempre! – anunciou urbi et orbi que havia políticos e jornalistas avençados pagos pelo saco azul do Grupo Espírito Santo, a ES Enterprises. E quatro meses depois (quatro!), a higiénica divulgação da lista de políticos, funcionários públicos, gestores, empresários e jornalistas constantes da folha de pagamentos através de um paraíso fiscal não aconteceu. 

O que terá feito esboroar toda a gigantesca encenação mediática montada em torno das revelações bombásticas dos Papéis do Panamá que tanto prometiam? A falta de zelo e de amor à profissão dos jornalistas envolvidos na investigação? O poder dos interesses em presença perante a possibilidade da divulgação dos nomes de quem estava condicionado pelo Grupo Espírito Santo? O embuste entre a documentação prometida e a que foi disponibilizada? A verdade é que quatro meses depois (quatro!), o assunto morreu, nada acontece e quase ninguém se indigna.

Houve, como continua certamente a haver, quem esteja condicionado por interesses no exercício das suas funções, quem tenha fugido às obrigações fiscais e quem conte com a candura da sociedade portuguesa ou com a ineficiência do sistema judicial, mas permitir o abafamento do caso das avenças por via da voragem noticiosa que, sem critério, dita o que conta e o que não conta, é demais. Uma vergonha!

A anunciada ponta do iceberg, que tanto prometia, gelou os ânimos da investigação jornalística, esmoreceu a ambição de mobilizar as sociedades e os Estados para a regulação dos paraísos fiscais e desembocou num marasmo impróprio das sociedades de informação modernas, de uma cidadania ativa e de um Estado de direito em que o cumprimento das obrigações fiscais é uma componente importante para o modelo de concretização das funções do Estado.

Abafaram a lista das avenças do GES a políticos e a jornalistas, razão para os cidadãos exigirem a sua divulgação integral. Não é voyeurismo, é uma questão de higiene social, antes de poder ser uma questão fiscal e judicial. Não é coscuvilhice, é contribuir para que não se consolide a ideia de que não são todos iguais, porque não é assim.

Enquanto persistir este défice de exigência, de transparência e de separação entre o exercício de funções públicas ou o dever de informar e os interesses instalados ou em instalação vão persistir situações vergonhosas, sejam ou não divulgadas. Quem tanto sofreu com a austeridade nos quatro anos de governos PSD/CDS, quem continua a não ser tratado com o devido respeito por uma máquina fiscal e por serviços do Estado investidos no desespero da arrecadação de receita e quem cumpre as suas obrigações não pode deixar de se indignar perante tudo isto.

E por falar em estados de alma, ainda que menos sérios quando confrontados com a realidade das coisas: Portugal tem uma solução governativa em que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (também o PEV) são uma espécie de calçadeira do governo PS e, no entanto, a coordenadora do BE, Catarina Martins, veio afirmar sobre a criação da designada geringonça que “todos os dias me arrependo. Faz parte”. Tem muita piada este esforço de demarcação em vésperas da negociação do Orçamento do Estado para 2017. É que quando o Bloco antevê medidas positivas do governo em estado de euforia não se denota nenhum tipo de arrependimento, é puro oportunismo, por vezes eivado de populismo. Nesta disputa pelo anúncio do “bife do lombo”, alguém apresentará os ossos duros de roer. O PCP não ficou atrás e anunciou que votará “contra medidas de empobrecimento no Orçamento do Estado para 2017”. A uns e a outros, este é o tempo para colocarem em cima da mesa as reivindicações que fazem no plano local, nas autarquias, nas alegadas comissões de utentes e nas moções e petições que apenas sublinham a sua hipocrisia política. É que não é sério apoiar o governo em Lisboa, no parlamento, à babugem do “bife do lombo”, e depois tentar construir a ideia local de que são os grandes defensores daquilo que não defenderam quando estavam a discutir o poder. Este é o momento: moções do comité central debitadas para as células, para apresentação nas assembleias de freguesia e nas assembleias municipais, uni-vos!

É que isso de querer só o “bife do lombo” era coisa dos donos disto tudo e já ninguém acredita ser possível um registo assim.

Notas finais

Areia nos pés – Com o investimento que é feito na prática desportiva, só mesmo a excecionalidade dos nossos atletas pode conduzir a resultados excecionais. Para colher é preciso semear, também no desporto. Aos atletas do projeto olímpico, obrigado pelos sacrifícios, pelo esforço e pela participação.

Areia nas virilhas – Entre um líder do PSD imobilizado pelos fantasmas da governação passada, incapaz de fazer um restart, e uma líder do CDS mobilizada para fazer a diferença em relação ao ex-parceiro de governação com produções mediáticas apostadas mais na forma do que no conteúdo, vai assim a oposição: “poucochinha”.
Areia na engrenagem – A gestão do dossiê da CGD vai entrar para os anais da história como uma das maiores trapalhadas, num cocktail de ingenuidade, incompetência e falta de noção de que não estamos sozinhos. Parece que estará a chegar ao fim a novela, com baixas e danos de credibilidade.

Areia fina – O bravo esforço desen-volvido pelas mulheres e pelos homens do dispositivo de combate aos incêndios florestais.
 
Escreve à quinta-feira