Depois de aterrar em Quelimane foram cerca de 2 mil quilómetros que me levaram a Mocuba, Alto-Molócue, Nampula, Monapo, Ilha de Moçambique e Nacala.
Aqui, ao contrário de Maputo, no essencial não sei o que mudou. Apenas sei o que vi pela primeira vez: um país diferente. Mais agitado, mais rico, mais confuso, mais colorido e, ainda assim, muito tranquilo, mais sorridente e caloroso – em tudo diferente.
Muçulmanos e cristãos (nas mais diversas variantes) convivem sem restrições. A paisagem é aterradora pela beleza que nos envolve. São quilómetros a perder de vista apenas interrompidos por algumas elevações por onde o sol se perde ao entardecer. De todos estes locais, o que mais apaixonou foi a Ilha de Moçambique. Talvez pelo misto de beleza e nostalgia que todas as construções do período colonial impõem. As pequenas ruelas onde outrora vagueavam os navegadores, o restaurado palácio do governador, o imponente forte que continua de sentinela no extremo da ilha e o cais de embarque dos escravos que vinham de norte dão-nos uma pequena ideia do que seria aquele pequeno punhado de terra em 1498, quando Vasco da Gama ali chegou.
Não foi à toa que a capital de Moçambique ali permaneceu até 1898, altura em que foi transferida para Lourenço Marques – hoje, a cidade do Maputo. E não foi apenas pela sua importância estratégica. A sua envolvente, a predominância muçulmana que faz fervilhar a atividade comercial e a aparentemente inesgotável fonte de recursos naturais que caracterizam o norte de Moçambique terão pesado na escolha.
Hoje restam os traços da presença portuguesa e de alguns resistentes que, por amor, se vão dedicando ao pequeno comércio, sobretudo ligado ao turismo. A predominância dos dias de hoje é indiana e chinesa, com tudo o que isso tem de bom e de mau.
Um pouco mais a norte, numa lenta viagem de barco, chegamos às Chocas, um pequeno paraíso de águas cristalinas, areias macias decoradas com aromas e paladares de uma culinária que perde os traços da origem de tão mesclada estar.
Conheci o presidente da ilha, com quem passei horas à conversa. Um homem determinado e ciente do que quer para o seu “condado”. Mas também um homem agastado pela revolução prometida que tarda em chegar.
De volta a Maputo, para a reunião de ministros da CPLP, com ânimo renovado sou confrontado com palavras de desilusão dos colegas de Moçambique porque Portugal e Brasil não participarão ao mais alto nível. É um amargo de boca grande para quem tanto se esforçou para esta reunião acontecer. Não será por isso que não se avançará com o projeto de definir uma Agenda Digital para a CPLP; contudo, não deixa de ser dececionante.
São marcas que ficam. E não são boas como as que me transmitiram as pessoas da ilha em relação ao governador-geral de Moçambique Baltazar Rebelo de Sousa, pai do nosso atual Presidente da República, ainda hoje respeitado e elogiado. Para a semana logo vos digo o resultado.